Astróloga lança primeiro livro e vira best-seller de cara: “Empurrão cósmico”
Isabella Mezzadri falou a VEJA sobre como expandiu conhecimentos em astrologia por meio da ficção

Após um princípio de burnout no trabalho, uma desilusão amorosa das boas e de sentir que não está vivendo a vida como gostaria, Alissa, uma jovem de 29 anos, decide, em um ato impulsivo, comprar uma passagem para Londres. Serão apenas 20 dias de viagem, mas Alissa está determinada a encontrar um novo caminho e a esclarecer para si mesma o que quer fazer da vida daqui pra frente.
Essa é a história de O Mapa dos Encontros, romance de estreia de Isabella Mezzadri, 31, astróloga especializada em astrocartografia, ramo da astrologia que conecta o mapa astral ao mapa-mundi. “Você consegue entender melhor a sua relação com diferentes lugares, consegue prever o tipo de experiência que pode ter ao viajar para certos destinos e também quais partes de você podem despertar nesses locais”, explica sobre a técnica Isabella, que é a primeira brasileira a receber uma certificação oficial no seguimento.
No primeiro dia de pré-venda, O Mapa dos Encontros foi o livro mais vendido na Amazon. Quando foi lançado oficialmente, em 10 de junho, conquistou o primeiro lugar da lista de mais vendidos de VEJA na semana de 9 de junho a 15 de junho, e da Bienal do Livro do Rio, onde Isabella fez parte do painel Geração Multipotente, uma mesa com autores que exercem também outras profissões.
Desde sempre, a astrologia esteve em torno do primeiro romance de Isabella. O contrato com a editora Paralela, que o publicou, foi assinado na linha de Mercúrio MC, linha em que habilidades intelectuais ganham espaço e surge também o reconhecimento por algum conhecimento específico.
Assim como sua personagem Alissa, que inicia a história trabalhando em uma agência publicitária, Isabella viveu essa experiência, mas deixou o emprego por se sentir presa e por querer fazer algo que realmente ajudasse as pessoas. Ela viu a chance perfeita na astrologia – ramo do qual tem contato desde sempre por influência de seu pai, o também astrólogo Luís Louceiro — e, em uma viagem, acabou esbarrando com o conceito de astrocartografia, descobrindo uma nova possibilidade de carreira.
Em entrevista a VEJA, Isabella contou sobre o que a levou a se tornar uma escritora, o desejo de fazer o livro virar série e de ensinar astrocartografia por meio da ficção. Confira:
Em que momento decidiu que queria se arriscar na literatura? Foi no fim de 2020. Eu estava num momento de muita sobrecarga, tentando dar conta do trabalho e da maternidade. Estava à beira de um burnout e eu acabei decidindo tirar um tempo off do Instagram. Na segunda semana, uma amiga querida me mandou uma mensagem falando: “Isa, eu estava fazendo uma meditação hoje cedo e nessa meditação me veio a mensagem de que o seu tempo off é para escrever um livro”. Isso ficou sendo elaborado dentro de mim e eu fiquei com a pulga atrás da orelha. E aí fui lembrando que sempre falei, brincando, que um dia queria ensinar astrologia através da ficção, fosse um livro ou uma série. Fui refletindo sobre isso e, no início de 2021, decidi que escreveria meu livro.
Teve medo desse desafio? Eu me questionei em alguns momentos, porque achava que as pessoas esperariam de mim alguma coisa técnica, já que ainda não existe um livro técnico de astrocartografia aqui no Brasil. Só que, no meu coração, eu sentia o chamado para ser ficção, justamente porque, por mais incríveis que os livros técnicos sejam, muitas vezes eles viram livros de consulta, que os astrólogos vão estudar, mas o público em geral não vai se animar tanto quanto se animaria com um romance envolvente. Eu queria ajudar esses conhecimentos a chegarem mais longe.
Como escritora de primeira viagem, como se sentiu durante o processo criativo do livro? Eu disse ‘sim’ para a ideia no início de 2021, e o livro saiu agora em 2025, quatro anos depois. Na maior parte desse período eu não consegui escrever de fato. Leva um tempo para entender como é o nosso processo criativo. Eu estava habituada a questões que eram muito rápidas, e o livro é um outro tipo de processo. A maior parte dele foi escrito em 2023 e 2024, principalmente em 2024. E hoje eu fico muito feliz por ter levado esse tempo e por não ter sido antes. Eu escrevi essa história em sua maior parte durante o meu retorno de Saturno, que acontece entre os 28, 29 e 30 anos. Foi muito simbólico escrever nesse período, porque ele muitas vezes é intenso, mas ensina muito. Me trouxe muita cura também, em vários sentidos. Até o meu TDAH (transtorno do déficit de atenção com hiperatividade) eu descobri por causa do livro, durante o processo de escrita.
A história mudou muito durante esses quatro anos? Muitas coisas mudaram, e eu acho que o tempo ajudou nisso. Ele ajudou a lapidar e adicionar mais camadas à história. Tem certas nuances que, pela bênção de ter tido esse tempo, eu consegui inserir. Mas, desde o começo, eu já tinha algumas questões definidas. Eu sabia que a protagonista faria uma viagem de autodescoberta, passando por diferentes lugares. Ela é paulistana, mas mora no Rio, então a primeira parte se passaria no Rio. A segunda se passaria em Londres. E ela adquire essa coragem de comprar a passagem promocional e vai, mas ela nem imagina que vai passar por outros lugares no mundo e no Brasil também.
Quais aspectos da astrologia usou no enredo? Algo que eu tinha muito claro na minha mente é que eu queria que ela fosse sagitariana, porque é um signo muito relacionado com viagens. O mapa astral da Alissa foi uma das primeiras questões que eu defini e também alguns lugares que eu gostaria que estivessem na história. Eu defini um mapa astral e um mapa astrocartográfico para ela, queria que certas linhas dela passassem em certos lugares, para que algumas partes do livro pudessem se passar nesses locais. Todos os acontecimentos em cada parte têm uma conexão com a linha planetária que passa naquele determinado lugar de acordo com a astrocartografia.
Como por exemplo? No Rio, ela mora numa linha de Marte MC. Ela está super ansiosa e em uma crise existencial no começo do livro. Ela vive uma vida muito acelerada, tem uma relação muito difícil com o chefe, que é uma pessoa bem tóxica. Esse próprio impulso de comprar passagem promocional é muito Marte, várias questões nessa parte são Marte. São questões que vão ser importantes tanto para o desenvolvimento dela como para o aprofundamento da relação dela com o par romântico, que ela vai encontrar em todos os lugares por onde ela passa no decorrer do livro. A pessoa que ler o livro vai aprender sobre astrologia e astrocartografia também.
O que o mapa astral da Alissa dizia sobre ela e essa “impulsividade” em viajar para Londres repentinamente? Tem essa questão de que ela é sagitariana e tem alguns planetas em Sagitário, outros em Escorpião. Ela tem muitos planetas na casa 9 do mapa astral dela e a casa 9 fala sobre viagens, por isso ela sempre mostrou que tinha essa vontade de viajar. Então, no momento em que tudo colapsa na vida dela e ela se vê sem nada a segurando, ela cria coragem de fazer esse movimento. Também tem o fato de que ela mora nessa linha de Marte. Muitas vezes, quando há uma viagem para uma linha de Marte, tende a ser uma viagem que a gente decide no impulso e podem ser viagens mais dinâmicas. Outras razões justificam o comportamento impulsivo dela, mas elas vão ser reveladas no decorrer da leitura.
Em alguns momentos do livro você tenta conversar também com pessoas que não entendem muito sobre astrologia e astrocartografia. Dessas pessoas, tem tido uma recepção positiva? Sim, tem sido muito interessante perceber esses relatos. Para quem chega nesse livro sem saber que vai ser um livro que ensina sobre astrologia, pode até se surpreender, porque de fato ele tem bastante astrologia, não dá para negar. Mas tem sido muito interessante observar que tanto quem já tem certos conhecimentos como quem não tinha quase nenhum, tem me falado que ficou fascinado ou que consolidou certas questões, ou ainda que gostou muito da parte de astrocartografia. Tem uma parte em que a Alissa brinca de fazer uma leitura do mapa astral do par romântico dela. Várias pessoas vieram me falar: “Nossa, eu já quero uma leitura do meu mapa também”. Então, eu fico muito feliz por ver que está despertando exatamente o que eu gostaria, das pessoas quererem ter suas vidas impulsionadas pela astrologia.
O livro também traz um tom de empoderamento. Quando Alissa decide mudar de vida, ela pensa em honrar sua avó, uma mulher que não teve a mesma oportunidade de escolher o próprio caminho. Por que falar disso em um livro sobre astrologia? Muitas das nossas ancestrais e mulheres de hoje em dia ainda não têm poder de escolha. As mulheres crescem sendo ensinadas a agradar, a não se posicionarem, a serem passivas, tranquilas. É comum ir se anestesiando cada vez mais, sem perceber que está deixando de lado o que no fundo sempre elas sempre quiseram. Isso vai acontecendo por várias razões, tanto profissionalmente quanto pessoalmente. Eu quis trazer no livro exemplos em todos esses sentidos porque as pessoas se enxergam neles. Eu já recebi um relato de uma mulher que estava em um relacionamento tóxico há muitos anos e que teve coragem de sair dessa relação depois de terminar a leitura do livro. Eu quis muito fazer com que esse livro fosse um empurrão cósmico de coragem, seja a nível pessoal, profissional, e até de saúde mental, porque é um livro que tem uma construção importante relacionada à saúde mental.
A Alissa é uma mulher bem-sucedida, mas infeliz. Por que escolheu essa abordagem para a história da protagonista? Às vezes a gente desvia do percurso. Não só por fazer escolhas que sejam desalinhadas com a gente, mas também porque precisamos experienciar questões diferentes para descobrir o que queremos e o que não queremos. No caso da Alissa é mais grave, ela está numa vida muito acelerada. Eu já passei por isso também. Coloquei essa inspiração de uma experiência que tive em agência. Muitas pessoas podem estar vivenciando isso também, só que às vezes estão pensando em como vai pesar no currículo se elas saírem, ou pensam que precisam insistir um pouco mais porque finalmente vão ter um aumento, como a Alissa. Ou pensam que seria ingrato da parte delas achar aquilo ruim, sendo que tantas pessoas gostariam de ter aquele emprego ou ganhar aquele salário. Eu quis trazer esse exemplo justamente para mostrar que não é loucura sentir que algo está errado.
Quais são os próximos planos com o livro? Estou planejando uma turnê por alguns estados do Brasil. Quero muito poder encontrar leitoras e leitores de outros lugares, porque essa troca é realmente muito especial. Meu sonho é realmente fazer acontecer uma adaptação do livro para série, e não é um projeto tão simples porque envolve bastante viagem, mas eu já tinha esse desejo no meu coração e ver a repercussão que tem acontecido nessas últimas semanas me dá muita esperança de que isso vai acontecer. Venho me preparando para isso há algum tempo também. Eu tendo a ser muito intencional com os meus objetivos e gosto muito de definir e ter muita certeza de que aquilo vai dar certo, vai fluir. Já tem um ano, um ano e meio mais ou menos que eu venho fazendo alguns cursos de roteiro, porque eu quero muito ser uma das roteiristas da adaptação em série. Tenho muita vontade de escrever outros romances também, para seguir transmitindo inspiração e despertando coragem em cada vez mais pessoas através de novas histórias.
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