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As inspirações punks de ‘Cruella’, de Vivienne Westwood ao The Clash

Movimento que marcou a história da música e da moda tempera o novo filme da Disney, que estreia nesta quinta (27) nos cinemas e sexta (28) no Disney+

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 27 Maio 2021, 09h00

O ano de 1974 foi no mínimo turbulento na história dos Estados Unidos. O desgaste da longa Guerra do Vietnã e o infame governo do presidente Richard Nixon, que renunciaria naquele ano, serviram de cenário para o surgimento de um movimento cultural que exalava rebeldia. Seus representantes não só eram contrários a qualquer autoridade vigente, como queriam se descolar de tudo que estava em voga, dos hippies ao rock progressivo. O que começou na cena underground com bandas como New York Dolls e Ramones, logo se tornaria mainstream e ganharia dimensão amplificada na Inglaterra, graças aos hits endiabrados de Sex Pistols e The Clash. Nascia o punk.

Nesta quinta-feira, o movimento que fazia pais torcerem o nariz será apresentado para uma nova geração de adolescentes e crianças no filme Cruella, em cartaz nos cinemas e na plataforma Disney+ para compra. Claro, de uma forma mais pop e açucarada, as inspirações do punk se fazem presentes na deliciosa trilha sonora e no escandaloso figurino da vilã que ganha no longa ares de princesa roqueira — ela, também, uma rebelde.

Confira abaixo personalidades e momentos marcantes que popularizaram o punk pelo mundo:

Malcolm McLaren e Sex Pistols, os marqueteiros do punk

Embora a essência do movimento no Reino Unido seja a mesma dos Estados Unidos, ele ganhou contornos mais anárquicos, rebeldes e, ironicamente, mais comerciais em terras britânicas — não à toa, Cruella é ambientado na Londres dos anos 70. A responsabilidade por popularizar o punk no país veio do empresário Malcolm McLaren, que ajudou a criar o Sex Pistols. A gênese da banda está intimamente ligada ao endereço da King’s Road, rua no bairro do Chelsea que abrigou duas lojas de roupa: a Acme Attractions e Too Fast To Live, Too Young to Die, depois renomeada de SEX – essa última, ligada a McLaren e sua esposa, Vivienne Westwood. Ao perceber que o local havia se tornado ponto de encontro dos adolescentes rebeldes britânicos, McLaren uniu os mais escandalosos deles numa nova banda, o Sex Pistols. Em seguida, organizou aparições públicas do grupo visando o máximo de exposição na mídia, quase sempre terminando em confusões ou prisões. Em 1977, o grupo lançou a iconoclástica God Save the Queen, uma das músicas mais famosas do punk e que critica a monarquia britânica, em plena festa do Jubileu de Elizabeth II.

Vivienne Westwood, a estilista que fez do punk uma moda da alta costura

Em 1971, Vivienne Westwood e seu então marido Malcolm McLaren abriram a boutique SEX em Londres, na 430 Kings Road. As roupas produzidas por ela eram chocantes e extravagantes, com cores fortes, estampas variadas e recortes assimétricos e pontiagudos, estilo que se estabeleceu como a base do jeito de se vestir dos seguidores do punk. Havia também o look despojado, de calças jeans rasgadas e camisetas com frases provocativas, entre elas a que famosamente estampava a pakavra Destroy (destrua, em português), misturada a ilustrações da insígnia do nazismo, de Cristo e da rainha Elizabeth II. Alusão ao desejo punk de se livrar da política, do autoritarismo e da religião, a peça hoje pode ser adquirida pela bagatela de 800 euros na loja oficial da estilista. O look alternativo chegou às passarelas pelas mãos de Vivienne, que se estabeleceu como uma requisitada profissional de alta-costura. Segundo a figurinista Jenny Beavan, vencedora do Oscar por Mad Max: Estrada da Fúria e responsável pelas roupas de Cruella, Vivienne foi uma inspiração, juntamente com outros nomes mais recentes que também beberam do universo da inglesa, como Alexander McQueen e John Galliano.

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A estilista Vivienne Westwood
A estilista Vivienne Westwood (David M Benett/Getty Images)

The Clash e a maturidade do punk

Antes do The Clash, o movimento punk era visto apenas como um tipo de algazarra adolescente. Com letras mais politizadas e combativas, até mesmo incendiárias, o grupo britânico mudou essa visão niilista logo em 1977, com o lançamento de seu primeiro álbum homônimo. Mas foi só a partir de 1979, com o lançamento do clássico London Calling que eles ganharam respeito e popularidade. As letras eram uma mescla de atitude rebelde com militância e crítica política. Já as músicas, eram repletas de acordes elaborados, bastante influenciados pelo rock clássico e pelo ska — bem distante da atitude “faça você mesmo” do passado. Não por acaso, até hoje o grupo é chamado por muitos de “a única banda que importa”. Em Cruella, a transição da personagem, que só se assume com sua cabeleira bicolor e personalidade forte no meio do filme, é embalada por um grande hit da banda, Should I Stay or Should I Go?.

Mulheres, feminismo e o punk

Mais inclusivo que o metal, o punk era um ambiente propício para o surgimento de bandas formadas por mulheres. De lá saíram nomes como Blondie, Patti Smith, The Slits, Joan Jett e Debbie Harry. Mesmo sem necessariamente assumir a bandeira feminista, elas se tornaram referência para adeptas do movimento. Nos anos 90, o punk ganhou uma irmã mais nova e ainda mais barulhenta, a tendência das Riot Grrrl. O braço do movimento era formado por diversas mulheres do meio para denunciar atos machistas dentro do punk. Essa rebeldia feminista se perpetuou em nomes como Kim Deal (vocalista do Pixies), Kim Gordon (do Sonic Youth) e sua representante mais atual e política, a banda russa Pussy Riot — que vira e mexe tem integrantes presas por participarem de protestos das mais variadas causas no país de Putin, entre elas a bandeira LGBTQ+.

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