As bizarrices escondidas no ‘Gabinete de Curiosidades’ de del Toro
Série da Netflix, conduzida pelo cineasta mexicano, apresenta histórias de terror para todos os gostos, do sobrenatural ao humor grotesco
O cineasta mexicano Guillermo del Toro tem um gosto pelo bizarro. Uma breve espiada em seu currículo atesta esse olhar peculiar sobre o mundo, caso do belíssimo e assustador filme O Labirinto do Fauno e o vencedor do Oscar A Forma da Água. O diretor, agora, explora um novo jeito de se infiltrar no submundo de monstros, espíritos e seres humanos complexos em O Gabinete de Curiosidades de Guillermo del Toro. A série antológica estreou na Netflix na terça-feira, 25, com dois episódios, e ganhou mais dois nesta quarta — ritmo que vai até sexta, 28, quando o programa terá na íntegra seus oito episódios disponíveis. A trama é inspirada nos gabinetes de curiosidade que se instalaram na Europa no século XVII, durante a época das Grandes Navegações, quando a exploração de outros territórios estava a todo vapor. Estes espaços eram destinados à exibição de obras de arte, relíquias, fósseis, artefatos e diversos outros itens. Apesar das belezas que eram encontradas nos “quartos das maravilhas”, como esses museus também eram conhecidos, os gabinetes podiam esconder histórias aterrorizantes a depender da imaginação de quem os visitasse.
Na série, del Toro abre mão do papel de diretor e assume o posto de mestre de cerimônias, apresentando cada história escolhida por ele antes dos episódios. As tramas, independentes entre em si, expõem as várias facetas e maneiras de se fazer terror. O primeiro episódio, chamado Lote 36, é mais atmosférico do que visceral. Um homem endividado trabalha comprando quartos de depósito para revender os objetos que encontra por lá. Extremamente preconceituoso, particularmente com imigrantes, ele compra o lote de um senhor esquisito que acabou de falecer e lá encontra objetos de ocultismo. Além do medo causado pelos elementos místicos relacionados a demônios — que aparecem de forma tímida —, o episódio aposta no terror proveniente do próprio protagonista, um homem repulsivo.
Na segunda história, del Toro mostra que seu gabinete de curiosidades comporta todo tipo de bizarrice. Em Ratos de Cemitério, um ladrão vive de desenterrar corpos para roubar objetos de valor. Como medida desesperada, após ser ameaçado por causa de uma dívida, o homem desenterra um ricaço para pegar uma espada valiosa e dentes de ouro — ele só não contava que teria que se enfiar em túneis na terra para recuperar o corpo, roubado por ratos. Com um protagonista fanfarrão, o episódio flerta com humor, mas também investe em bons sustos e principalmente nas cenas nojentas.
Abrindo as portas de seu gabinete aos poucos, del Toro escolheu a dedo contos arrepiantes para os mais variados gostos. Assim, a antologia é uma boa pedida para encerrar as maratonas de Halloween. Confira o trailer: