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Antonio Banderas é Pedro Almodóvar em filme que encanta Cannes

Diretor espanhol, que exibe “Dor e Glória” na competição, mandou recado para o Brasil

Por Mariane Morisawa, de Cannes
18 Maio 2019, 16h18

“Este filme não é literal”, alertou Pedro Almodóvar diversas vezes durante a coletiva de imprensa de seu 21º longa, Dor e Glória, com que compete pela sexta vez à Palma de Ouro no Festival de Cannes e que tem muitos elementos autobiográficos.

“Estou muito bem, tirando uma dor nas costas que acho que o personagem passou para mim”, disse Antonio Banderas, que interpreta o cineasta Salvador Mallo. “Já tomei um analgésico.”

Em Dor e Glória, que tem estreia prevista para 13 de junho no Brasil, Banderas é um diretor de cinema sofrendo com depressão e problemas de saúde, que tenta se reconciliar com seu passado, relembrando fatos da infância e amores que ficaram pelo caminho.

O personagem também teme não conseguir mais fazer filmes – um sentimento compartilhado por seu criador. “Meu maior fantasma é não poder fazer cinema por questões físicas ou por me faltarem ideias, ou por perder a paixão”, diz Almodóvar.

O diretor, Banderas e a atriz Penélope Cruz, que interpreta a mãe de Salvador quando jovem, ainda estavam impactados pela recepção a Dor e Glória na sessão de gala na noite anterior – VEJA assistiu ao filme na exibição para a imprensa e houve aplausos entusiasmados ao final.

“Foi uma experiência inenarrável. Estava chovendo, mas era uma chuva feliz”, disse Almodóvar. O filme foi bem recebido também pela crítica, que elogiou o tom contido e maduro de Dor e Glória. De fato, é uma das obras menos barrocas e melodramáticas do espanhol, conhecido por Tudo sobre Minha Mãe, Fale com Ela e Volver, entre outros.

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Banderas, que começou sua carreira com Pedro Almodóvar em filmes como Labirinto de Paixões (1982), A Lei do Desejo (1987) e Áta-me (1989), ficou 22 anos sem trabalhar com o amigo de quatro décadas, até A Pele que Habito (2011). Depois, fez um pequeno papel em Os Amantes Passageiros (2013).

Mas ele diz que a experiência de A Pele que Habito foi completamente diferente de agora. “Oito anos atrás, trouxe uma mochila com todas as coisas que achava que tinha aprendido ao longo da minha carreira”, afirmou o ator.

“Foi inclusive uma relação mais conflituosa com Pedro. Desta vez, resolvi me despir totalmente de mim mesmo, do que acho que aprendi, o que é muito difícil. Mas posso dizer que esses meses que passei trabalhando em Dor e Glória foram os mais felizes de minha carreira. E isso ninguém jamais pode me tirar”, completou Banderas, emocionado.

Dor e Glória provavelmente é seu melhor trabalho, o que já coloca o espanhol entre os favoritos a prêmio em Cannes.

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Isso, claro, se o filme não levar algum troféu ainda mais importante, como a Palma de Ouro, que nunca foi parar nas mãos de Almodóvar – ele venceu um prêmio de direção (por Tudo Sobre Minha Mãe) e outro pelo roteiro de Volver.

O cineasta minimizou seu desejo pela Palma. “Tivemos uma noite maravilhosa ontem, e meu maior prêmio é fazer meus filmes do jeito que quero.” Mas com certeza ele deve estar animado com a perspectiva de uma Palma de Ouro, dada a recepção ao longa.

Penélope Cruz, que já fez outros cinco filmes com o diretor, disse que teve certo pudor de fazer perguntas a Almodóvar para interpretar sua mãe. “Não que o Pedro tenha colocado nenhuma barreira, mas eu tive esse respeito”, contou.

Uma frase que Jacinta, a mãe do filme, diz para Salvador, seu filho, é fictícia: “Você não é o filho que eu queria”. “Mas ela representa a estranheza com que me olhavam quando eu era criança, sobretudo na escola, o que é algo muito duro para uma criança”, disse o cineasta.

Almodóvar também disse que sempre ouve música brasileira quando está escrevendo seus roteiros e sente uma identificação muito grande com a cultura do país. E mandou um recado: “Sei que o Brasil está passando por um período muito difícil e espero que o povo brasileiro encontre a força para mudar de direção”.

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