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Ana Claudia Quintana Arantes: ‘O luto é trabalhoso’

A autora acaba de lançar seu novo livro e o primeiro infantil, 'Onde Fica o Céu?' — e sugere meios de falar com as crianças sobre a perda de um familiar

Por Amanda Capuano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 7 jun 2025, 08h00

Como foi o processo de transformar sua experiência com cuidados paliativos em livros sobre o luto? A escrita é um caminho de elaboração de tudo o que eu vivo no meu dia a dia com os pacientes e o contato com os familiares. Assim, notei como as crianças são excluídas desse processo. É preciso integrá-las à rotina da pessoa doente de forma mais natural.

Pode explicar melhor? A criança, muitas vezes, é poupada da realidade. Raramente vai ao hospital ou até mesmo ao velório. Depois, ela precisa ficar com a ausência daquela pessoa, e é uma falta muito hostil, porque ela não foi preparada para isso.

Muitos pais falam à criança que a pessoa que morreu virou uma estrelinha. Como vê essa abordagem? É uma explicação muito vaga. Às vezes fala-se que alguém está no céu, que descansou ou virou estrela. Descansou do quê? Onde fica o céu? Como se vira estrelinha? A cabeça da criança tem muitas dúvidas concretas, e o adulto tenta colocar um sentido simbólico só para mudar de assunto rapidamente.

Como abordar o assunto, então? Minha sugestão é que primeiro pergunte à criança o que ela acha que aconteceu. A experiência de morte para os pequenos, muitas vezes, vem da perda de um animal de estimação, da morte de um inseto, por exemplo. A natureza é um bom ponto de partida. Há ainda a sinceridade. Falar que entende e que também sente saudade do vovô, da vovó, do papai, da mamãe… Meu livro faz esse convite ao diálogo.

Falar sobre a morte de maneira clara é um tabu até mesmo entre adultos. Por quê? O tabu existe porque não lidamos bem com o tempo. O discernimento do que fazer com o tempo abarca toda a nossa vida. Temos muitas pendências ao longo da existência, coisas que deixamos para depois. Existe essa nuvem escura em torno da morte porque ela é o fim definitivo, não só mais um adiamento.

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O luto é diferente com pacientes sob cuidados paliativos? Sim. Há um luto antecipatório que prepara para o definitivo. É como uma viagem com passagem comprada, mas sem data. No caso de uma morte repentina, isso não acontece e é um processo mais trabalhoso. O luto é trabalhoso. Você fica cansado, não dorme direito, acorda e o cérebro não deixa esquecer. É uma loucura, mas, quando há o luto antecipatório, o trabalho é partilhado com quem vai morrer. Quando a pessoa parte repentinamente, o trabalho é só seu. É mais duro.

Publicado em VEJA de 6 de junho de 2025, edição nº 2947

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