Amy Adams se transforma para série da HBO: ‘Dei tudo de mim’
Atriz fala ao site de VEJA sobre as dificuldades ‘Sharp Objects’ e como tenta levar uma vida normal em Hollywood
Depois de Matthew McConaughey, Nicole Kidman e Reese Witherspoon, é a vez de Amy Adams apostar na televisão. A atriz, indicada cinco vezes ao Oscar, estreia como protagonista na HBO em Sharp Objects, que exibiu seu primeiro episódio no domingo. A minissérie em oito episódios, dirigida por Jean-Marc Vallée (do sucesso Big Little Lies), é baseada no primeiro romance de Gillian Flynn, lançado no Brasil pela editora Intrínseca com o título Objetos Cortantes.
Amy interpreta Camille, uma jornalista que volta à pequena cidade onde nasceu para investigar o desaparecimento de uma garota, pouco tempo depois de a comunidade ser abalada com o assassinato de uma menina. Será obra de um serial killer? Como um lugar tão pequeno pode ter dois crimes tão horríveis? A questão é que Camille, alcoólatra e com o corpo coberto de cicatrizes decorrentes da automutilação, vai ter de encarar os fantasmas de seu passado. Especialmente sua mãe, Adora (Patricia Clarkson), que tem um jeito estranho de amar as filhas – Camille é irmã da adolescente Amma (a estreante Eliza Scanlen), que mal conhece.
Ao vivo, Amy Adams, que também é produtora da série, não poderia ser mais diferente da personagem. É uma das raras atrizes de Hollywood que realmente parece uma pessoa normal, daquelas que vão à feira e ao supermercado – e, de fato, ela vai. A atriz de 43 anos conversou com VEJA em Los Angeles sobre o novo trabalho, álcool no set, infância e arrependimentos:
Por que escolheu fazer este papel tão pesado nesta etapa de sua carreira? Me senti pronta para encarar. Não pareceu tão assustador quanto teria sido cinco anos atrás. E sabia que o diretor Jean-Marc Vallée me provocaria. A maneira como ele trabalha é muito intensa, você precisar estar completamente dedicada. Era o único jeito de fazer algo desse tipo.
Vallée disse que estava com medo quando começou o projeto. E você? Sempre dá um pouquinho de medo. Não dá para saber como vai ser. Foi preciso dar tudo de mim. Mas, quando começamos, depois da preparação, me senti muito pronta.
Teve umas duas cenas em que me senti vulnerável por causa de nudez e uma situação sexual em que tomei um uísque, não vou mentir
Amy Adams sobre bastidores de 'Sharp Objects'
Como foi a relação com o álcool no set? Você quer saber se bebi álcool durante a gravação?
O diretor disse que você bebeu. Ocasionalmente.
Mas te ajudou a fazer a personagem? Não, não. Trabalhamos muitas horas, se eu tivesse bebido, teria caído no sono. Não consigo beber durante o dia sem tirar um cochilo. Teve umas duas cenas em que me senti vulnerável por causa de nudez e uma situação sexual em que tomei um uísque, não vou mentir. E era justificável para Camille. Camille é quem estava bebendo! Mas houve dias em que bebi. Gosto de ser sincera.
Muitos dos problemas de Camille têm origem em sua infância e questões não resolvidas. Identifica-se com ela de alguma maneira? Não. Pago uma pessoa toda semana para falar disso. Se pudesse, pagaria para todos! Estou brincando. Mas acho que todos temos problemas com os quais não lidamos. Posso fazer tudo certo com minha filha (Aviana, 8, de seu casamento com Darren Le Gallo), mas não vou ser perfeita. A infância dela não vai ser perfeita. Se eu tentar tornar sua infância perfeita, isso vai criar outra gama de problemas. Estou constantemente lidando com o fato de ser filha do meio entre sete. Em dado momento, simplesmente aceitei que todo o mundo tem seus problemas. No ensino médio foi bem duro. Porque, quando você é adolescente, acha que está sozinho, que ninguém está passando por isso. E quando você fica mais velho, vê que todos estamos lidando com isso, cada um à sua maneira. Garotas que eu achava perfeitas estavam sendo criadas por mães solteiras. Eu deveria ter sido mais legal e menos invejosa.
Tem alguma coisa que gostaria de ter resolvido como lidar antes? Tanta! Uma delas é a preocupação. Ainda me preocupo demais. Fiquei acordada até 3 da manhã porque vou rodar em Nova York em breve e fiquei pensando onde ia morar, que escola minha filha vai frequentar. O bom é que me preocupo menos com coisas pequenas. Gostaria de ter desistido há mais tempo de controlar e me preocupar com coisas sobre as quais não tenho controle.
Sharp Objects é uma minissérie. Mas consideraria fazer uma sequência? Não tenho contrato nem nada, se por acaso quiserem continuar. Não sei como fariam, porque nos baseamos num livro. Mas não digo que não faria.
Com Big Little Lies arrumaram um jeito. Sim. Seria muita sorte ter tanto sucesso quanto eles.
Acredita que o público está ficando mais sofisticado? Porque antes os homens só assistiam histórias de homens, enquanto mulheres assistiam coisas sobre homens e mulheres. Espero que sim. Acredito que os canais estão procurando atender a diversos tipos de público. Mas também espero que estejamos ensinando homens jovens a ver histórias protagonizadas por mulheres como histórias humanas em vez de histórias femininas.
Achou legal de ser produtora? Sim. Gosto da ideia de contribuir com a introdução de diversidade na televisão e no cinema. De lançar novos talentos – por exemplo, alguém como Eliza (Scanlen). De encontrar novas vozes. De definir como vai ser a experiência das pessoas. Acredito firmemente que fazer um bom trabalho não passa por um ambiente de trabalho horrível. Como produtora, tenho mais voz em como as coisas são nesse aspecto. Tem sido bem divertido. E ter Marti (Noxon) e Gillian (Flynn), além de Jessica Rhoades, me convidando para ser produtora foi algo incrível, porque acho que mulheres se ajudando vai ser algo fundamental no nosso caminho adiante.
Parece ser um bom momento para virar produtora em Hollywood, com todo esse movimento por mais mulheres. Sim. Em um ano as coisas mudaram tanto na consciência da necessidade de mais diversidade, não só nesta indústria, mas em todas.
Tem esperança? Sim. Só temos, como sociedade, que permanecer vigilantes para que não seja apenas uma nuvem passageira.
Deve ter sido duro ser reconhecida depois dos 30. Ao mesmo tempo foi um alívio? É muito bom ter oportunidades, e sempre serei grata por isso. Depois de ter tido dificuldades e aí ter oportunidades sei que existe um custo. Há um custo para ter a carreira que eu tenho. Em geral tento não alimentar esse tipo de atenção. Mas é um equilíbrio delicado porque gosto muito do que faço e quero promover os filmes e todo o mundo que trabalhou neles. É um equilíbrio.
Não consigo me preocupar com essa coisa de fama e glamour. As pessoas não estavam prestando atenção em mim até eu me consolidar, nos meus 30. Então tinha uma compreensão diferente da minha identidade
Amy Adams
Mas você não está nas redes sociais. Por quê? Estou considerando aderir a uma delas. Vamos ver. Sou de um tempo em que a privacidade era importante. É um trabalho de aprendizado tentar entender essa coisa de vida com curadoria. É muito estranho para mim. Mas agora também vejo que é uma ferramenta poderosa para chamar atenção para questões que considero importantes, para minha paixão pela cozinha (risos). Desculpem, mas vou postar meus pratos.
Você cozinha? Sim.
Acho que te vi na feira. Sim. Tem um supermercado cheio de paparazzi, que eu tento evitar. Mas eles têm o melhor salmão. Então checo minha roupa e vou comprar o melhor salmão. Mas eles nunca me fotografam lá. É sempre quando estou saindo do balé ou do pilates ou quando tive dois minutos para me vestir antes de levar minha filha à escola. Até que gosto, porque, quando me arrumo, todo o mundo acha que é uma grande transformação!
Você é uma das atrizes mais pé no chão em Hollywood. Como consegue ser uma alma pura nesta indústria? Não consigo me preocupar com essa coisa de fama e glamour. Tenho uma base de amigos muito boa. As pessoas não estavam prestando atenção em mim até eu me consolidar, nos meus 30. Então tinha uma compreensão diferente da minha identidade. Tive dificuldades. Mas em geral não ligo.
Tem arrependimentos? Sim, mas não em relação aos projetos que fiz. Em geral tenho arrependimentos sobre minha atitude, coisas que deixei de dizer. Ou quando tive reações exageradas, ou quando me julguei de maneira dura demais. E também de não ter continuado amizade com certas pessoas com quem trabalhei por insegurança.