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Alessia Cara, de fenômeno do YouTube a vencedora do Grammy

Cantora lança seu segundo disco, ‘The Pains of Growing’, e mostra que prefere seguir na contramão do pop fácil

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 3 dez 2018, 15h02

Quando ganhou o Grammy de artista revelação este ano, Alessia Cara lembrou em seu discurso de agradecimento que costumava ensaiar vitórias do tipo escondida no banheiro quando era mais nova. O “nova” aqui é bem relativo, já que a garota estourou aos 18 anos com a canção Here, sobre a solidão de uma jovem entediada em uma festa. O single de estreia, hoje com mais de 151 milhões de visualizações no YouTube, coroou a caminhada da canadense descendente de italianos na plataforma de vídeos, onde ela ganhou popularidade publicando, com violão em punho, covers de outros artistas.

Desde então, a moça caiu nas graças da indústria. Ganhou Taylor Swift de madrinha e se posicionou como uma força de autoestima para adolescentes. Com uma pegada entre o pop eletrônico e o soul à la Amy Winehouse, Alessia acaba de lançar seu segundo disco, The Pains of Growing, que, como diz o título, fala sobre as “dores do crescimento” da jovem prodígio rumo à maturidade.

Alessia já mostra um forte senso de estilo e personalidade para uma cantora pop no auge dos 22 anos. Quando canta sobre beleza feminina, ela abre mão de maquiagem. Quando abraça o rito de passagem para a vida adulta, ela deixa os vestidos sensuais de lado e opta por enormes ternos masculinos. Escolhas artísticas, garante.

Em entrevista a VEJA, Alessia fala sobre o look nada fashion, música, e seu papel como exemplo para outras garotas que não se sentem assim tão confortáveis com o processo de amadurecer.

 

Desde que estourou com a música Here, sobre uma garota que preferiria estar em casa do que em uma festa, você parece seguir na direção oposta de outras jovens cantoras do pop. Faz parte de quem você é fugir dos estereótipos? Acho que ao mesmo tempo que sou diferente, também sou muito parecida com as pessoas da minha idade. Na comparação com outros artistas, pode ser que pensem que sou esquisita. Mas creio que muitas adolescentes sentem o mesmo que eu canto. É normal se sentir tímida e desconfortável em situações que outros se sentem confortáveis. Só tento ser honesta e é o que reflete na minha música.

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É seguindo este desconforto que você optou por usar um terno maior que seu número para divulgar as canções de The Pains of Growing? Usar um terno masculino enorme não foi uma escolha fashion, mas uma escolha artística. Uma maneira de fazer uma declaração. A mensagem que eu quis passar é que crescer, às vezes, pode ser muito difícil. A roupa fica enorme, pesada, para representar a vida adulta, que parece ser um novo peso. E eu, no fundo, me sinto como uma garotinha, tentando entender quem sou e o que vou me tornar.

Ganhar um Grammy reforçou esses sentimentos? Eu cresci muito nestes últimos três anos, tanto na vida pessoal quanto profissional. E lidar com as duas coisas ao mesmo tempo não foi fácil. Pois estou me tornando uma mulher, mas também sou uma artista crescendo diante de um monte de gente. Os dois últimos anos especialmente, foram os mais difíceis, que renderam as músicas deste disco. Mas, apesar de difícil, estar trabalhando com o que eu gosto e ser reconhecida por isso me fez ser mais responsável.

Alessia Cara
Alessia Cara conquistou o Grammy de artista revelação em 2018 (Presley Ann/Patrick McMullan/Getty Images)

Sente que tem uma responsabilidade em ajudar seu público a passar também por essa transição para a vida adulta? Sim, há uma responsabilidade. Eu nunca quis fazer música só para mim, algo egoísta. Senão, qual o sentido de fazer algo que não vai se conectar com outras pessoas? Por isso uso minha voz e minha imagem para me conectar com essas pessoas, e tentar dizer coisas boas e corretas. E acho importante mostrar também que não estou totalmente segura sobre mim, que há beleza no desconhecido.

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O que te deixa insegura? Sabe como é, sempre tem alguém que quer te colocar para baixo. Ainda mais sendo uma cantora. Na internet, nas redes sociais, existem tantas opiniões sobre mim. Opiniões ruins, que me fizeram dar um passo para trás para respirar e lembrar que sou boa o suficiente, que não sou feia ou uma má cantora. É uma luta diária entrar na internet e ver tanta agressividade. É preciso ajustar seus valores e prioridades. É comum a gente se comparar com os outros o tempo todo. Por isso temos que lembrar do nosso real valor.

Se fala muito atualmente de sororidade, feminismo e movimentos como o #MeToo. Ao mesmo tempo, se vê diversas reações contrárias. Como você, aos 20 e poucos anos, enxerga este momento? Para mim, parece que tudo está muito atrasado. É absurdo que ainda exista tanta injustiça e desigualdade para as mulheres. Então acho ótimo ver que finalmente essas mulheres encontraram um espaço para falar. Sei que as pessoas têm opiniões adversas por falta de conhecimento, por achar que feminismo é sobre odiar os homens, mas não é isso. É sobre igualdade, que todos os gêneros sejam tratados como iguais. Espero que esse processo, essa noção, se acelere de agora em diante.

No começo da sua carreira, você ganhou o apoio de Taylor Swift. Como essa relação te ajudou a chegar aqui? Foi muito importante, eu abri um show para ela. A Taylor me apoiou bem no começo da minha carreira, foi bem gentil e um apoio que eu prezo bastante.

Para finalizar, tem planos de passar pelo Brasil em breve? Quero muito, muito mesmo. Vou fazer tudo que eu posso para que isso aconteça. Nunca fui ao Brasil, mas muitos dos meus primeiros fãs são daí. E mal posso esperar para vê-los pessoalmente.

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