Aldair Playboy: “Ostentação, só em casa”
O funkeiro que saiu da periferia de João Pessoa para se tornar um dos artistas mais tocados em 2018 diz que é playboy apenas no nome

Como era sua carreira antes de Amor Falso? Nasci num bairro pobre de João Pessoa, na Paraíba, e sempre fui batalhador. Meu primeiro cachê foi de 15 reais e gastei 7 para comer na barraca de hot-dog. Custava o dono da casa em que toquei me fornecer o lanche? Mas Deus abençoa quem merece e quem precisa: no mês passado assinei um contrato com uma grande gravadora. Chorei ao lembrar das dificuldades pelas quais passei.
Você tem uma família numerosa. O sucesso está mudando a vida de todos? Eu me mudei com a minha mulher e meus cinco filhos para Fortaleza, onde fica o escritório do meu empresário. Queria trazer minha mãe para perto, mas ela mora em João Pessoa e não quer sair de lá de jeito nenhum. Tenho planos de ajudar meu irmão nos estudos, para que ele possa se formar.
Você também passou por dramas familiares. Seu pai foi assassinado, não? Sim, no início do ano. Ele tentou evitar o roubo de uma motocicleta e foi atingido com quatro tiros, três deles nas costas. Até hoje não se descobriu o autor dos disparos. Ninguém se preocupou com isso, não. Antes, minha avó tinha morrido no meio de um culto evangélico. Ela começou a passar mal e saiu para tomar ar. Quando eu a encontrei, ela estava morta, com espuma na boca.
É verdade que depois do sucesso de Amor Falso surgiram vários Aldair Playboy espalhados pelo país? Como ninguém sabia direito como eu era, os funkeiros pintavam o cabelo de loiro e diziam que eram eu. Poxa, lembro que muitas vezes fiquei na porta das casas de show porque não tinha dinheiro para pagar o ingresso. Imagina um fã meu que gasta um dinheiro que não tem para me ver e descobre que é um Aldair Playboy falso? Surgiram imitadores em São Paulo, Maranhão e Pará. Mas, graças às redes sociais, essas pessoas estão sendo descobertas e desaparecendo.
Amor Falso foi adotada pelos principais funkeiros do país. Você se considera um artista de funk? Chamo meu estilo de “batidão de João Pessoa” ou “brega funk”, que tem um ou outro elemento do funk, só que é mais influenciado pela música brega nordestina. Agora, Amor Falso fez sucesso — e não apenas entre os funkeiros — porque trata de um tema em comum a todos nós: o sujeito que acredita estar vivendo um grande amor e é enganado.
Por que o nome artístico Playboy? Eu cantava numa banda chamada Swing de Playboy. O repertório tinha canções de grupos de forró — Garota Safada e Calcinha Preta.
Mas já se tornou um playboy de fato? Só para minha mulher e meus filhos. Ostentação, só em casa.
Publicado em VEJA de 12 de dezembro de 2018, edição nº 2612