Agnès Varda, a artista que captou a pulsão da vida em suas fotografias
Uma mostra em São Paulo ilumina os trabalhos fotográficos da cineasta belga pioneira da nouvelle vague
Fazer arte e desbravar o mundo sem nunca olhar para trás: com essa conduta de vida pautada por uma curiosidade inesgotável pelo novo, a belga Agnès Varda (1928-2019) atravessou seus 90 anos como um verdadeiro furacão criativo. Foi uma cineasta pioneira da nouvelle vague, o movimento que sacudiu o cinema francês (e mundial) nos anos 1960, inserindo naquele clube de eminentes diretores do sexo masculino, como François Truffaut e Jean-Luc Godard, não só sua presença feminina, mas uma impactante visão de mundo feminista em filmes como Cléo das 5 às 7 (1962). Mesmo às vésperas dos 80, não se aquietava: em meados dos anos 2000, reinventou-se como artista plástica em uma série de videoinstalações. Com horror à ideia de se prender a feitos do passado, Agnès relutava em celebrar o ponto de partida de sua obra: a atuação como fotógrafa, que iniciou na juventude e exercitou em comunhão com o cinema por toda a carreira. Uma mostra que abre no próximo dia 29 e fica em cartaz até o dia 12 de abril de 2026 no Instituto Moreira Salles, em São Paulo, ilumina esse lado menos conhecido — mas potente — da aguerrida criadora.
Entre as 200 imagens reunidas em Fotografia Agnès Varda Cinema, muita coisa foi garimpada pela família no acervo que a artista mantinha em sua casa, na França. Ela começou a fotografar assim que chegou a Paris, captando a pulsação das ruas no pós-guerra. Mas logo a jovem Agnès demonstrou seu apreço pelas pessoas comuns, sobretudo mulheres e crianças. Num de seus primeiros trabalhos fora de Paris, percorreu o sul da Europa para documentar imigrantes, famílias de ciganos, pescadores e vendedores de rua. “Ela sempre teve vontade de mostrar pessoas na rua, famílias, crianças”, disse a VEJA sua filha Rosalie Varda, curadora da mostra ao lado do português João Fernandes. Em paralelo ao foco social, também era uma exímia autorretratista, como provam as imagens marcantes que fez de si presentes na mostra.
A retrospectiva enfatiza especialmente o olhar da Agnès viajante. A partir do fim dos anos 1950, Agnès rodou o mundo com sua câmera. Flagrou a vida na China e em Cuba logo após as revoluções comunistas nos dois países. No gigante asiático, em 1957, retratou trabalhadores agrícolas construindo diques para evitar a inundação de plantações. Em Cuba, em 1962, além de fotografar cenas do cotidiano, produziu um célebre retrato de Fidel Castro. Mais tarde, documentou a contracultura e o movimento pelos direitos humanos nos Estados Unidos. Com seu olhar cosmopolita, Agnès eternizou algo precioso: a pulsão da vida.
Publicado em VEJA de 21 de novembro de 2025, edição nº 2971
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