A hipocrisia desfilou no Miss São Paulo
O discurso de empoderamento e quebra dos padrões de beleza contrastou com o padrão cada vez mais Barbie
O Pequeno Príncipe e a “paz mundial” andam em desuso na lista de citações das misses contemporâneas, mas isso não indica que o concurso tenha envelhecido bem.
Empoderamento, feminismo e igualdade de gênero, temas atualmente tão repetidos – e que originaram, por exemplo, ótimas sacadas no programa Amor e Sexo – foram tratados no Miss São Paulo, no último sábado, da mesma forma robótica e artificial que sempre caracterizou o torneio. Entre as várias perguntas “moderninhas”, aparentemente ensaiadíssimas, o apresentador Cássio Reis fez uma questão com resposta embutida:
– Você é a favor da reavaliação dos padrões de beleza?
A Miss São Caetano do Sul, Stefany Salles respondeu:
– Eu sou a favor da queda dos padrões, sim. (…) Geralmente os padrões colocam uma casca – e aquilo que temos dentro é muito mais do que os olhos podem ver, não importa se você usa 36, 46 ou 56.
Foi aplaudidíssima, cercada pelas concorrentes com medidas em quase nada diversas, que as distanciam das “mulheres reais” e as aproximam das bonecas Barbie. O desalinhamento entre discurso “empoderado” e passarela de clones sugere algum oportunismo da organização em apenas parecer atualizado. Martha Rocha, com suas polegadas “reais”, possivelmente não teria sido nem classificada.
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Em tempo: a vencedora da noite foi a representante da capital, Karen Porfiro.