8 motivos provam: depois do Restart, o rock jamais será o mesmo
A banda que mais ganhou prêmios em 2010 diz que faz o "happy rock" - mas profanou todos os ícones do gênero
Formada em agosto de 2008 por Pelu (guitarra e vocal), 19 anos, Pe Lanza (baixo e vocal), Koba (guitarra) e Thomas (bateria), os três com 18 anos, a banda Restart inaugurou no rock brasileiro o movimento chamado happy rock que, como o nome em inglês diz, prega a felicidade musical – uma resposta aos chorosos emos que dominavam a cena musical até então.
Emo é abreviação de “emotional hardcore”, um estilo marcado por melodias e letras tristonhas, como as que faziam NxZero e Fresno. Seus fãs usavam roupas escuras, cabelos lambidos e mantinham, por honra, um semblante deprê. Como negar tudo isso? Nem acordes poderosos, nem atitude de contestação e rebeldia, como manda o manual do bom roqueiro. O que o Restart fez foi injetar cores vibrantes nas roupas tinindo de novas, contra-atacar com refrões tão melosos quanto um sertanejo universitário e conclamar os princípios da família – é com essa palavra, afinal, que eles se referem a seus fãs.
E dá-lhe fãs. Fazendo até 15 shows por mês, o Restart se tornou em 2010 a grande revelação do – como dizer ? – rock nacional. Prova disso é a leva de cinco prêmios que levou no Vídeo Music Brasil, da MTV – foi o grande vencedor da noite -, e o troféu de Melhor Música por Recomeçar, no Prêmio Multishow. Mais: em agosto, ganhou o disco de ouro (foto abaixo) pela marca de venda de 50.000 cópias do primeiro disco. Neste domingo (24), mais uma conquista: o grupo grava seu primeiro DVD na já tradicional matinê Happy Rock Sunday, realizada aos domingos, com ingressos que chegam a 140 reais.
O Restart até pode fazer música alegre – mas rock é que não faz. Abaixo há oito motivos que provam por que o estilo musical jamais será o mesmo depois deles.
Pior resposta ao emo
O rock sempre alternou movimentos que serviram de resposta um ao outro. O movimento punk, com seus três acordes, respondeu ao esmero do rock progressivo; o new wave, com seus elementos eletrônicos, era uma réplica ao soturno pós-punk. O emo congregou em torno de melodias e letras lamurientas uma horda de adolescentes tristonhos e desiludidos com o amor. O Restart poderia ter respondido a tanto choro com o deboche dos Stones ou a rebeldia dos Ramones. Em vez disso, ofereceu um discurso que nega o rock: a alegria ingênua e passiva.
Paz, amor e “coração de mãozinha”
O rock já mostrou o dedo médio (Johnny Cash), a língua (Rolling Stones), fez chifrinho com a mão (Black Sabbath) e cerrou os punhos (Rage Against The Machine). Todos eloquentes sinais de contestação, rebeldia e provocação. Nos anos 2010, eis que o Restart inventa de se comunicar com seus fãs unindo as duas mãos pelas pontas dos dedos, de modo a formar um “coração de mãozinha”. A plateia vai ao delírio com o gesto, que tem como variação o “coração de braço”, feito com dois integrantes, que unem seus braços no símbolo do amor.
https://youtube.com/watch?v=yGbkcCTl4CY
Roupas de boy band
Para os padrões familiares, o rock sempre foi feio, sujo ou malvado. A fama vem também da roupa – geralmente, jaqueta de couro, jeans rasgado, coturno militar e correntes pesadas. O Restart, em vez disso, criou a moda de camisetas e calças de cores vibrantes, com jeito de recém-saídas da loja. Bastante apropriadas para uma boy band como a oitentista Menudos – com adição de cabelos de calopsita, assinados por um cabeleireiro da Daslu.
Rocknejo universitário
Há quem veja poesia nas letras de alguns medalhões do rock, como Lou Reed ou Bob Dylan. A verdade é que isso nunca importou tanto. Mas tudo tem limite. Igualar as rimas em sacarose à pobreza das letras dignas de breganejo universitário, pode ser considerado o penúltimo prego no caixão do rock. Restart bate esse martelo com louvor, confira abaixo:
Deixe eu te fazer feliz
Como eu sonhei, como você sempre quis
(Amanhecer no teu Olhar, Restart)
Eu escutei sua voz ao vento
Senti seu cheiro cada vez mais perto
(Sinais, Luan Santana)
Fãs, não: família
‘A família Restart não vai deixar barato!’, bradou uma menina, para em seguida pronunciar uma frase sem pé nem cabeça, por causa de um show da banda que foi cancelado. A presepada virou hit no Youtube. Se não estão unidos por laços de sangue, fãs e membros da banda esbanjam união em frases desconexas, corações de mãozinha e muita, muita alegria. Mas há um problema na gênese da idéia: o rock não é coisa de família – o que se explica a seguir.
Até os pais gostam
Se o seu pai gosta – ou não se preocupa – não pode ser bom. Essa é uma espécie de lei do rock, que tem uma história pautada pela ousadia e pela contestação. De Beatles a Iggy Pop, de The Cure a Sepultura, o estilo musical sempre causou discórdia em casa. Adolescentes de um lado, pais de outro. O rock é contra o sistema, seja ele qual for, inclusive o familiar. Uma família colorida que não se rebela, nem protesta contra nada, e sorri sem economia, é o sonho de todo pai de adolescente. Rock é outra coisa.
Em uma banca perto de você
Nem songbook, nem edição comemorativa de uma revista especializada no gênero. Ainda neste ano, a banda se lança em um colorido, ingênuo, quiçá fofo, pra lá de careta… Álbum de figurinhas. A capa da publicação avisa com direito a exclamação: “216 cromos supercoloridos!”.
Se não é rock… Será pagode?
Neste vídeo, a banda divide o palco – e um belo de um pagode – com o Exaltasamba.