76 anos após fim de Auschwitz, 4 livros essenciais de seus sobreviventes
De Primo Levi a Edith Eger, ex-prisioneiros do principal palco do Holocausto produziram testemunhos dos horrores do campo de concentração
Há exatos 76 anos, os judeus que foram capazes de sobreviver aos horrores de Auschwitz foram libertados do campo de concentração que ficou conhecido como palco mais trágico do Holocausto, com mais de 1 milhão de mortos. Com isso, o dia 27 de janeiro foi simbolicamente escolhido como Dia Internacional em Memória dos Sobreviventes do Holocausto. Durante as décadas que se seguiram às atrocidades do nazismo, sobreviventes colocaram suas memórias no papel para que o mundo tomasse conhecimento, na esperança de que a tragédia nunca se repita.
Confira cinco livros essenciais escritos por sobreviventes:
É Isto Um Homem?, Primo Levi
Publicado originalmente em 1947, É Isto um Homem rememora os onze meses que o escritor italiano Primo Levi passou em Auschwitz, na Polônia, o campo de concentração mais temido do Terceiro Reich. Membro de uma família judia de Turim, Levi juntou-se ao movimento de resistência italiano depois da ocupação nazista, e acabou detido e enviado ao campo de extermínio em fevereiro de 1944, quando sua ascendência judia foi revelada. Lá, viu de perto os horrores da guerra e da maldade humana, enquanto lutava para sobreviver em um lugar onde a expectativa de vida – se é que se pode chamar assim o que se passava ali – era de apenas três meses. Libertado em 1945, Levi colocou suas memórias no papel um ano depois do retorno à Itália. No relato em primeira pessoa, em estilo irretocável, ele reflete sobre a fragilidade da vida humana e o projeto essencial dos campos de concentração, “a demolição do homem”.
Noite, Elie Wiesel
Laureado com um Nobel da Paz em 1986, o romeno Elie Wiesel tinha apenas 14 anos quando foi enviado junto com a família para Auschwitz, e depois para Buchenwald, no início dos anos 1940. Na época, seu país estava sob o regime autoritário de Ion Antonescu, aliado de Hitler que promovia um verdadeiro massacre de judeus e ciganos. Wiesel sobreviveu para contar a história, mas viu os pais e a irmã caçula serem exterminados no caminho. No relato curto, lançado em 1956, ele revive as memórias doloridas de quem viu a morte de perto, dividiu espaço com corpos humanos e sofreu a dor da perda. A narrativa embrulha o estômago por escancarar o status de “subhumanos” com que os judeus foram tratados pelo regime nazista.
A Bailarina de Auschwitz, Edith Eger
Bailarina e ginasta profissional, Edith Eger teve a carreira interrompida aos 16 anos, quando foi enviada para Auschwitz. No campo, viu os pais serem exterminados na câmera de gás e foi forçada a servir de entretenimento ao sádico Josef Mengele, médico que ficou conhecido como “o anjo da morte”. Enquanto dançava para o carrasco, imaginava-se no palco de uma ópera em Budapeste, enquanto o algoz especulava em voz alta sobre qual bailarina seria assassinada. Ao final da guerra, foi deixada com a irmã em uma pilha de corpos, doente e subnutrida, mas foi resgatada por soldados americanos. O livro é comovente, e se diferencia de outros relatos pelo bom humor da protagonista, uma tática de sobrevivência que lhe rendeu o apelido de “A Anne Frank que sobreviveu”.
Última parada: Auschwitz, Eddy De Wind
Com lançamento no Brasil programado para 13 de fevereiro, o livro é o único escrito dentro dos campos de concentração e conta a história de Eddy De Wind, um médico enviado a Auschwitz em 1943, junto de sua esposa. Perto do final da Guerra, os russos conseguem se aproximar de Auschwitz, e os nazistas enviam seus prisioneiros em expedições a pé até a Itália que ficaram conhecidas como “marchas da morte”. Wind, porém, conseguiu se esconder nos campos, e começou a relatar sua rotina enquanto aguardava socorro, descrevendo em detalhes os horrores que presenciou e ouviu dos companheiros de cárcere – inclusive da própria mulher, enfermeira destinada à área em que o sádico Mengele fazia experimentos com humanos.