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50 anos sem Hendrix: A trajetória e ousadia do gênio da guitarra

Sem um tostão, o músico foi para Londres arriscar a sorte: por lá, ficou amigo de Eric Clapton e tocou para os Beatles; relembre a icônica história

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 18 set 2020, 13h49 - Publicado em 18 set 2020, 13h30

Conhecer a obra completa de Jimi Hendrix, o melhor guitarrista de todos os tempos, não é uma missão difícil. Em 27 anos de vida, ele lançou apenas quatro álbuns de estúdio. Difícil mesmo é compreender todo o seu talento. Mesmo hoje, passados exatos 50 anos após a sua trágica morte, em 18 de setembro de 1970, em Londres, em decorrência do consumo excessivo de álcool e barbitúricos, músicos e fãs se debruçam sobre sua obra tentando compreender como ele conseguiu tirar sons tão criativos e envolventes do instrumento.

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Hendrix, que começou a carreira como músico de apoio nas bandas de Wilson Pickett, Sam Cooke e Little Richard, percebeu que não teria o reconhecimento que queria se continuasse vivendo nos Estados Unidos, à época muito mais racista do que nos dias atuais. Sem dinheiro, arriscou tudo ao mudar-se para Londres com o sonho de conhecer um de seus ídolos, o guitarrista Eric Clapton. O que se deu, no entanto, foi o contrário. O imenso talento de Hendrix com sua guitarra favorita, uma Fender Stratocaster, chocou Clapton. Uma semana depois de chegar em Londres, Hendrix num ato de ousadia, pediu para fazer uma jam com Clapton, durante um show do Cream. Clapton aceitou pensando que aquele rapaz recém-chegado iria se embananar todo. Como sempre, Hendrix surpreendeu a todos, desta vez com uma versão impossível de Killing Floor, de Howlin’ Wolf.

No pouco tempo de carreira (e de vida), Hendrix fez apresentações memoráveis, como em 1969, quando tocou o Hino Nacional dos Estados Unidos no antológico festival de Woodstock, recriando-o na guitarra, no auge da Guerra do Vietnã, e transformando-o em um libelo contra a violência.

Mas, a mais impressionante e ousada apresentação de Hendrix ocorreu em 4 de junho de 1967, apenas 72 horas após o lançamento do álbum Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, dos Beatles. Fascinado com o que ouviu, Hendrix decorou em poucas horas praticamente todas as músicas e decidiu abrir a apresentação que faria no palco do Saville Theatre, em Londres, com uma versão da primeira faixa do álbum. Detalhe: ele não havia avisado os colegas de banda, o baterista Mitch Mitchell e o baixista Noel Redding, de seus planos. Poucas horas antes de entrar no palco, Hendrix convocou os colegas e botou o LP para tocar no camarim. Ele teria dito: “Ouçam isso. Vamos tocá-la no palco hoje”.

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Surpresos, os colegas disseram ser impossível reproduzir toda a complexidade musical dos Beatles, especialmente de improviso. A pressão sobre eles ficou ainda maior quando descobriram que Paul McCartney e George Harrison estavam na plateia, além de Eric Clapton. “Os Beatles estão na plateia. É um baita insulto, cara”, um deles teria dito. Hendrix não se abalou e retrucou: “Só vai ser um insulto se fizermos tudo errado. Apenas me acompanhem.” McCartney recorda-se que após ter assistido à apresentação, teria dito para Harrison: “Agora vamos ter que regravar a p**** das guitarras”. Para deixar a história ainda mais saborosa, após a impressionante apresentação, Hendrix teria dito para Clapton na plateia: “Você afina a guitarra pra mim, por favor?”. Essa história, aliás, sempre é contada por Paul McCartney em seus shows, quando ele reserva um momento para homenagear Hendrix com um cover de Foxy Lady (assista abaixo). Para além da genialidade de Hendrix, o que o guitarrista percebeu naquele dia foi uma oportunidade de provar que era um grande guitarrista. Ele havia acabado de chegar em Londres, completamente desconhecido, e precisava mostrar serviço. Deu certo.

A cena do show no Saville Theatre foi recriada na cinebiografia Jimi: Tudo a Meu Favor (2013), em que Hendrix é interpretado pelo músico André 3000. Abaixo, assista também a gravação original do show e a reprodução da cinebiografia.

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