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Viagem às origens: o ‘turismo regenerativo’ está em alta

Em voga no Brasil e no mundo, tendência propõe experiências positivas, ao proteger o ambiente e beneficiar as comunidades locais

Por Marília Monitchele Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 10h07 - Publicado em 23 jul 2023, 08h00

A expressão “turismo regenerativo” está em circulação há algum tempo, mas foi só a partir de 2017 que ganhou contornos mais definidos. Naquele ano, o Conselho Global de Turismo Sustentável (GSTC), organização não governamental ligada às Nações Unidas para promover a responsabilidade social no setor, lançou os princípios básicos para condução de negócios e manutenção de destinos selecionados. Transformado em tendência, o conceito prega a criação de experiências positivas para os viajantes e, simultaneamente — eis o pulo do gato —, a proteção ao ambiente e às comunidades originais. No Brasil e no mundo ganhou agora imensa tração. Tem sido adotado em locais como o arquipélago de Fernando de Noronha, Santo André e Santa Cruz Cabrália, no sul da Bahia, e também no Panamá, na Costa Rica e no Zimbábue.

É, a rigor, uma volta às origens. O turismo regenerativo, na verdade, questiona o papel das excursões tradicionais, desregradas. Consequência da globalização, a esperada padronização tomou conta dos serviços hoteleiros e até dos cardápios, adaptando pratos típicos para paladares supostamente universais. É ir, ver, aproveitar, fazer sujeira e vir embora, sem nenhum zelo. A crescente conscientização dos impactos ambientais causados pelo setor, a demanda por experiências autênticas e o papel das redes sociais no compartilhamento desses momentos, porém, têm forçado uma correção de rumo da indústria hedonista. “A ideia é recuperar os recursos naturais, fortalecer as comunidades e melhorar a qualidade de vida dos habitantes”, diz Milene Moreira, consultora de turismo especialista no tema.

VICTORIA FALLS, ZIMBÁBUE - O Parque Nacional Mosi-oa-Tunya, na fronteira com a Zâmbia, é uma das maiores quedas-d'água do mundo. Os viajantes passeiam e, simultaneamente, entendem o zelo com a fauna, composta de animais como elefantes e búfalos
VICTORIA FALLS, ZIMBÁBUE – O Parque Nacional Mosi-oa-Tunya, na fronteira com a Zâmbia, é uma das maiores quedas-d’água do mundo. Os viajantes passeiam e, simultaneamente, entendem o zelo com a fauna, composta de animais como elefantes e búfalos (Edwin Remsberg/VW PICS/UIG/Getty Images)

Tudo isso pode ser alcançado por meio de práticas como a conservação e a recuperação de ecossistemas, a promoção da cultura local e o apoio ao empreendedorismo regional. A ideia é transformar os visitantes em agentes ativos, capazes de deixar um impacto positivo, e não apenas financeiro, nos destinos visitados. “Todos os locais de visitação têm um número máximo de pessoas que pode suportar e isso precisa ser respeitado”, afirma Thais Guimarães, executiva da Conservation International Brasil, organização de defesa da biodiversidade. “Em vários lugares, como Barcelona e Veneza, o morador rejeita o turista porque não suporta mais. É preciso repensar o modelo.”

A indústria do turismo é responsável por 8% das emissões de gases de efeito estufa no mundo. Daí a relevância de adotar novas práticas, sempre atentas à preservação da herança biocultural dos destinos. Um exemplo é o Panamá, que assumiu a dianteira dessa tendência com foco em desenvolvimento comunitário, tornando-se um dos destinos favoritos de quem busca experiências de viagens ecológicas. “O país está mostrando que o turismo é realmente um catalisador econômico que pode ser utilizado para proteger as comunidades naturais, culturais e locais”, diz Woodrow Oldford, diretor de marketing da Promtur, órgão de promoção de turismo no país.

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ILHA GRANDE, PANAMÁ - Colón, uma das províncias do Caribe panamenho, tem habitações de cores vibrantes, praias de águas cristalinas, cultura ancestral e uma gastronomia requintada. Os visitantes participam do cotidiano comezinho do lugar
ILHA GRANDE, PANAMÁ – Colón, uma das províncias do Caribe panamenho, tem habitações de cores vibrantes, praias de águas cristalinas, cultura ancestral e uma gastronomia requintada. Os visitantes participam do cotidiano comezinho do lugar (Promtur/Divulgação)

O Brasil ocupa a 54ª posição entre os países no mundo que mais investem em práticas sustentáveis no turismo, segundo a Sustainable Travel Index, da Euromonitor. Na esteira dessa tendência, a Aliança Futuri, união entre empresas, comunidades de destinos turísticos e governos estaduais, atua no sul da Bahia, em destinos como Porto Seguro, Santa Cruz Cabrália e Caraíva. O projeto busca incentivar cadeias turísticas sustentáveis e auxiliar na transição de modos tradicionais de turismo para atividades regenerativas. Trata-se, por exemplo, de convivência saudável, no contato e também no comércio, com as comunidades dos quilombos, terras indígenas e vilas de pescadores.

Dentro das práticas de turismo regenerativo, a ideia é colocar o turista como um convidado muito bem-vindo, livre para aproveitar todos os atrativos e belezas dos destinos, e não como depredador. Nessa condição, no entanto, deve saber que precisa respeitar a cultura e os valores do anfitrião e deixar a casa limpa, arrumada e melhorada para os próximos que virão. Só assim a experiência pode ser verdadeiramente completa e transformadora. Para ele, e para o mundo.

Publicado em VEJA de 26 de julho de 2023, edição nº 2851

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