Valentino cria um tom único de rosa que se torna a marca da estação
O costureiro italiano eternizou o vestido rubro como símbolo de poder e elegância femininos
O estilista italiano Valentino Garavani explicou certa vez qual era a fonte de sua paixão pela moda. “Eu amo a beleza, não é culpa minha.” Foi precisamente esse afeto pelas formas clássicas e harmoniosas que moldou sua trajetória como um dos grandes mestres da alta-costura e o tornou o grande responsável por eternizar o vestido vermelho. O Red Valentino, o nome do tom de vermelho brilhante criado por ele em 1959 sob inspiração da energia dramática da ópera Carmen, de Georges Bizet, deu luz a figurinos de mulheres maravilhosas como Jacqueline Kennedy Onassis (1929-1994), sua maior musa, Elizabeth Taylor (1932-2011) e Sophia Loren. Agora, ao completar 90 anos, o italiano acrescenta novamente à paleta uma tonalidade só sua, o Valentino Pink PP, desenvolvido em parceria com a Pantone Color Institute — empresa referência das cores utilizadas nas indústrias têxtil e gráfica.
A cor virou febre entre os amantes do clássico Valentino, o que era esperado, mas serviu também para despertar entre os mais jovens o fascínio pela tradicional casa italiana. A atriz Zendaya, de 25 anos, protagonista da série Euphoria e do filme Homem-Aranha: sem Volta para Casa, aclamada a musa da geração Z, foi uma das primeiras a se render à tonalidade e prontamente transformada em embaixadora da maison. O leque de adesões ao Pink PP é imenso: a top model Gigi Hadid, as atrizes Kiernan Shipka, Gillian Anderson e Simone Ashley, as cantoras Dua Lipa e Ariana Grande, o cantor Maluma e até o piloto Lewis Hamilton, visto a bordo de um pink Valentino entre um boxe e outro do circuito da Fórmula 1. A celebração definitiva da nova cor veio no Met Gala 2022, em Nova York, representada pelo terno com capa exibido pela atriz Glenn Close, no street style do modelo ostentado pelo ator Sebastian Stan e no vestido romântico de Nicola Peltz Beckham, casada com Brooklyn, fotógrafo e filho do ex-jogador de futebol inglês David Beckham.
Há, evidentemente, um quê de marketing no lançamento do tom, um modo de chamar atenção para a grife. Faz parte do jogo das passarelas, é movimento natural da indústria de roupas, e deve ser recebido com naturalidade. Contudo, é inovação celebrada com entusiasmo, sobretudo por sair das mãos de um ícone incontornável. “Valentino foi um revolucionário nos anos 1970 e continua sendo uma grande referência”, diz o estilista brasileiro Reinaldo Lourenço. “Há décadas ele produz e consegue expressar o novo e a beleza sem perder o tom vanguardista e o glamour que o tornaram um exemplo para todos.”
Além de festejar a festa mundial em torno de seu rosa, chamativo, como se gritasse em voz alta, Valentino anda leve e feliz em virtude da avalanche de homenagens que tem recebido. Uma das mais interessantes é uma instalação aberta ao público no Teatro Sociale di Voghera, sua cidade natal, localizada na região de Pavia, no norte da Itália. Até 5 de junho, as criações por ele desenvolvidas desde 1960, entre elas 36 vestidos no tom rubro do começo da carreira, estarão expostas no local. A grife também prepara o lançamento de um moletom especial que trará estampada a famosa frase do costureiro italiano sobre sua adoração pela beleza. Claro que as letras estarão escritas no Pink PP, como manda o figurino.
Daqui para a frente, afinal, o tom será a marca da renovação da criatividade do gênio precoce. Ele começou na arte das linhas e linhos aos 15 anos, quando chegou a Paris para estudar técnicas de alta-costura na Chambre Syndicale de la Couture com nomes como Cristóbal Balenciaga, Jean Dèsses e Guy Laroche. Rapidamente construiu uma estrada própria, de valor estético inigualável e poder comercial raro. Valentino é hoje considerado o último grande mestre vivo da moda. “Viva por 100 anos”, exclamou Jackie Kennedy ao estilista em 1966. O pedido parece estar sendo atendido, tingido de novas cores.
Publicado em VEJA de 25 de maio de 2022, edição nº 2790