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Turismo animal: pets são recebidos como hóspedes vips em resorts mundo afora

Foi-se o tempo em que os humanos viajavam e deixavam seus amigos para trás

Por Júlia Sofia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 25 Maio 2025, 08h00

No ultraluxuoso hotel Rosewood, em São Paulo, todos os hóspedes são recebidos com um drinque de boas-vindas no restaurante Le Jardin — inclusive aqueles de quatro patas. Além da tigela de conteúdo refrescante, uma mistura de água de coco com mirtilo, os cães que ali se hospedam com seus donos são agraciados com cardápio exclusivo, cama especial e serviço de concierge, mimos que saem por 500 reais por estadia e não se limitam aos visitantes caninos. Por lá, já passaram papagaios, répteis e saguis.

O Rosewood se insere na crescente confraria de hotéis e pousadas requintadas que estendem ao reino animal a hospedagem cinco-estrelas. O crescimento desse nicho no Brasil se finca no avanço da população dos bichos de estimação — são ao todo 164 milhões deles, mais de um terço cães de raças variadas, e subindo ano a ano. O tratamento vip que lhes é dispensado se amolda bem a seu status atual em lares pelo mundo: segundo levantamento da Euromonitor, 60% são vistos por tutores como filhos.

É sob essa moldura de elos cada vez mais firmes entre os Homo sapiens e seus pets — fenômeno que se aprofundou no cenário pós-pandemia, quando não raro um era a única companhia do outro — que a bicharada passou a ser parceira frequente em viagens planeta afora. Muitas vezes, inclusive, a razão para empacotar as malas não gira em torno das necessidades humanas, mas do desejo de lhes proporcionar horizontes para além das já exploradas calçadas ao redor de casa.

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AMIZADE - Juliana em Paris: dicas nas redes sobre viagens bem acompanhada (//Arquivo pessoal)

Um exemplo disso é a funcionária pública Jennifer de Souza Carneiro, 41 anos. Sempre que pega a estrada, ela põe Mocha, seu peludo lhasa apso, como prioridade na escolha do destino. No mais recente passeio a dois, Jennifer e Mocha se hospedaram na Pousada Gaia Viva, em Igaratá, interior de São Paulo. Ciente dos ventos que sopram a favor dessa demanda, o local se define como “um refúgio para cães e seus humanos de estimação”. O fim de semana varia de 2 350 a 3 700 reais para duas pessoas (incluindo o pet, claro). Em troca disso, dá-lhe atividade. “Queria que o Mocha se divertisse, em vez de ficar preso no quarto. Lá, ele nadou, participou das refeições e explorou os espaços”, relata. “Tem hotel que aceita pets, mas enche de restrições. Isso não é ser pet friendly”, afirma ela, que aproveitou a estada para dar uma desacelerada.

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Diante de tanta gente disposta a investir no bem-bom animal, é natural que tenha aparecido um nicho novo no ramo da hospitalidade — o dos resorts só para eles, cada vez mais fartos em paparicos. No Tunghat’s, na estrada entre Rio de Janeiro e Teresópolis, os viajantes contam com salas de banho relaxante, ambientes climatizados e suítes personalizadas. “Nossos hóspedes vêm do mundo todo. Um tutor deixou três cães conosco em testamento. Somos parte de uma família”, orgulha-­se Allan Wajnberg, um dos fundadores do hotel, em que nenhuma reserva é aceita sem avaliação veterinária e “entrevista comportamental”. O custo da diária por lá é de 237 reais. No Itanhangá, na Zona Oeste carioca, a empresária Mariana Cabral inaugurou o Casa Dois, um hotel e creche para cães com cachoeira privativa, trilhas e cuidados individualizados. Custa 110 reais por noite. Há opções em que os humanos podem se divertir junto a seus donos, como na Pousada Le Ange, na serra fluminense, que oferece cachoeiras e lagos, além de piscina e ofurô. Um fim de semana pet-friendly para dois adultos e seu animal de estimação, com todas as refeições incluídas, pode custar cerca de 4 000 reais. “São todos serviços que trazem benefícios reais aos pets, como relaxamento e estímulo físico e mental”, explica Aline Bertozo Cavalheiro, da Comissão Nacional de Estabelecimentos e Práticas Veterinárias.

Tratar bichinhos de estimação como gente é tendência universal. Em cidades como Portland, nos Estados Unidos, é comum ver animais de estimação circulando livremente por lojas, cafeterias e até ônibus turísticos. Na Suíça, mais de 80% dos hotéis aceitam pets. A Holanda, que eliminou o problema dos vira-latas soltos na rua — hoje, todos têm um lar —, é tida como um dos destinos mais pet friendly do mundo. Em todos esses cantos do globo, evidentemente, há hospedagem de alto nível para integrantes da fauna. A veterinária e influenciadora Juliana Stephani, que viaja frequentemente com seus dois cães e compartilha dicas com seus mais de 180 000 seguidores no Instagram, confirma: “Na Europa, os pets entram no transporte público, em parques e em hotéis preparados para recebê-los. No Brasil, ainda falta estrutura”, compara.

Portrait of a young beautiful purebred sleeping cat lying dozing on the chest of a female client, who scratches her chin and lying on a cosmetology table in a home beauty salon, for whom the master did eyelash lifting, bottom side view close-up with depth of field.
NA ALEGRIA - Spa em hotel: mimos se estendem a uma fauna variada (iStock/Getty Images)
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Hospedar como se deve os animais demanda critérios rígidos de controle sanitário. “Os países europeus têm vacinação em dia e, muitas vezes, estão livres da raiva, o que facilita a mobilidade dos bichos entre fronteiras. No Brasil, a elevada incidência dessa doença é um dos maiores entraves para que nossos pets possam viajar com liberdade e segurança”, afirma Juliana. Além das questões relacionadas à saúde, receber bem o bichinho que põe as patas na estrada requer pisos laváveis, áreas de passeio e equipe treinada. Os hotéis para pets também precisam de registro no Conselho Regional de Medicina Veterinária.

Sob o ângulo dos humanos, alguns cuidados são recomendados às vésperas do embarque. A veterinária carioca Pamela Maluf destaca a importância de observar o comportamento do animal e pôr coleira repelente. “Não há um pet que não possa viajar, mas alguns exigem adaptações. Raças com focinho achatado, como pug e buldogue francês, devem evitar voos longos por causa da respiração”, orienta. Isso posto, a presença do animal de estimação nos passeios vai além da mera companhia. “Ela ativa a liberação de ocitocina, o hormônio do vínculo. Para muita gente, viajar com o pet é uma forma de se sentir em casa, mesmo longe dela”, esclarece o psicanalista Artur Costa. Sorte da bicharada, que antes era deixada para trás com uma tigela de ração e agora integra o feliz rol dos turistas pelo mundo.

Publicado em VEJA de 23 de maio de 2025, edição nº 2945

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