Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Trabalho remoto leva onda de ricaços a se transferir para o Havaí

Resultado: os mais altos custos registrados em todo o estado

Por Caio Saad Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 12h14 - Publicado em 10 set 2022, 08h00

Em um primeiro momento, a pandemia foi um golpe desastroso para o Havaí: no estado americano em que um quarto da receita vem do turismo, a pausa nas viagens resultou em hotéis, restaurantes e parques fechados e um êxodo de trabalhadores desempregados na direção do continente. Passado o primeiro impacto, porém, o arquipélago no Pacífico se reinventou como destino paradisíaco — e ainda por cima pertinho — para a mão de obra da Costa Oeste que se enclausurou no trabalho remoto e, em paralelo, para os bilionários que empregam esse pessoal. E eis que o preço das moradias, que nunca foi baixo, disparou a tal ponto que o Havaí ostenta agora o incômodo título de mais elevado custo de vida nos Estados Unidos, batendo Nova York e Califórnia. “Sempre incentivamos as pessoas interessadas em uma experiência autêntica a vir para cá e viver como um local, mas a mensagem passou a ser interpretada como ‘Mude-se para cá e se torne um local’”, lamenta Chris Kam, presidente do instituto de pesquisa OmniTrak, de Honolulu.

arte Havaí

O vilão da escalada do custo de vida é, de longe, a casa própria (e seu contraparente, o aluguel). Do fim de 2019 ao começo de 2022, período que abarca o planeta entorpecido pela pandemia, o preço médio de uma casa de família em Oahu, a ilha onde fica a capital, Honolulu, e onde mora a maioria da população, saltou de 790 000 dólares para 1,15 milhão. No ano passado, um quarto dos imóveis comercializados no estado foi para as mãos de gente de fora disposta a pagar fortunas sem sequer se dar ao trabalho de visitar antes a propriedade — o prazo médio entre oferta e venda é atualmente de dez dias. Com a invasão estrangeira e seu efeito no mercado imobiliário, a crise de moradias no Havaí, que já era grave, se intensificou. Os salários da classe média não mais permitem a compra de casa própria e, segundo dados do Censo, 55% dos inquilinos havaianos estão enterrando ao menos 30% da sua renda no aluguel. “Vemos médicos, engenheiros e professores indo para lugares mais baratos. E nós precisamos deles aqui, se quisermos progredir coletivamente”, alerta Talitha Liu, diretora da ONG Housing Hawaii’s Future.

Puxando a fila dos “novos havaianos” estão os bilionários — no último ano, o número de mansões adquiridas por mais de 10 milhões de dólares cresceu seis vezes. A lista é portentosa. Das escrituras de imensas propriedades nas ilhas havaianas constam os nomes dos fundadores de eBay, Starbucks, PayPal, Oracle e Salesforce. Mark Zucker­berg, o gênio do Facebook (hoje Meta), comprou há dez anos um pedação de terra na Ilha de Kauai e nestes últimos tempos, em casa por causa do isolamento social, aproveitou para expandir seus domínios — já investiu um total de 170 milhões de dólares em compras. Para acalmar os vizinhos, que reclamam da gana aquisitiva e dos altos muros, espalha doações pelo arquipélago — entre elas 50 milhões de dólares para a Universidade do Havaí, a maior já vista por lá. Jeff Bezos, da Amazon, adquiriu recentemente uma megamansão na ponta sul da Ilha de Maui, a mesma onde a apresentadora Oprah Winfrey tem seu pequeno reino. Elon Musk, o mais rico de todos, famosamente não compra casa própria, mas está investindo no centro de wellness e economia sustentável que o amigo Larry Ellison, da Oracle, desenvolve em Lanai (ele abocanhou 98% da ilha em 2021, pela pechincha de 300 milhões de dólares).

LATIFUNDIÁRIOS - Os “estrangeiros”: Bezos comprou mansão, enquanto Mark Zuckerberg (à dir.) expande os seus domínios -
LATIFUNDIÁRIOS – Os “estrangeiros”: Bezos comprou mansão, enquanto Mark Zuckerberg (à dir.) expande os seus domínios – (Phillip Faraone/Getty Images; Justin Sullivan/Getty Images)
Continua após a publicidade

O preço das moradias no Havaí não é o mais alto do país — a média chega a 1,5 milhão de dólares em San Francisco e explode em 2,3 milhões em Manhattan. Mas ao milhão para arrematar uma casa soma-se o valor excepcionalmente elevado de quase todos os artigos, do litro de leite aos automóveis, e está feito o cálculo do mais salgado custo de vida do país. Uma consulta médica, por exemplo, sai 65% a mais do que no continente e a conta de energia no fim do mês é o dobro da de Nova York, fatores que suprimem a vantagem de a renda média local ser 20% acima da americana. “Esse problema existe desde antes da pandemia e da inflação atual”, explica Gavin Thornton, diretor-executivo da Hawaii Appleseed, ONG que ajuda pessoas de baixa renda com questões legais relacionadas à moradia. “Como comunidade, precisamos determinar que pessoas que trabalham quarenta horas por semana têm de poder pagar por sua moradia, através de aumento de salários ou de investimentos governamentais.” Nesse sentido, a Câmara Municipal de Honolulu aprovou o orçamento do ano fiscal 2021-2022 com foco em projetos de casas acessíveis para pessoas de baixa renda. Terá de agir rápido, senão Zuckerberg vai lá e compra o terreno.

Publicado em VEJA de 14 de setembro de 2022, edição nº 2806

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.