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Toda nudez será castigada? O significado por trás da proibição de “vestidos nus” no tapete vermelho de Cannes

Ação conservadora, outras proibições e como serão aplicadas: há uma boa história a ser desvendada sobre o código de vestimenta "decente" do festival francês

Por Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 14 Maio 2025, 14h12

O mais rígido dos tapetes vermelhos ficou ainda mais rígido: na terça-feira 14, o Festival de Cinema de Cannes anunciou um novo código de vestimenta, em que “a nudez é proibida no tapete vermelho, assim como em qualquer outra área do festival”. Também são vetados os vestidos “volumosos”, que atrapalham o fluxo de entrada de astros e estrelas, mas considerando a palavra “decência”, é claro que as atenções são todas para os chamados “naked dress”

Mas o que seriam considerados vestidos decentes, como sugere o código? Aparecer sem mangas, com fendas e decotes já é constante entre os modelos escolhidos, inclusive em Cannes. Ao que parece, a proibição tem a ver com os vestidos que mostrem mais do que deveria – leia-se os seios e o bumbum, como o modelo Saint Laurent marrom e sem forro que a modelo Bella Hadid usou em 2024. Este ano, porém, mesmo com a proibição, ela desafiou as regras e apareceu com outro modelo da grife francesa, completamente decotado em todos os ângulos – nas laterais, nas costas e com uma enorme fenda – mas sim, não era transparente.

Reflexo do conservadorismo? 

A história, no entanto, vai muito além. Parece mais condizente com o momento de ascensão do conservadorismo cultural e, consequentemente, o maior policiamento do corpo feminino – neste caso, em nome da “decência”. Mas para alguns, o chamado “vestir-se pelado” é uma questão de empoderamento. “Pele nua é proibida no tapete, mas uma vez lá dentro, está bem ali na tela. Quase sempre feminina, é claro”, escreveu o Boring Not Com. “Não podemos esquecer que este é o mesmo festival que proibiu mulheres de usarem sapatilhas em 2015. Tudo isso enquanto ainda estendia o tapete vermelho para Roman Polanski (que em 1978 fugiu dos Estados Unidos antes de ser acusado por estupro de menor)”

Outras publicações ainda destacaram outra regra famosa (e paradoxal) na cidade francesa Cannes: a proibição do burquíni em 2016, que decretou que mulheres muçulmanas usando o traje de banho, que esconde o corpo inteiro, exceto o rosto, poderiam ser uma ameaça à ordem pública. “Uma mulher que se veste modestamente e cobre a cabeça por motivos religiosos não é permitida, assim como uma mulher com um vestido transparente é vista como ‘indecente’. Você precisa se vestir de forma conservadora, mas não excessivamente conservadora”, escreveu a revista Stylist.

No festival, contudo, a proibição não se limita à nudez. “Trajes volumosos, em particular aqueles com cauda larga, que dificultam o fluxo adequado de visitantes e a acomodação de assentos no teatro, não são permitidos”. Aí vem o cerne da questão: para que serve, na verdade, o tapete vermelho?

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Moda e Marketing 

O que – ou melhor, quem – as pessoas estão vestindo tem sido uma questão essencial desde 1994. Nos últimos anos, os tapetes vermelhos têm sido comparados a anúncios e exercícios de marketing em que celebridades recebem muito dinheiro para usar o design de um determinado estilista, possivelmente mudando o foco dos filmes para a moda. Nesse contexto, o MET Gala seria o exemplo mais extremo, já que se tornou uma plataforma de vestidos espetaculares e cada vez mais dramáticos, com o objetivo de atrair o máximo de atenção possível; caudas compridas, ao que parece, fazem exatamente isso.

Mas Cannes permaneceu um pouco diferente.  De acordo com uma fonte do jornal britânico The Guardian, em 2023, “os principais prêmios dos EUA têm um financiamento mais pesado – com cachês de mais de US$ 100 mil por um look de tapete vermelho – então há muito mais pressão”. Em contraste, em Cannes, essa “obrigação” em usar marcar seria menor. O que significaria, talvez, uma liberdade maior em vestimentas, o que também teria virado um problema, já que o festival francês acabou se tornando quase uma passarela não oficial, com a moda, às vezes, se sobressaindo sobre os próprios filmes (algo não muito bom para uma mostra de cinema)

Voltando ao código de vestimenta, como o anúncio da proibição foi feito apenas um dia antes do início do festival, será difícil ser seguido à risca, já que a maior parte dos figurinos das estrelas já devem ter sido planejados há meses. Halle Berry, por exemplo, já saiu prejudicada – ela teria planejado um vestido volumoso que agora não pode usar porque a cauda está grande demais. “É, eu tive que mudar de ideia. Mas a parte da nudez, eu acho que é uma boa regra”, disse. Para outros, o lado da proibição que trata do volume faz mais sentido, pelo congestionamento que causam por conta de estrelas que intencionalmente usam a coisa mais grandiosa que conseguem encontrar para justamente tomar todo o tapete vermelho para si.

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Esta não é a primeira vez que o Festival de Cinema de Cannes implementa uma proibição dessa natureza. Em 2018, o diretor artístico do festival, Thierry Frémaux, proibiu a selfie, afirmando à revista Le Film Français que, “no tapete vermelho, o aspecto trivial e a desaceleração provocada pela desordem que essas selfies criam mancham a qualidade [da experiência no tapete vermelho] e do festival como um todo”.

Vale para todos?

E será que Cannes realmente fiscalizará essa proibição? Embora o festival tenha destacado que “as equipes de recepção serão obrigadas a proibir o acesso ao tapete vermelho de qualquer pessoa que não respeite essas regras”, ainda não se sabe como exatamente isso será feito. Porque, apesar de estabelecer diretrizes tão rígidas no passado, nem sempre foram aplicadas com eficácia. Em 1953, por exemplo, Pablo Picasso obteve uma dispensa especial para usar um casaco de pele de carneiro, violando o código de vestimenta para a noite. Em outra ocasião, tal concessão não foi feita a Henry Miller, que, em 1960, se recusou a obedecer ao código e, apesar de ser membro do júri, foi impedido de entrar na noite de abertura por não estar usando um smoking.

Segundo o Style Not Com, “isso não se aplicará às verdadeiras estrelas do tapete vermelho. As modelos e embaixadoras da marca que aparecem para a sessão de fotos, pulam a exibição e saem pelos fundos. Que, sejamos honestos, são a maioria delas.” O mais provável é que algumas influenciadoras, usando vestidos do tamanho de carros, sejam mostradas na rampa de saída do tapete vermelho.

Mas se a história nos diz alguma coisa, aqueles que desobedecerem e escaparem impunes não serão julgados pelos olhos do público. Pelo contrário: desobedecer a um código de vestimenta considerado esnobe ou patriarcal já rendeu elogios a estrelas de Hollywood que, naquele momento, demonstravam sua coragem. Julia Roberts, por exemplo, andou descalça em 2016, um ano após os sapatos baixos serem proibidos. A atitude lhe rendeu o título de “queridinha da América” ​​na revista Vanity Fair. Em 2018, Kristen Stewart desfilou seus Louboutins no tapete vermelho, tendo dito anteriormente ao Hollywood Reporter: “Se você não está pedindo para os homens usarem salto e vestido, você também não pode me pedir.” Será então que aquelas que liberem o mamilo – e escaparem impunes – receberão elogios semelhantes? É esperar para ver!

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