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Tendência na Coreia do Sul e no Japão, a onda da ‘glass skin’ toma conta do Ocidente

Ela alimenta uma indústria milionária de cosméticos

Por Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 28 out 2024, 18h16 - Publicado em 27 out 2024, 08h00

Influenciado pelas redes sociais, sempre elas, eis que surge um novo fenômeno de cuidados com a pele: a glass skin — ou “pele de vidro”. Trata-se de um cuidado facial composto por medidas e produtos que prometem uma tez translúcida, radiante e com brilho natural, e que tomou de assalto o universo da beleza, ganhando espaço também nas passarelas e nas prateleiras das lojas de cosméticos. Começou na Coreia do Sul, potência global em inovações desse tipo, por meio da k-beauty (beleza coreana), cultura que busca incessantemente uma epiderme impecável e saudável. No Japão, virou febre. E agora ganha tração no Ocidente, à medida que os consumidores são seduzidos por produtos que garantem evocar a tal cútis luminosa.

Alguns dados ajudam a dar conta do tamanho da febre. No Reino Unido, por exemplo, a demanda por loções e séruns de luxo com essa descrição aumentou 13% em relação a 2023, de acordo com a Circana, consultora especializada em consumo. Elixires para “extrema hidratação e umidade” são ainda mais procurados, com vendas 15% maiores, especialmente de marcas sul-coreanas como Cosrx, Beauty of Joseon e Laneige, que viralizaram na internet. Até a Boots, a maior varejista britânica de beleza, expandiu sua linha de cosméticos para essa turma, adicionando novos produtos em endereços fixos e no ambiente digital, onde as pesquisas por “cuidados com a pele coreanos” aumentam 83% ano a ano. Segundo um relatório da Straits Research, a k-beauty será um negócio de 18,3 bilhões de dólares até 2030. São números impressionantes que fizeram as marcas globais também correrem atrás de criar fórmulas e métodos visando atingir o comentado brilho excepcional. “A glass skin é uma evolução natural da filosofia das coreanas, que priorizam o cuidado diário às soluções rápidas”, afirma o dermatologista Otávio Macedo, membro fundador da Sociedade Brasileira de Medicina e Cirurgia a Laser.

K-BEAUTY - Febre em lojas do Japão (acima) e do Reino Unido: o mercado global cresce, em média, 13% ao ano
K-BEAUTY - Febre em lojas do Japão (acima) e do Reino Unido: o mercado global cresce, em média, 13% ao ano (Carlo Bollo/Alamy/Fotoarena/.)

Para que a pele pareça hidratada, brilhante e perfeitamente uniforme, as orientais combinam os cuidados com o rosto ao uso estratégico de maquiagem e produtos iluminadores, em um longo ritual composto por várias etapas. Começa com uma limpeza profunda com óleo e um limpador à base de água. Depois, vem a hidratação intensa, maior segredo da pele de vidro, obtida com a aplicação de cosméticos ricos em ácido hialurônico. Essências e loções hidratantes dão a aparência “molhada”. Séruns iluminadores com vitamina C e niacinamida melhoram o brilho natural da pele. O primer iluminador com partículas de brilho reflete a luz. Uma maquiagem leve realça a pele. E, por fim, iluminadores líquidos dão o efeito de pele molhada e reluzente. A indústria, voraz, incentiva ainda a adição de mais e mais produtos criados para a onda, como os glassy mists, sprays faciais que adicionam brilho, e máscaras faciais com ação iluminadora, formuladas com extratos de frutas, ginseng, mucina de caracol, lodo, pérolas e até diamantes moídos, que dão um aspecto de vidro ainda mais marcante. “Uma novidade interessante são as tecnologias de nanocápsulas de ativos, que permitem a liberação gradual da substâncias”, diz Macedo.

Embora a glass skin sinalize à aplicação restrita de cosméticos tradicionais, no caminho do menos é mais, minimalista, convém sempre ter atenção — especialmente na avalanche dos dias de hoje, em que boa parte dos influencers é sinônimo de má influência, ao alimentar o consumo desenfreado. No caso de crianças e adolescentes, vale a recomendação de acompanhamento médico, já que nem todos esses produtos são indicados para esse público, especialmente os que contêm algum tipo de ácido, geralmente formulados para peles mais maduras e que podem causar alergias e irritações nos jovens. O alerta é fundamental e irrecorrível, embora não tenha força, de modo algum, para frear o fenômeno que veio do Oriente — até que brote um outro, porque assim vive a humanidade quando se trata de exercitar a estética.

Publicado em VEJA de 25 de outubro de 2024, edição nº 2916

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