Retomada dos museus inspira visitantes em diversos pontos do mundo
Em um tempo de tanta tecnologia on-line, há espaço para essas instituições? A resposta é sim, há
Lugares para reviver todas as épocas, terrenos de lembrança e reconstrução de feitos e desfeitos dos seres humanos, os museus são, na definição do Conselho Internacional dos Museus, instituições que adquirem, preservam, interpretam e exibem artefatos de relevância artística, cultural, científica e histórica. Há cerca de 104 000 no mundo e mais de 3 800 no Brasil. Afetados pelo confinamento imposto pela pandemia, passaram por transformações compulsórias, como a adaptação digital, mas voltaram ao gosto do público que tem sede de conhecimento. E à pergunta necessária — em um tempo de tanta tecnologia on-line, há espaço para essas instituições? — a resposta é sim, há.
Vários museus serão inaugurados neste ano em diversas partes do mundo. Em São Paulo, a Pinacoteca Contemporânea abrirá as portas no próximo dia 3 de março. Dedicado, como o nome anuncia, à produção artística de nossos dias, o edifício não apenas complementa o complexo Pinacoteca, com a Pinacoteca Luz e a Pinacoteca Estação, como também joga luz em um conjunto urbano que ajudará a valorizar o centro paulistano. Ao custo de 85 milhões de reais, dos quais 55 milhões em investimento público, ocupa dois blocos de edifícios: um mais antigo, atribuído ao escritório de Ramos de Azevedo, remanescente da primeira escola lá construída, e outro mais moderno, da década de 50, de autoria do arquiteto Hélio Duarte.
Para além da arte, há a preservação de capítulos da civilização, a criação alimentada por momentos de intensa alegria e de extrema tristeza. Nos Estados Unidos, esse vaivém das sociedades aparece em dois novos museus. Com inauguração prevista para 10 de março, o Punk Rock Museum vai ocupar mais de 1 000 metros quadrados em um espaço entre o centro de Las Vegas e a famosa Sunset Strip — local improvável para a celebração de uma música vista como retrato da contracultura, rebelião e inconformismo. Imaginado pelo Punk Collective, grupo de músicos e profissionais da indústria, reunirá uma coleção de memorabilia que inclui desde folhetos de shows até instrumentos usados por artistas e bandas como Blondie e Offspring. No campo oposto, o Museu Internacional Afro-Americano, em Charleston, no estado americano da Carolina do Sul, representa um período assombroso da história americana, o da escravidão. Construído sobre o Gadsden’s Wharf, cais onde aportavam navios com escravizados vindos da África, abrigará nove galerias, com cerca de 300 obras de arte e artefatos históricos. Além de se educar sobre essa chaga histórica, os visitantes também aprenderão sobre a cultura africana. Haverá, também, um Centro de História da Família, que permitirá aos descendentes africanos rastrear sua genealogia. A previsão é que a instituição comece a funcionar ainda no primeiro semestre deste ano.
Quando o assunto é história, reafirme-se, o leque de possibilidades é imenso. É o que revela o Museu da Guerra Fria Dinamarquês, na região de Jutlândia do Norte, construído no abrigo antinuclear de Regan Vest. Destinado a proteger o governo local e a rainha no caso de uma emergência, nos anos 1960, foi um dos segredos mais bem guardados do país. Os passeios guiados pelas instalações a 60 metros abaixo do solo, na floresta de Rold Skov, incluirão visitas a galerias na superfície e às dependências subterrâneas. Outro exemplo é o Grande Museu Egípcio, no Cairo, que teve sua abertura postergada para 2023. Projetado para ser o maior centro arqueológico do mundo, reunirá tesouros e artefatos de um dos países mais antigos do mundo. Tem mais: o Museu Robô e IA, em Seul, na Coreia do Sul, uma construção esférica que se parece com uma nave espacial, deverá abrir à visitação em julho. Contará com quatro andares dedicados aos robôs e à inteligência artificial. Passado, presente e futuro convivem nesses espaços que representam um convite a sair da frente de uma tela de smartphone. Valerá, portanto, para sempre, a frase do banqueiro e filantropo David Rockefeller: “Um museu tem que renovar seu acervo para estar vivo, mas isso não significa que desistamos de relevantes obras antigas”.
Publicado em VEJA de 15 de fevereiro de 2023, edição nº 2828