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“Quando você se sente capaz, aprende a voar”

Com quatro filhos para criar, Bárbara Uchôa agarrou uma oportunidade e decolou no mundo da tecnologia

Por Ligia Moraes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 14 dez 2024, 08h00

Me casei aos 22 anos e logo me tornei mãe. Desde então, os estudos e os sonhos de uma carreira ficaram em segundo plano. A responsabilidade de criar quatro filhos, dois deles com deficiência visual, trouxe desafios que exigiam força diária. Trabalhei como atendente de telemarketing, caixa de supermercado… Tinha uma rotina que ajudava a sustentar a casa, mas não alimentava minhas aspirações. Durante muito tempo, me senti invisível e presa às limitações de quem carrega múltiplas responsabilidades e poucas oportunidades. Ser uma mulher negra e mãe atípica fez as barreiras parecerem ainda mais altas.

A virada aconteceu em um momento inesperado, durante uma conversa em um grupo da igreja, em São Paulo. Foi ali que ouvi pela primeira vez sobre o programa Ford , um curso gratuito de tecnologia voltado a pessoas de baixa renda. Algo acendeu em mim, um fio de esperança. Mas a insegurança logo surgiu: será que eu, com 37 anos e quase quinze afastada dos estudos, conseguiria acompanhar? A tecnologia sempre me intrigou, mas nunca tive os recursos para explorá-­la. Resolvi arriscar, mesmo sabendo que não seria fácil.

A notícia da minha aprovação foi um misto de alegria e pavor. Eu sabia que entrar no curso era apenas o começo. O verdadeiro desafio seria conciliar as responsabilidades com as demandas das aulas de programação em computador. Nos primeiros meses, a rotina era um malabarismo constante. Acordava cedo para preparar os filhos, cuidava das necessidades deles e, quando conseguia sentar para estudar, já estava exausta. Mas cada nova conquista no curso me fortalecia. Me lembro de uma prova específica que me deixou em dúvida sobre minha capacidade. Mas, quando vi minha nota, algo mudou dentro de mim. Percebi que não apenas poderia seguir em frente. Eu estava realmente à altura do desafio.

Conforme o curso avançava, passei a descobrir habilidades que eu não sabia que possuía. As aulas me ensinaram a programar, a entender a lógica por trás dos códigos e a desenvolver soluções criativas. Logo comecei a me destacar entre os colegas e a perceber que a tecnologia poderia, de fato, ser o caminho que mudaria a minha vida. Essa nova fase trouxe não só conhecimentos técnicos, mas um senso renovado de propósito e determinação.

A vida em casa também começou a se transformar. Meus filhos passaram a ver uma mãe mais segura, alguém que estava se redescobrindo. Quando falei para eles que havia tirado uma nota excelente em uma prova, seus olhos brilharam. Eles entenderam que, apesar das dificuldades, era possível lutar por mais. Isso criou um ciclo de inspiração mútua: eles me motivavam a continuar, e eu mostrava a eles que a persistência traz resultados. Afinal, eu não estou apenas traçando um caminho para mim. Estou abrindo portas para eles e para outras pessoas que compartilham da minha realidade.

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Houve momentos em que a dúvida e o cansaço me dominaram. A rotina de uma mãe com filhos que exigem cuidados especiais nunca para, e sempre havia a pressão de ter que provar o meu valor em um ambiente predominantemente masculino e branco. A sensação de ser uma exceção era real, e eu sabia que, como mulher negra, minha presença ali desafiava expectativas. Mas não deixei que essa pressão me abalasse. Cada novo conceito aprendido e cada etapa superada reforçavam minha confiança.

Hoje, estou cursando a faculdade de ciências de dados e engenharia da computação e trabalho em uma grande empresa de telecomunicações. Essas conquistas são a prova de que oportunidades transformam vidas. Agora me enxergo muito além dos papéis que a sociedade e as circunstâncias me impuseram. Quando você se sente capaz, aprende a voar.

Bárbara Uchôa em depoimento a Ligia Moraes

Publicado em VEJA de 13 de dezembro de 2024, edição nº 2923

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