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Projetar cidade moderna ‘é como uma guerra’, diz Joshua Prince-Ramus

O arquiteto do espaço onde estavam as Torres Gêmeas compara as mudanças urbanas de nosso tempo a grandes conflitos, em que planos podem falhar

Por Valéria França Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 3 jun 2024, 16h54 - Publicado em 13 abr 2024, 08h00

O espaço de artes em forma de cubo que o senhor levantou na antiga área das Torres Gêmeas, em Nova York, em setembro do ano passado, o Perelman Performing Arts Center, teve imensa repercussão. O senhor conseguiu atingir seu objetivo? Vou saber com o tempo. Explico: o prédio oferece uma rara inteligência tecnológica que permite 62 possibilidades diferentes de configurações de palco, além de mudanças de circulação do público. É adaptável para apresentações de ópera, teatro, recitais, dança, filmes e shows. É um símbolo de otimismo e de comemoração. Espero que quanto mais ele seja usado mais se torne um suporte para a inovação na arte. E, se isso acontecer, meu projeto será um sucesso. Se pensarmos na pandemia e nas mudanças climáticas, não há nada mais relevante para um arquiteto do que entregar um espaço flexível como esse.

Qual é a importância de revitalizar a porção destruída em 2001? Na época do ataque, eu morava a duas quadras do local. Claro que, para um arquiteto, é um projeto maravilhoso para trabalhar, mas como morador da região é mais ainda. A comunidade foi muito resiliente. Reconstruir a região é trazer a esperança de volta.

Nova York foi o grande símbolo de cidade moderna. Hoje, o que seria uma cidade moderna? O conceito de uma nova cidade deve ser a habilidade de coexistir com o planeta. Isso depende muito de política pública. Ela não pode se apoiar em planos de desenvolvimento ou, como dizemos em inglês, no “future perfect”. O decisivo é implantar estratégias possíveis para alcançarmos diferentes saídas de futuro e que permitam adaptações rápidas, diante das mudanças de realidade. Sei que é difícil na prática. Dá para comparar com uma guerra, em que os generais precisam ter estratégia para reagir às mudanças do inimigo. Os planos, em geral, falham. Boas estratégias são bem-sucedidas.

E quais são as estratégias para uma cidade funcionar bem? Vou explicar com um exemplo. Uma política pública não deve determinar para onde uma cidade deve crescer, mas analisar as estatísticas e perceber para onde ela espontaneamente está indo, e a partir daí criar mais transporte, escolas e restaurantes.

O que o senhor pensa de cidades com novas centralidades? Não dá para investir em um novo centro e abandonar o antigo (leia na pág. 70, sobre Paris). A grande discussão é como os novos polos podem aprender com os antigos e como mantê-los vivos. Manhattan sofre com esse problema. Desde a pandemia, a região tem de lidar com uma série de prédios vazios, que não foram desenhados para o trabalho híbrido. No Brooklyn, os prédios se parecem com os locais onde as pessoas querem trabalhar hoje. O Brooklyn roubou a identidade de Manhat­tan. Por outro lado, Manhat­tan está encurralada e tem de descobrir o que fazer com prédios desocupados.

Publicado em VEJA de 12 de abril de 2024, edição nº 2888

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