Profissão de influencer é meta cada vez mais cobiçada por jovens da geração Z
Uma nova pesquisa mostra que muitos deles querem viver da produção de conteúdo para as redes, um meio concorrido em que é duro emplacar
Em um mercado de trabalho que não para de se reinventar diante dos giros que o mundo dá, acontece de tudo: ofícios são varridos do mapa face à ascensão de novas tecnologias, o que só tende a ganhar impulso com a onipresença da inteligência artificial, e outros podem virar um bom ganha-pão da noite para o dia. Neste rol se encaixa o influenciador digital, que vive de emitir opiniões sobre um leque variado de assuntos com o objetivo de vender produtos e fazer grudar ideias (nem sempre tão iluminadas assim) em sua plateia digital. Começou uma década atrás como uma atividade informal para uma turma afeita a postagens rápidas e autoexposição em abundância. Rapidamente, a coisa evoluiu, produzindo fenômenos como as irmãs Kardashian, que habitam o panteão da fama sob o olhar curioso de 1,5 bilhão de seguidores, um pelotão que consome todo um universo de luxo exposto por elas nas redes e ajuda a movimentar um império de marcas com seu nome.
Com o passar do tempo, ser influencer acabou se tornando profissão para uma fatia da população mundial e, no Brasil, não para de atrair gente, compondo um grupo estimado em 40 milhões de pessoas — contingente que só fica atrás da campeã Índia e da Indonésia, segundo levantamento da Meta. E ao que parece eles serão cada vez mais em um horizonte próximo. Uma nova pesquisa da consultoria Youpix mostra que três de cada quatro integrantes da geração Z, aquela garotada nascida entre 1996 e 2010, pensam em se tornar influencers, grande parte aspirando a uma rotina cercada de diversão, glamour e, quem sabe, fama. O mesmo estudo, porém, dá os contornos de quão dura é a vida dos também chamados criadores de conteúdo — 68% não conseguem se manter da renda que extraem das redes, seja com publicidade ou vendas, e 31% não ultrapassam os 5 000 reais por mês, valor este que às vezes não cobre nem os gastos com equipamento e produção. “Existe um mito do influenciador milionário, mas o que vemos é que a maior parcela investe mais do que ganha”, constata Rafa Lotto, CEO da Youpix.
Com a expansão dos influenciadores, a concorrência se acirrou na conquista de espaço. A mesma pesquisa aponta que quem mais duela por um quinhão para chamar de seu na imensidão da internet são as mulheres, à frente de séquitos de até 50 000 seguidores especialmente interessados em moda, beleza e estilo de vida e também saúde e bem-estar. Alguns até conseguem chamar atenção de forma acidental, viralizando com uma tirada qualquer, mas isso é para bem poucos. Hoje, o negócio exige investimento. Os tripés substituíram as selfies casuais, luzes de LED iluminam o set e stories são planejados e editados. Para emplacar, não raro há divulgação de marcas de graça, o que pode ajudar a cavar um lugar ao sol. É um dia a dia de elevada imprevisibilidade. A publicitária Amanda de Paula, 27 anos, influenciadora em tempo integral desde 2020, experimenta as subidas e declives do ofício. “O maior desafio é não ter como saber qual será o salário do mês. As marcas levam até noventa dias para depositar na minha conta”, diz ela, ex-nadadora profissional, que embolsa em média 5 000 reais por mês falando de beleza e esporte.
Um grupinho muito reduzido engata em jornadas envoltas em mimos, com direito a megafestas, viagens gratuitas e outros presentes. O tamanho desta diminuta fatia foi medido pelo estudo da Youpix: corresponde a menos de 1% dos influenciadores brasileiros, uma privilegiada turma que extrapola os 3 milhões de seguidores e atinge a espetacular marca de 100 000 reais mensais em faturamento. Para chegar lá, representantes da patota Z estão inclusive trocando o ensino superior por cursos rápidos de edição de vídeo e de marketing, valiosas ferramentas nesse nicho. Os mais ousados abandonam empregos fixos para se lançar no mundo da influência, aspirando à liberdade financeira e à possibilidade de trabalhar de qualquer canto. São decisões frequentemente complicadas. Enquanto ocupava uma vaga em um banco com carteira assinada e benefícios, Luiza Alonso, 28 anos, resolveu se testar nas redes postando o seu batente paralelo como mãe. Logo percebeu que, se quisesse crescer no ramo, precisaria se arriscar mais. “Aos 26, deixei meu emprego e passei um ano sendo influenciadora sem remuneração”, relata ela, que contou com apoio da família e agora coleciona 22 000 seguidores. “É uma profissão privilegiada, que me permite ter flexibilidade. Mas não é só postar foto bonita que dá certo, como as pessoas costumam pensar”, garante.
A grande parcela dos jovens ouvidos por VEJA engata em uma maratona de post após post na busca de cravar boa audiência com pelo menos um. Quanto mais likes e compartilhamentos, maior o poder de negociar com marcas e obter publicidade. “É um trabalho superacelerado e de olho o tempo inteiro nos números”, afirma Issaaf Karhawi, especialista em mídias digitais e professora da Escola de Comunicações e Artes da USP. Chegar a uma linguagem que fale direto a uma multidão de pessoas, este o desejo de todos, é um caminho permeado de erros e acertos. Evidentemente, nem sempre o que colhe sucesso é o que faz elevar o espírito. Uma das campeãs em faturamento e seguidores no Brasil, ao todo 53 milhões, Virginia Fonseca, 26 anos, se concentra em coreografias rapidinhas, exibição detalhada de uma rotina na frente do espelho e promoção de jogos de azar (o que a levou, inclusive, a depor na CPI das Bets no Congresso Nacional).
Para quem procura uma carreira em que se é dono do próprio tempo, tornar-se influencer muitas vezes traz dissabores. Para eles, desligar-se por um dia pode custar a perda de relevância. Basta a concorrência surgir com algo que, como diz o jargão, “bombe” nas redes. Contabilizando quase 10 000 seguidores, Gabriel Faria, 26 anos, se preocupa com a saúde mental, um tema que mobiliza a geração Z. “Já fui bastante julgado e tive vontade de desistir várias vezes. É uma profissão que exige terapia em dia”, afirma. De acordo com dados da Youpix, 64% declaram já ter se sentido sobrecarregados no último ano e quase 40% decidiram dar uma pausa ou estão repensando a carreira. “Mesmo em situações sociais, os influencers continuam mexendo no celular. A pressão que sofrem pode levar a exaustão, ansiedade e até um burnout”, observa o psicólogo Rodolfo Cescon Niederauer, especialista da Universidade de Caxias do Sul. Como se vê, muitas vezes, a tentativa de influenciar pessoas nas redes se esvai com a ilusão de um clique.
Publicado em VEJA de 25 de julho de 2025, edição nº 2954

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