Por que o metro quadrado de Balneário Camboriú é o mais caro do Brasil
E o fenômeno tende a crescer
Dias antes de desembarcar com toda a pompa e circunstância em Riad, na Arábia Saudita, contratado pelo Al-Hilal para um contrato de pornográficos 850 milhões de reais por ano, Neymar recebeu no Brasil um outro mimo milionário — as chaves de um apartamento quadrúplex em Balneário Camboriú, joia da coroa de Santa Catarina. O valor estimado da brincadeira: 60 milhões de reais, alcançados por um elevador que chega a rapidíssimos 21 quilômetros por hora. O prédio de duas torres, o Yachthouse, tem 81 andares, 281 metros, e vista para a Praia Central. É o segundo maior edifício da orla balneocamboriuense, pedaço do Brasil que ganhou notoriedade em virtude do preço do metro quadrado, recordista. E não por acaso o brasileiro que faz mais barulho fora de campo do que nos gramados decidiu encostar por ali nas férias.
O ranking FipeZAP+, elaborado para acompanhar o mercado de imóveis no país, mostra que, entre cinquenta cidades avaliadas, o metro quadro de Camboriú é o mais caro, de 12 335 reais. Em segundo lugar desponta uma cidade vizinha, Itapema. Logo em seguida vem Vitória, no Espírito Santo, São Paulo e Florianópolis (veja no quadro). A surpresa tem explicação. “Camboriú é uma cidade eminentemente turística, com empreendimentos mais novos que o de grandes capitais e leis que autorizam a construção de arranha-céus”, diz Luiz Antonio França, presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc). Como o fetiche por altura parece interessar muita gente, porque o meu é maior do que o seu, deu-se a valorização.
Os andares a mais, contudo, carregam um problema, cuja locomotiva é o maiorzão de todos, o One Tower, de absurdos 290 metros de altura, onde a família de Cristiano Ronaldo tem apartamentos. No início da tarde, por força da natureza, os prediões — os seis maiores do Brasil estão naquela franja — lançam sombra sobre o Atlântico. Em 2021, a prefeitura tentou dar um jeito na situação, alargando a faixa de areia da Praia Central de 25 para 180 metros em alguns trechos. A obra custou 66,8 milhões de reais, mas não resolveu completamente o problema. Afinal, o mar insiste em retomar o espaço que sempre foi seu. E daí? O incômodo, real, não atrapalha os planos de quem pode pagar para além do horizonte. Desde 2018, a valorização das moradas foi 82%. Só no último ano, a alta acumulada chegou a 21%, ante tímidos 5,6% no restante do Brasil.
A tendência é que o preço continue subindo. Cidades litorâneas tem um espaço físico limitado e, certamente, existem mais pessoas querendo morar nelas do que a quantidade de imóveis disponíveis, o que faz com que o preço aumente. “As médias mais altas do que a de cidades como São Paulo e Rio de Janeiro também se devem à menor desigualdade nessas cidades, o que é reforçado à medida que pessoas com maior poder aquisitivo se estabelecem, empurrando o custo de vida e restringindo o acesso dos menos abastados”, diz o economista Alison Pablo de Oliveira, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e coordenador do índice imobiliário. Somem-se ainda o cuidado com a segurança nas ruas e avenidas e o bom índice de desenvolvimento humano.
Há quem goste de Camboriú, apesar do crescimento, há quem desgoste e prefira porções de litoral menos urbanas. Tudo bem. Mas parece brotar um fato incontestável, segundo os especialistas: como os preços brasileiros ainda são baixos na comparação com o resto do mundo, esperam-se ainda mais compras e, portanto, valorização. É o que acontecerá quando a economia estiver mais robusta, sem os solavancos esquentados pela política. E, então, Camboriú subirá ainda mais. É hora de investir, portanto. Hora também de ter um cantinho catarinense, apesar das faixas de sol encoberto. E resta torcer para não dar o azar, assim chamemos, de ter um apartamento vizinho ao de Neymar, que gosta de festa e barulho.
Publicado em VEJA de 25 de agosto de 2023, edição nº 2856