Passeio pelas estrelas: o que é o astroturismo, tendência global que ganha força no Brasil
A proposta é por roteiros com objetivo de observar os astros longe da luminosidade das metrópoles
O holandês Vincent van Gogh (1853-1890), conhecido por pintar alguns dos mais belos registros do céu noturno em toda a história da arte, tem uma frase sobre sua admiração pelo céu pontilhado. “Não tenho certeza de nada, mas sei que a visão das estrelas me faz sonhar”, disse certa vez. O fascínio pelo brilho dos corpos celestes é compartilhado por milhões de pessoas que agora estão planejando suas viagens em família ao redor de destinos astronômicos, onde o céu é mais escuro, facilitando a visibilidade, e onde há observatórios preparados para receber os curiosos. A tendência, batizada de astroturismo, como é conhecido o movimento, ganhou tração internacional e começa a adquirir relevo também no Brasil.
Um levantamento feito pelo site especializado em dados Statista dá cor ao fenômeno. O mercado global da bonita atividade foi avaliado em aproximadamente 250 milhões de dólares em 2023, com crescimento estimado de 10% ao ano. Em 2030, baterá em 400 milhões de dólares. Há escassez de estatística sobre endereços brasileiros, mas informações de visitas aos parques nacionais, onde estão alguns dos melhores pontos de observação, indicam a presença de ao menos 12 milhões de ingressos nos parques propícios à brincadeira de gente apaixonada pelo que há lá em cima.
O Brasil, é bom reafirmar, tem muito a oferecer. Alguns destinos já são conhecidos pelo público interessado, como o Parque Estadual do Desengano, no Rio de Janeiro. Em 2021, tornou-se o primeiro lugar da América Latina a receber o título de DarkSky Park, concedido pela DarkSky Association para locais de qualidade excepcional para noites estreladas. Em Minas Gerais, o Observatório do Pico dos Dias, coordenado pelo Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA), o maior do Brasil, tem programação para turistas. Em Campinas, no interior de São Paulo, o Parque Pico das Cabras, onde fica o Museu Aberto de Astronomia, oferece experiências como a Virada Astronômica, em que famílias dormem no observatório. A Chapada dos Veadeiros e o Sertão nordestino também são outros pontos de destaque. Há atividades educativas também dentro das poluídas metrópoles. O observatório localizado no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, por exemplo, faz eventos em que professores ensinam conceitos básicos de astronomia para crianças, mas nada de ar livre, porque o cinza decepcionante não autoriza.
Tudo muito bacana e romântico, mas há obstáculos. Como acontece com o turismo no Brasil de forma mais ampla, a infraestrutura é barreira complicada. Faltam hotéis e pousadas adequadas. Além disso, some-se o desdém com políticas públicas, em parceria com a iniciativa privada, de redução da luminosidade indevida em centros urbanos, ainda que muitos sustentem o clarão em nome da segurança, e há aí um ponto real. Contudo, o espaço de crescimento é promissor. Um estudo publicado no periódico Latin American Journal of Business Management e assinado pelos pesquisadores Elieber Mateus dos Santos, Quésia Postigo Kamimura e Ademir Pereira dos Santos conclui que o Brasil tem uma “constelação de oportunidades” no astroturismo. “O país pode se consolidar como uma referência global em turismo sustentável, valorizando regiões estratégicas e promovendo o desenvolvimento regional de forma integrada e inclusiva”, escrevem. Um bom conselho: se por vezes, nas bandas de cá, for difícil olhar para o chão, ante tantas mazelas e tanta pobreza, ante tanto descaso, o céu pode nos proteger.
Publicado em VEJA de 7 de novembro de 2025, edição nº 2969
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