“O ultrafeminino está no meu DNA”, diz estilista que vestiu Beyoncé
À frente da marca PatBO, Patricia Bonaldi acaba de participar da Semana de Moda de Nova York, conta como é vestir celebridades e defende usar rosa

Como você caiu nas graças de Beyoncé, que lhe fez recentes encomendas? Esse mundo de celebridades é muito feito de boca a boca e você precisa estar nos palcos certos. Eu ganhei visibilidade ao exibir minha coleção na Semana de Moda de Nova York, em setembro. A equipe que cuida dos figurinos dela viu, gostou e me procurou, passando as coordenadas do que ela queria, tudo detalhado. A Beyoncé ia dar um show de sua turnê, e a ideia era um look com ares tecnológicos. Na ocasião, até pediu para o público usar a cor prata. Foram muitos croquis. Ela ficou apenas com dois.
É duro agradar a uma celebridade? É preciso fazer tudo sob medida e não há espaço para aquele processo de tentativa e erro, como quando preparo uma coleção. Normalmente, se uma peça não funciona, refaço. Já com uma celebridade, é tudo a jato, com prazos curtíssimos, sob pressão. E pior: não há garantia de que vão usar mesmo a roupa. Esse suspense é sempre uma adrenalina. Afinal, faz diferença quando elas decidem tirar a roupa do armário.
Outras estrelas, como Jennifer Lopez e Alicia Keys, já compraram peças suas. Qual é exatamente o efeito disso nos negócios? Quando uma criação minha é vestida por uma famosa, gera toda uma curiosidade. O telefone toca, e as vendas sobem. Se não usam a roupa, fica a frustração. Sei que a Alicia Keys, aliás, tem minha coleção moda praia quase inteira e escolheu minha grife para o dia do aniversário.
Já aconteceu de falar direto com uma dessas celebridades? Nunca. O máximo de contato é pelas redes. A Alicia, por exemplo, me segue.
Como foi o caminho até chegar às passarelas de Nova York? Meu marido é descendente de japoneses, e passei três anos em Tóquio trabalhando na indústria de microchip para juntar dinheiro e poder apostar na moda. Um lance que deu muito certo foi colocar influenciadoras para divulgar minha marca. Fiz isso sem vergonha nenhuma. E aí fui crescendo aos poucos. Tomei um susto quando me contataram convidando para o tão prestigiado evento de Manhattan. Espero abrir espaço para outros brasileiros.
O Brasil está na moda? Acho que há projetos brasileiros em evidência, sim, mas acredito que a gente ainda pode cavar mais espaço no exterior. Me inspiro na paleta de cores, em referências nacionais, e todo o trabalho manual em minhas roupas é executado em Uberlândia. Temos que valorizar o que é feito no Brasil.
Como reage às críticas de que faz uma moda com clichês femininos, como o uso do cor-de-rosa? O ultrafeminino está no meu DNA. Usar rosa, brilho ou flores não deixa ninguém menos forte. A mulher não precisa vestir peças consideradas mais masculinas para mostrar poder. Para mim, é justamente o contrário.
Publicado em VEJA de 6 de outubro de 2023, edição nº 2862