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O sonho virou pesadelo: os impactos do movimento sem controle de visitantes em Bali

Fenômeno provoca transtornos no dia a dia da população e causa severo impacto ambiental na charmosa ilha da Indonésia

Por Valéria França Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 19 out 2025, 08h00

Há lugares no mundo embebidos de fama indelével, construída pelo tempo, pelos comentários boca a boca e, mais recentemente, pelas fotos distribuídas pelo Instagram. Um desses cantos é Bali, na Indonésia, cujo nome descarta qualquer tipo de apresentação, mas vá lá: com cerca de 4 milhões de habitantes, a ilha concentra a maior população de hindus do país, reconhecida pelas túnicas coloridas e pelos rituais diários que a fazem transbordar de espiritualidade. As praias paradisíacas, e fica aqui o pedido de perdão pelo chavão, abrigam mais de 500 espécies de corais. Cenário do sucesso cinematográfico Comer, Rezar, Amar, de 2010, o lugar ganhou definitivo relevo como destino turístico internacional. Contudo, o que era sinônimo de sonho hedonista tem virado pesadelo. Bali vive, agora mais do que nunca, uma praga que assola o planeta: o chamado overturismo.

No ano passado, foram 6,3 milhões de visitantes — patamar que ultrapassa 2019, logo antes da eclosão da pandemia de covid-19 (veja o quadro). Em 2025 será daí para mais, e o resultado pode ser traduzido numa única palavra: caos. Não se trata apenas da lotação, dos enxames que povoam o que era vazio, das filas e da dificuldade de andar daqui para lá. A confusão de agora, que tende a se multiplicar, é resultado de longo descaso com planejamento, período em que apenas os dólares e euros tinham importância. Em áreas procuradas, como Kuta, Seminyak, Canggu e Ubud, a proliferação de beach clubs e hotéis de luxo transformou vilarejos tranquilos e silenciosos em centros barulhentos e movimentados, prejudicando o ritmo de vida e a identidade cultural local. Como resolver? Bastaria o estabelecimento de regras e limites, como já ocorre em cidades europeias.

... E REALIDADE - Praga da superocupação: evidente falta de planejamento
… E REALIDADE - Praga da superocupação: evidente falta de planejamento (Sonny Tumbelaka/AFP)

Há evidente inversão: constrói-se primeiro a estrutura para os visitantes, como hotéis e piscinas, e só depois tenta-se adaptar vias e serviços, como abastecimento de água. A velocidade da expansão ultrapassou a capacidade dos serviços, impondo pressão insustentável sobre recursos públicos, transporte e segurança. Regiões projetadas para plantação de arroz, como Canggu, foram sobrecarregadas com infraestrutura urbana, resultando em problemas de tráfego e congestionamento. E pior: a perda dos terraços de arroz, que absorvem a água da chuva, contribuiu para o aumento das inundações.

A má gestão de resíduos e a poluição plástica agravaram a situação, ameaçando os ecossistemas marinhos. A Indonésia é o segundo maior emissor mundial de resíduos de polipropileno, perdendo apenas para a China, despejando anualmente cerca de 620 000 toneladas de plástico no oceano. Há também falta de controle eficiente de resíduos e de campanhas de conscientização. Atualmente, surfistas buscam praias menos cheias e mais limpas, preferindo o lado norte da ilha, mais preservado. “Às vezes, em alto-mar, eu me deparo com uma corrente de lixo passando”, diz o empresário e surfista Alexandre Rolim Basile Rosi, de 53 anos, que frequenta o local desde a década de 1990. Além do lixo, o consumo excessivo de recursos naturais é nó dramático. Mais da metade da água subterrânea de Bali é direcionada para a indústria do turismo, usada em banhos, piscinas e lavanderias. O superconsumo ameaça o tradicional Subak, um antigo e louvável sistema cooperativo de distribuição de água.

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Há respostas emergenciais. Discute-se a proibição de novos hotéis, restaurantes e casas noturnas. Jeanine Pires, ex-presidente da Embratur, observa que os destinos de sol e praia são massificados há anos, a ponto de serem destruídos. “Nem todo lugar tem essa capacidade de carga e força política para impor limites aos investimentos predatórios”, diz Pires. “O caminho é o turismo regenerativo.” Em outras palavras: é preciso alimentar atividades que devolvam benefícios para as comunidades. Um deles, aplaudido internacionalmente, é o Projeto Stop, implementado no condado de Jembrana (conhecido pelas praias mais preservadas), que estabeleceu coleta de lixo e instalações de triagem e reciclagem. Mas, ao passar para as mãos do governo, encontrou problemas de financiamento e sobrecarga da engrenagem.

Bali pede ajuda, grita por socorro antes que seja tarde demais. O paraíso ferido talvez precise dar um passo atrás, tendo em mente uma das frases inspiracionais de Comer, Rezar, Amar, o bonito livro de Elizabeth Gilbert que inspirou o filme: “Há momentos em que temos de procurar o tipo de cura e paz que só pode vir da solidão”.

Publicado em VEJA de 17 de outubro de 2025, edição nº 2966

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