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O que um renomado domador de cavalos diz sobre comunicação

Documentário 'Visions in the Dark', de Flavia Moraes, mostra trajetória do treinador Monty Roberts e discute relação milenar entre humanos e animais

Por André Sollitto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 28 ago 2023, 18h00

A relação dos gaúchos, bem como a dos cowboys americanos, com os cavalos é curiosa. Existe um amor profundo pelos animais, que são tema de poemas e canções e vistos como grandes companheiros de vida. Ao mesmo tempo, o treinamento desses bichos é, muitas vezes, brutal. Eles passam por muita violência física no processo de domesticação. E são abusados em eventos esportivos e de entretenimento. Não se trata, claro, da única maneira existente de treinar cavalos. O americano Monty Roberts desenvolveu uma técnica conhecida como Doma Gentil, que consiste na compreensão da linguagem não-verbal dos animais, sem o uso de qualquer violência. E sua trajetória é o mote do documentário “Visions in the Dark“, da diretora Flavia Moraes, uma sensível abordagem da metodologia de Roberts, a histórica relação do homem com os cavalos e os dilemas da comunicação.

“Um pouco antes da pandemia, fiz o curso de Monty Roberts. O tema sempre me atraiu desde que li seu livro, ‘O Homem que Ouve Cavalos‘, ainda nos anos 1990″, conta Flavia Moraes. Ao final do treinamento, ela recebeu uma proposta da família de Monty. “Como ele estava ficando mais velho, queriam contar a história dele. E pensaram em mim, pois sabiam que eu trabalhava na área. Mas eu havia decidido não aceitar mais nenhum projeto encomendado”, conta a cineasta. Após construir uma sólida carreira na publicidade como diretora de comerciais, além de ter assinado projetos no cinema, como o filme “Acquária”, com Sandy & Junior, e o show “Quatro Estações”, também da dupla, Moraes se mudou para a Califórnia para trabalhar apenas com projetos que a cativassem. “Eu queria fazer filmes autorais, que tivessem um propósito”.

A cineasta Flavia Moraes, diretora de 'Visions in the Dark' -
A cineasta Flavia Moraes, diretora de ‘Visions in the Dark’ – (Reprodução/Reprodução)

Pensou no assunto, e viu que havia a possibilidade de transformar a história de Monty Roberts, que já havia inspirado até o filme “O Encantador de Cavalos”, com Robert Redford no papel principal, em um documentário sobre a linguagem não-verbal entre espécies. No caminho, abordou também as tradições contraditórias de amor e violência que perpetuam essa relação do ser humano com o cavalo. “O animal é apenas uma metáfora. Estamos falando de tradição, de comunicação. Sobre a nossa cegueira, e como muitas vezes estamos em um estado de amortecimento e não questionamos determinadas culturas, dogmas e certezas”, conta ela.

Monty Roberts e Denise Heinlein, principal instrutora do centro que ensina a metodologia de Roberts na Europa, estão no Brasil para ministrar clínicas. A dupla esteve em Barretos e já tem outros workshops marcados pelo país. A ideia é ajudar a disseminar a técnica e um olhar mais sensível para o processo de doma dos animais. “Mas sabemos que essas iniciativas são um grão de areia. Estamos falando de tradições seculares”, afirma Moraes. Mas o debate, segundo a diretora, pode ajudar a mostrar a situação desesperada do mundo e como o momento é de transformação. “O planeta grita por soluções, e continuamos a discutir questões políticas de países, quando deveríamos olhar para temas planetários”.

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O treinador Monty Roberts, de 88 anos -
O treinador Monty Roberts, de 88 anos – (Reprodução/Reprodução)

O documentário foi lançado nesta segunda-feira, 28, em São Paulo, em uma sessão para convidados. Serão feitas ainda duas outras projeções, uma em Porto Alegre e outra no Rio de Janeiro. A ideia é tentar oferecer o filme a algum serviço de streaming e levar a produção para mais espectadores. “Gostaríamos de recuperar o investimento, é claro. Afinal, ele foi feito por uma equipe pequena, que realmente se identificava com a proposta, e com uma verba pequena. Mas queremos principalmente fazer com que mais pessoas assistam. Afinal, um filme que ninguém assiste é um filme morto”, diz Moraes. E o tema, e a delicadeza com que ele foi abordado, merece, de fato, ser visto por muita gente.

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