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O que o Super Mario tem a ver com Beethoven?

Professor e pianista Antônio Vaz Lemes leva a série PianoQueToca, fenômeno das redes, para a Rádio Cultura. Atento às novidades, ele mistura pop e clássico

Por Fábio Altman Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 18 mar 2023, 13h30

Se você ainda não esbarrou nos comentários a um só tempo engraçados, sérios, enérgicos e afetuosos do professor e pianista Antônio Vaz Lemes nas redes sociais, é porque andou no mundo da lua – ou não tem um smartphone. O canal PianoQueToca, de Vaz Lemes, é um dos mais interessantes fenômenos das redes sociais hoje em dia, sobretudo no TikTok e no Instagram. Já são mais de 600 000 seguidores e contando. Com inteligência e ouvido excepcionais, além de humor afiado, ele extrai de peças populares – um rap, um samba, um funk, até mesmo o som do abrir de portas do metrô –relações com a música clássica. O cenário é o piano de calda de sua casa, em São Paulo. É adesivo e educativo, em fascinante desmontar e montar de peças de um quebra-cabeça infinito.

O PianoQueToca começa agora a romper fronteiras. No próximo domingo, 19 de março, às 14 horas, ele estreará na Rádio Cultura de São Paulo em versão estendida, com uma hora de duração, e uma sacada a ditar o ritmo: a apresentação de pares musicais, sempre um pop e um clássico, tocados na íntegra – e mesclados a comentários para lá de interessantes de Vaz Lemes.

Há duplas improváveis – que numa primeira impressão soam exóticas mas que, ao apuro do ouvido, em segundos entregam adoráveis surpresas.

Quer saber? Eis alguns pontos do fio da meada que Vaz Lemes vai desfiar:

(1)
O Tema do Castelo do Super Mario Bros., composição de Koji Kondo, dá as mãos para o Trio Fantasma opus 70 para piano, violino e violoncelo de Beethoven.

(2)
Sadness and Sorrow, composta por Toshiro Masuda para o desenho Naruto, conversa com o concerto em sol maior, Adagio Assai, de Ravel.

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(3)
The Force Theme, o épico de John Williams para Star Wars tem um jeitinho da Sonata para órgão BWV528 e o Prelúdio e Fuga BWV870 de Bach – que aliás foi enviado para o espaço sideral a bordo da Voyager I.

(4)
Ah, e o Hino do Flamengo de Lamartine Babo – com o perdão para tricolores, vascaínos e botafoguenses – bebe de uma fonte magnífica, a Polonaise Heróica opus 53 de Chopin.

Desde sempre, a música popular herdou da clássica as melodias e harmonias de sucesso. Não é uma grande novidade, e tampouco um problema, porque assim caminha a humanidade, de inspiração e inspiração – e que bom, aliás, Tom Jobim ter ouvido muito Ravel e Chopin, além de Villa-Lobos, é claro. Mas o que Vaz Lemes faz é ir muito além dessa constatação – na minúcia, nos detalhes, uma nota aqui, outra acolá, ele faz as trilhas conversarem, de espanto e espanto. Diz ele: “O Tema do Castelo do Mario Bros. é fascinante, apaixonante e bonito – mas o que as pessoas podem descobrir é que há castelos ainda mais espetaculares, como o do Trio Fantasma de Beethoven”.

Há um pequeno risco de PianoQueToca no rádio incomodar os conservadores para quem os grandes compositores jamais deveriam estar no mesmo terreno do pop – e há também uma mínima possibilidade de os geeks acharem tudo meio estranho. Mas há uma certeza: os dois lados sairão felizes. Os amantes do clássico por descobrirem janelas e portas que nunca lhes foram abertas. Os adoradores de animes e batidas eletrônicas, por seu lado, se sentirão representados, levados a um andar da escada onde nunca lhes instalaram – e eles gostam de novidades.

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É, como diria o antropofágico Oswald de Andrade, “biscoito fino para a massa”. Não há censura nem regras. As revelações se impõem porque, a rigor, o vocabulário é o mesmo: as infinitas formações de notas musicas e silêncios. É o avesso do pedantismo, porque tudo é música. Vai do gosto de cada um. Embora o gosto possa e
deva ser burilado. O próprio Vaz Lemes lembra que, ainda menino, ouvia com especial prazer o thrash metal da banda americana Megadeth até ouvir clássicos. O resto é história. A revista inglesa Gramophone chamou Vaz Lemes de “um Pollini latino-americano”, em alusão a um dos maiores pianistas do mundo, o italiano Maurizio Pollini.

Um bom conselho: acompanhar o PianoQueToca nas pílulas diárias do Instagram e do TikTok e aos domingos apurar os ouvidos para algo um pouco mais reflexivo – e provavelmente mais interessante. E nada de preconceito com a mistura. Um dos mais renomados escritores de nosso tempo, o japonês Haruki Murakami – eterno candidato ao Nobel, e um dia ele vai ganhar – mescla classicismo e modernidade num piscar os olhos, pode pôr numa mesma frase Haydin e Beatles. Influenciado pela cultura ocidental, Murakami é apaixonado por música clássica e jazz. Dos 15 aos 30 anos de idade trabalhou em um clube de jazz de Tóquio. Em torno de sua paixão musical ele afirma: “Como disse Duke Ellington, só existem dois tipos de música, a boa e a ruim. Deste jeito, jazz e música clássica são quase a mesma coisa. O prazer de ouvir boa música transcende as questões dos gêneros musicais.” Eis a lição de PianoQueToca.

Serviço

PianoQueToca: Cultura Geek, Cultura Pop e a Música Clássica
Domingo, às 14h00 – Estreia dia 19 de março de 2023
Roteiro e apresentação: Antonio Vaz Lemes
Direção: Inez Medaglia
Rádio Cultura FM de São Paulo (103,3 MHz), site da rádio Cultura (culturafm.com.br) ou aplicativo Cultura Digital.

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