No Rio, Memorial do Holocausto abre ao público com exposição permanente
Monumento e área expositiva ficam no Morro do Pasmado, no Parque Yitzak Rabin, bairro de Botafogo
RIO – O projeto de um memorial em homenagem às vítimas do Holocausto na capital fluminense tem mais de duas décadas e deve-se, em grande parte, à obstinação do ex-deputado Gerson Berher (1925-2016). Inicialmente, ocuparia uma área da praia de Botafogo, mas como a vista da orla é tombada, o projeto do arquiteto André Oriolli, vencedor de um concurso promovido pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), ficou em suspenso. Até 2018, quando uma parte do Parque Yitzak Rabin, conhecida como Mirante do Pasmado, foi cedida para a instalação do monumento. Passados quatro anos, o projeto finalmente será entregue à população e aberto à visitação nesta quinta-feira, 19.
Na parte de cima, no parque ao ar livre, ergue-se o monumento, uma estrutura vertical dividida em blocos que representam os dez mandamentos. Um deles, o que preconiza “não matarás”, está vazio, representando ausência de tolerância, respeito, liberdade e justiça. Na parte de baixo da construção, fica a área expositiva, construída ao redor da base da escultura, onde projeta-se a imagem permanente de uma chama que representa a vida. Abraçando essa labareda virtual há uma tela escura onde são projetadas imagens de sobreviventes do Holocausto nazista e frases ditas por eles. Entre esses personagens, pode-se destacar, por exemplo, Anne Franke, Sigmund Freud e Primo Levi, entre outros. São, ao todo, 1.600 metros quadrados.
Na parte posterior, há mais uma área que mostra o antes, o durante e o depois da ação nazista que levou ao Holocausto. Na primeira seção, o visitante pode ver fotos dos momentos que antecederam a introdução das leis antissemitas na Alemanha hitlerista. São imagens positivas e solares de pessoas e famílias em momentos felizes, tanto que a iluminação é clara. Na segunda parte, sob uma luz sépia, o momento do ápice da segregação, com imagens que mostram o resultado da perseguição nazista contra os judeus e outras minorias, como ciganos, negros e outros povos. Por fim, na última parte, a descoberta do real objetivo dos campos de concentração, que eram verdadeiras fábricas de extermínio – onde todas as imagens ganham um tom em preto-e-branco.
Nos trechos finais, há uma parte interativa em que são contadas histórias de sobreviventes e de refugiados que vieram ou passaram pelo Brasil. Em uma parceria com o Memorial do Holocausto de Curitiba, é possível consultar um banco de dados com informações de parte dessas pessoas. Estima-se, segundo Alfredo Tomalsquin, curador da exposição permanente, que passaram pelo país cerca de 25 mil pessoas – muitas ficaram, outras foram para outros países. A ideia, segundo ele, é abordar o aspecto educacional do Holocausto, que na maior parte das vezes foi representado pela face do terror. “Agora, nós queremos contar as histórias das vítimas, porque cada pessoa tinha um rosto, tinha uma história”, disse Tomalsquim. “Nosso objetivo não era contar a história de seis milhões; nosso objetivo era contar seis milhões de histórias.”
O Memorial conta, ainda, com uma área para exposições temporárias com temáticas relacionadas aos direitos humanos. A ideia, segundo Alberto Klein, presidente da Associação Cultural Memorial do Holocausto, é dar espaço para que artistas de grupos discriminados também reflitam sobre suas vivências. “O que nós gostaríamos é que isso não fosse usado de forma política-partidária, por mais que seja tentador ter esse comportamento”, disse ele. “Porque quando se faz esse tipo de coisa, está se privilegiando alguém e discriminando todos os outros, além de não atingir o nosso objetivo que é transmitir a empatia, a coexistência, a pluralidade, o respeito e a tolerância.”