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“Meu filho agora mora em mim”

A atriz Ju Colombo fala da vida e da morte recente de seu caçula de 21 anos, a quilômetros de distância dela

Por Bárbara Bigas 31 Maio 2025, 08h00

Minha carreira na vida artística começou cedo: trabalho desde os 17 anos e tenho experiência no teatro, no cinema e na TV, passando por todas as grandes emissoras do país. Meus três filhos, então, cresceram nessa rotina, especialmente o Lucas, o caçula. Quando ele tinha 15 dias, estreei um espetáculo em São Paulo: eu o amamentava na coxia e ia fazer a cena. Ele foi habituado a conviver comigo em todos os espaços por onde eu transitava. Era um menino de características marcantes, leve e sereno. Ele tinha tudo para ser um jovem entristecido, mas não foi: além de ter sido abandonado pelo pai, que me pediu para abortá-­lo durante a gestação, Lucas nasceu com a válvula mitral, no coração, frouxa, uma deformidade torácica chamada pectus excavatum e também foi diagnosticado com a síndrome de Loeys-Dietz (doença genética que afeta o tecido conjuntivo do corpo). Por outro lado, teve a sorte de ter acesso ao tratamento do Hospital das Clínicas e um acompanhamento mensal. Aos 14 anos, um exame atestou que a válvula mitral dele estava estabilizada.

Com 17, ele quis estudar na Universidade Soka, nos Estados Unidos. O Lucas era responsável e me deixava tranquila. Sabia que ele estava pronto para morar fora, mas eu tinha a sensação de que ele não iria voltar. Há uns dois meses, a gente começou uma prática budista juntos, a distância. Passado um tempo, ele começou a tossir muito. Orientei que fizesse um raio X, mas imaginei que a tosse poderia estar ligada ao coração. Ele foi a uma consulta no cardiologista e descobriu que a tosse poderia ser do pectus excavatum, que pressionava seu pulmão, ou a mitral, e que existia a possibilidade da cirurgia. Era uma quinta-feira quando mandei uma mensagem encorajadora para ele, para que lembrasse de tudo o que já tinha superado na vida. Na madrugada de sexta, ele me respondeu agradecendo e prometeu que iria se esforçar. Nos despedimos. Às 7h30 da manhã dessa mesma sexta-feira, recebi uma ligação. Quando atendi, era uma voz masculina. Era um amigo do meu filho, que depois soube que se chamava Carlos, avisando que o Lucas tinha tido um mal súbito, foi atendido no hospital, mas não resistiu e morreu. A partir daí, eu tenho flashes. Lembro de começar a gritar e de ligar para o meu filho mais velho, Gabriel. A sensação que eu tive é de ter recebido uma descarga elétrica, que depois eu soube que foi o mesmo termo que a médica usou para definir o que ele teve: Lucas morreu em abril com uma descarga elétrica no coração.

Uma das coisas mais terríveis que eu achava que poderia acontecer na minha vida era a perda de um filho. Durante muito tempo, a questão da morte foi um mistério tenebroso. Mas com o passar do tempo me interessei em compreender qual era a visão da filosofia budista sobre vida e morte. Fui me distanciando dessa coisa cronológica de viver um dia ou 90 anos. Passei a entender que o que fica na vida é o que a gente faz. Todo o resto é transitório. Entendi que um ser humano é nobre quando ele traz qualidade de vida para o outro e o incentiva a ser o seu melhor. O Lucas era assim. A vida dele marcou pessoas do mundo todo. Eu recebo dezenas de mensagens por dia, todos os dias, das pessoas que conviveram com ele, de diferentes idades, pessoas do Brasil e de fora. São mensagens que falam das qualidades dele. Recebo fotos, textos que ele trocava com as pessoas, estimulando-as a acreditarem e seguirem seus sonhos. Eu entendi que a vida do Lucas pareceu breve, mas que ele mora na vida dessas pessoas. E eu o sinto diariamente dentro de mim. Na cerimônia de sétimo dia, fiz um pacto: prometi a ele ser a mulher mais feliz do Brasil. Logo, essa minha felicidade iria permear a felicidade dele, porque meu filho agora mora em mim.

Ju Colombo em depoimento a Bárbara Bigas

Publicado em VEJA de 30 de maio de 2025, edição nº 2946

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