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Luxo ou Lucro? Perfume para cães da Dolce&Gabanna causa polêmica

Produto potencializa monumental indústria pet, mas entidades protetoras dos animais e veterinários alertam para riscos de desconforto e alergia

Por Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 6 ago 2024, 18h18 - Publicado em 6 ago 2024, 18h03

A Dolce & Gabbana acaba de lançar um novo perfume para cães chamado Fefé, em homenagem ao cachorro de Domenico Dolce. Valendo-se da máxima de que o cão é o melhor amigo do homem, criaram a fragrância como uma espécie de “névoa para cães”, com notas de ylang ylang, almíscar e sândalo. O frasco, com uma pata banhada a ouro de 24 quilates e uma coleira exclusiva da grife italiana, é vendido a €99 euros (cerca de R$600),

Mas mais do que agradar os bichinhos, porém, trata-se de uma forma de potencializar o crescente mercado para pets – incluem-se cuidados veterinários, alimentos e produtos farmacêuticos e de luxo para cães, gatos, aves, répteis, peixes e pequenos mamíferos – que no mundo movimenta mais de 320 bilhões de dólares por ano, 68,6 bilhões de reais só no Brasil.  E segundo um relatório da Bloomberg Intelligence de 2023, até 2030 deve atingir a impressionante cigra de 500 bilhões de dólares.

“Estamos distribuindo Fefé imediatamente por toda a Europa, nos Estados Unidos e então, aos poucos, expandiremos; já está disponível online”, disse Stefano Gabbana. “O mercado reagiu bem; todos enlouqueceram com o anúncio”, completou o cofundador da marca, ao jornal italiano Corriere della Sera.

Nas redes sociais, porém, as reações não foram tão boas. “O olfato de um cão é de 10.000 a 100.000 vezes mais forte que o de um humano. Eles têm até 50 receptores de cheiro a mais. Usar um “perfume” seria uma tortura. É cruel!”, disse uma seguidora, no instagram do portal Business of Fashion. Outro comentário apontou que o perfume não é para cães, é sim para os humanos. “Os cães não gostam desses cheiros estranhos. Se essas pessoas realmente se importassem com seus cães, elas também se importariam com o desconforto deles.”

Bom pra Cachorro?

Embora as fragrâncias para cães não sejam exatamente uma novidade, é fato que se trata da primeira desenvolvida por uma marca de moda de luxo do porte da Dolce&Gabbana. Ou seja, vai fomentar ainda mais essa indústria monumental, mas com produtos que podem ser inconvenientes e insalubres aos animais.

Se roupinhas como as jaquetas de couro da Moschino ou as coleiras com tachinhas feitas pela Versace já não são tão confortáveis aos animais, imagina produtos que mexem com o olfato sensível dos cães, que podem causar alergias dermatológicas, promover reações negativas à inalação do produto e até problemas comportamentais?

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Eis a grande questão. Mesmo que as marcas façam parecer que é tudo bonitinho, como o anúncio da própria Dolce & Gabbana usando palavras como “Amor incondicional” em um vídeo cheio de cachorrinhos fofos, é necessário muito cuidado ao escolher uma fragrância para o pet.

“Tem animais que se adaptam ao uso de perfumes utilizados pelos próprios tutores ou até mesmo em pet shop, sem que tenham alterações comportamentais ou causem danos à saúde, porém existe uma parcela de cães que possuem alergia aos perfumes, desenvolvendo coceiras e irritações na pele, além de casos de bronquite, por exemplo”, explica Karina Affonso Bernardo, veterinária da Petnaturalle, em São Paulo, e mestranda da Universidade de São Paulo (USP).

Ingredientes naturais e sem álcool

Esses produtos devem ter uma fórmula específica, com ingredientes naturais e hipoalergênicos como água purificada e glicerina vegetal, que não sejam tóxicos ou que irritem a pele dos bichos. E claro, não devem possuir ácido etílico, que ainda pode prejudicar as mucosas do bichinho. Fora o risco do animal lamber e ingerir esse produto, comum em perfumes humanos.

É importante ressaltar ainda que as formulações estejam de acordo com as normas estabelecidas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) no Brasil – mesmo o produto da Dolce & Gabbana ainda não estando disponível no país, existem opções nacionais como a Linha Pet de perfumes, sabonetes, xampus e condicionadores da Granado e a Au.migos, da O Boticário.

A Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals (RSPCA) também alertou sobre o perigo de mexer com o olfato dos cães, tirando dele seu próprio cheiro e substituindo por um odor que além de desagradável a eles, prejudica sua capacidade de se conectar com o ambiente.

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“Os cães dependem do olfato para se comunicar e interagir com o ambiente, bem como com as pessoas e outros animais”, disse Alice Potter, cientista da entidade filantrópica. “Portanto, aconselhamos que produtos com cheiro forte, como perfumes ou sprays, sejam evitados, especialmente porque alguns cheiros podem ser realmente desagradáveis ​​para os cães.”

Deve prevalecer o bem-estar

Do ponto de vista prático, embora o cuidado com os bichos seja louvável, não faz sentido colocá-los em situações desconfortáveis. Principalmente se a intenção é ostentar como se o animal fosse um mero acessório. Não é, e seu tutor deve zelar pelo seu bem-estar antes de qualquer coisa.

Nesses casos, vale mais a máxima dita pelo americano John Grogan, autor do clássico, Marley & Eu, de 2005: “Para um cão, você não precisa de carrões, de casas grandes ou roupas de marca. Símbolos de status não significavam nada para ele”.

Ou seja, espera-se um pouco de bom senso porque nem sempre o que parece ser bom pra cachorro, é. Na dúvida, o melhor é consultar um especialista. “Qualquer produto é necessário ter a indicação do veterinário responsável e a avaliação individual do animal”, finaliza Karina.

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