Gabriele Marinho: do fashion a Miss, o que é que a alagoana tem?
Musa de Martha Medeiros e Miss Alagoas, ela já desfilou para a Versace, estuda Direito, é madrinha de projeto social e se prepara para o Miss Brasil
A primeira vez que vi Gabriele Marinho, estava vestida como Maria Bonita (1910-1938), a lendária companheira de Lampião, vista pela história como uma mulher “empoderada e transgressora”. Ela foi a modelo eleita por Martha Medeiros para abrir seu desfile intitulado “Do Sertão a Hollywood”, em referência à sua recém-lançada biografia, e dar vida à interpretação rendada da estilista para essa figura tão representativa do Nordeste brasileiro. Ao final da apresentação, realizada em São Miguel dos Milagres, cidade a 100km de Maceió, em Alagoas, ainda surgiu como uma “diva hollywoodiana” (também devidamente rendada em um vestido pink).
As escolhas por Gabriele para representar ambas as menções que dão título à obra escrita pela jornalista Eliane Trindade, e que conta a trajetória da criadora alagoana, não foi à toa. Dona de uma beleza digna de Hollywood, a top model é nordestina de raiz. Nascida em Alagoas, não só é conterrânea de Martha, como é absolutamente orgulhosa de suas origens. Traz essa essência em seus propósitos de vida, em seus anseios profissionais, em suas lutas pela justiça e pela diversidade e em seu forte sentimento para fazer o bem.
“Sempre fui atrás das oportunidades. Desde sempre, quero realizar algo que esteja conectado com meu propósito de vida”, diz Gabriele a VEJA, acrescentando. “Quero ajudar a transformar vidas, seja como modelo, seja pelo Direito, seja pela minha voz como Miss”, completa. Além do trabalho fashion nas passarelas – já foi estrela no desfile da italiana Versace – é a atual Miss Alagoas, convidada para representar o estado no próximo concurso de Miss Brasil, a ser realizado entre os dias 14 e 20 de setembro, em São Paulo, e estuda Direito na FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado).
“Gabriele representa a jovem de sucesso na vida real, que mesmo tendo uma beleza estonteante, quer muito mais da vida”, endossa Martha Medeiros. “Sei como ela é especial. Ela sabe que ser bela é só mais um atributo que ela tem. É uma guerreira, a Maria Bonita moderna.”
Desvendando Gabi
Ao chegar no local para entrevistar Gabriele Marinho, bem que me avisaram. “Você vai conhecer uma das mulheres mais bonitas do Brasil”. Realmente, uma beleza estonteante. Mas mais do que isso, ela é daquelas mulheres que quando a gente vê, se pergunta se é assim em tempo integral, como uma diva de passarela. Se como as divas, já acorda e olha no espelho, envolta nessa aura peculiar que as diferencia dos simples mortais, ou, ao contrário – nesse intervalo de sua vida frenética, saboreia a magia da transformação para atingir aquele patamar superior de iluminação. Porque é exatamente essa a primeira impressão de Gabriele: uma diva solar.
E não só porque ela é cool, joga xadrez, gosta de Beatles e Red Hot Chilli Peppers e lê William Shakespeare (1564-1616), que graciosamente defende a comédia “Sonhos de Uma Noite de Verão” e a tragédia “O Mercador de Veneza”, como as melhores peças do dramaturgo inglês. Gabriele também surpreende pelo poder da revelação. É gentil nas palavras e atitudes, bem distantes de qualquer superficialidade. Brinca, sorri, pensa, olha para os lados, sorri de novo e, dessa forma, se impõe como uma mulher que assume a propriedade de seu próprio carisma – lugar em que, provavelmente começa a excepcionalidade das divas.
Ali, entendo o porquê ela sai do lugar comum, que durante muito tempo, coloca cada modelo em seu quadrado: fashion, comercial, miss, e consegue transitar – muito bem, aliás – em todos eles: a determinação. “É claro que me inspirava na Gisele Bundchen e na Alessandra Ambrosio, mas desde pequena, nunca perdi um concurso de Miss”, conta. “Meu propósito era virar modelo, mas não pela fama. Sabia que poderia fazer algo pelo mundo, só não sabia exatamente o que.”
É claro, ela tinha 12 anos, mas com a cara e a coragem, arriscou e venceu. Não só pela beleza, mas pelo argumento, pelo discurso e pela insistência (características que agora a ajudam em sua promissora trajetória no Direito). Começou com a mãe, encontrando o telefone de uma agência em Maceió e dando na mão dela para ligar. Depois, convenceu o pai, garantindo que isso não atrapalharia seus estudos. E em seguida, insistiu em se inscrever em todos os concursos de beleza, tanto de agências de modelos conhecidas como a Mega e a Elite, como nos de Miss. “Era apaixonada pelos dois universos”, sorri.
Aos 15 anos, ganhou os concursos Miss Teen Alagoas e Miss Teen Brasil. Aos 17, levou o título de Miss Teen World, em disputa realizada no Texas, nos Estados Unidos. Foi seu primeiro contato lá fora, mas que rendeu um contrato de um ano, a experiência de morar sozinha no país, e principalmente, entender como poderia ajudar o mundo – por meio de sua imagem e voz, que compreendeu na intensa agenda de trabalhos sociais e de voluntariado como miss.
Tanto que, até hoje, isso faz parte da sua agenda, como madrinha do projeto “Nutrindo Vidas”, iniciado com colegas da faculdade, que presta assistência social a famílias em situação de vulnerabilidade, em São Paulo. “Toda semana levamos alimentos, lençóis, roupas para moradores de ruas. Também cuidamos de animais como cachorros e gatos, com ração e cuidados veterinários”, explica ela, com firmeza militante e desvelo amoroso.
Determinação e senso de justiça
Voltando ao Brasil, Gabriele entrou na agência Mega, por onde fez muitos desfile e campanhas, e esteve na passarela da Versace. Mesmo assim, ali, também teve que ganhar no argumento, convencendo os agentes a tentarem um contrato com uma agência em Nova York. “Ninguém acreditava que eu conseguiria, mas consegui”. Viveu três anos lá, realizando mais trabalhos de sucesso, sempre acompanhada pela fiel escudeira, a tia Joria.
Paralelamente, ela continuava envolvida em seus projetos de Miss, com a mágica monumentalidade de uma mulher incansável, que não só aumentava suas conquistas, mas abria um importante espaço para a diversidade. “Ter uma representação nordestina nesses concursos de beleza é uma grande vitória, já que antigamente não tínhamos espaço. Eles eram sempre pautados por mulheres do Rio Grande do Sul, Minas Gerais e São Paulo. Estou feliz em representar Alagoas e o Nordeste”, afirma.
Corajosa em seguir com o que acredita, Gabriele também entrega seu forte senso de justiça, com crença que juntando todo o seu trabalho duro de agora – conciliado em uma agenda apertadíssima de desfiles, fotos, preparação para o concurso de miss Brasil e, quem sabe, Miss Universo, a faculdade de direito e o trabalho social – possa fazer a diferença num futuro próximo. “A Miss tem voz, assim como a moda. Aliado ao Direito, sei que posso fazer a minha parte. Tenho consciência, quero repassar ao próximo, quero transformar vidas de algum jeito”, reflete.
“É por isso que vou investir em direitos humanos e direito internacional. E estou feliz em concorrer no Miss Brasil. Quero levar essa voz do Brasil, da diversidade, para o mundo”, completa ela, que determinada, já se também prepara para um eventual Miss Universo, que já a espreita, next door. Se levar em conta sua história de conquistas baseadas em força de vontade, cultivo à generosidade e energia para o novo, além da acertada estratégia de ser quem ela é, mostrar o que a alagoana tem e ainda preencher a vida de beleza, assunto que ela entende muito bem, é muito provável que sim.