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“Fisicamente impossível”, diz especialista sobre 2,1 milhões de pessoas em show de Lady Gaga no Rio

Pesquisadores da USP voltam a contestar números exorbitantes, que seriam divulgados por conta de contratos de patrocínio

Por Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 6 Maio 2025, 20h27 - Publicado em 6 Maio 2025, 18h50

A prefeitura do Rio de Janeiro divulgou esperar 1,6 milhão de pessoas para o show de Lady Gaga em Copacabana, no último sábado, 3. Exatamente a mesma estimativa de público que teria recebido a apresentação de Madonna no ano passado. Ao final do show de Gaga, porém, a prefeitura divulgou o número final: 2,1 milhões de pessoas teriam assistido ao show da estrela pop americana.

Especialistas, no entanto, voltaram a contestar. “É humanamente impossível”, diz Mariana Aldrigui, professora e pesquisadora de turismo da USP. “Segundo alguns colegas que monitoram com drones, esse número supera em oito vezes a capacidade do lugar.”

De acordo com um estudo recente do Datafolha, Copacabana pode, no máximo, reunir 1,2 milhão, mesmo com a grande extensão da praia (cerca de 4,5 km). “Como já disse, mesmo considerando os obstáculos como a estrutura de palco, a densidade de pessoas e as barreiras físicas pré-estabelecidas para os shows, seriam 6 pessoas por metro quadrado, o que daria 1 milhão, no máximo. Os números divulgados dão conta de 18 pessoas por metro quadrado, ou seja, fisicamente impossível”, explica a especialista, mostrando um vídeo em que as pessoas conseguem se movimentar, pular e dançar. “Se fosse esse montante, não conseguiriam nem se mexer. Não teria como, simplesmente porque não cabe. Não importa a conta que o Eduardo Paes faça”, reitera.

Números exagerados

Mas o que leva à divulgação desses números exorbitantes? Na opinião de Mariana, trata-se de um recurso político, para não desmerecer o show e atrair patrocinadores, já que outras apresentações anteriores foram divulgadas dessa forma – o show de Rod Stewart, em 2023, por exemplo, teria reunido 3,5 milhões de pessoas. “Tem essa questão de comparação e creio que nenhum gestor aceitaria reduzir muito o número em função de eventos anteriores”, diz ela. “É por isso é importante checar como são estabelecidos os contratos de patrocínio, se o volume de pessoas muda as cifras de retorno”, completa.

Outro ponto discutível é como são feitas essas mensurações já que, segundo a especialista, ninguém explica ou divulga imagens aéreas. “Do Copacabana Palace até a Praça do Lido, onde terminava o público da Lady Gaga, as imagens aéreas mostram 113 mil metros quadrados. Sendo muito otimista, se tivessem 7 pessoas por metro quadrado, o que já seria muito apertado, seriam 791 mil pessoas. Da forma como estão os vídeos, com pessoas dançando e se movimentando, sugerem 3 pessoas por metro quadrado, ou seja, chutando alto, em torno de 500 mil pessoas”, explica.

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Márcio Moretto, coordenador do Monitor do Debate Político do Cebrap, concorda: “Na nossa experiência com contagem de público, aprendemos que, quando não há uma metodologia transparente e pública, os números tendem a ser superestimados por parte dos interessados — sejam os organizadores ou, como neste caso, a Prefeitura do Rio”, afirma.

Não é jogar contra

Os especialistas sabem que ao contestar, podem ser vistos como pessoas que jogam contra os grandes shows gratuitos. “Não é nada disso”, afirma Mariana. “É óbvio que o impacto é muito alto. Para uma cidade turística, ter meio milhão de pessoas, das quais pelo menos 20% são turistas, é um sucesso absoluto e poucas vezes replicável em outro lugar do mundo. A questão é apenas dar às coisas o seu tamanho real, para gerar análises preditivas melhores e mais consistentes”, finaliza.

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