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Em decisão inusitada, Conpresp tomba bens de bar paulistano (e não prédio)

Mobilização de frequentadores do Balcão, casa tradicional da cidade, tem objetivo desvirtuado, mas sócios conseguem renovação de contrato por 5 anos

Por Valéria França Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 11 ago 2025, 22h56

Em 1994, em um bairro nobre da capital paulista, inaugurava um bar cujos sócios tinham como propósito transformá-lo em uma espécie de praça pública, para ser um ponto de encontro de intelectuais, artistas e frequentadores engajados na cena cultural da cidade. Na esquina da Rua Doutor Melo Alves, nos Jardins, o estabelecimento abriu as portas com um balcão de 25 metros de madeira, que diferente dos tradicionais, possibilita ser ocupado dos dois lados dele. Nascia assim o Bar Balcão, local amplo, com pé direito duplo, e paredes forradas de gravuras e quadros. Para a surpresa dos sócios, este mês, o mobiliário mais importante da casa, o balcão, e dois quadros foram tombados pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico (Conpresp).

A decisão causou estranheza dos sócios. “Foi tombado um patrimônio particular e não o local onde as pessoas se reúnem”, explica Francisco Millan, sócio fundador da casa. Trata-se de uma condição ainda provisória, que só será definitiva no fim do processo recentemente instaurado a partir da decisão do Conpresp. A notícia não é ruim. Dá ao local um atrativo a mais, que pode ajudar no marketing e  na renovação do público –o que já vinha acontecendo espontaneamente –, mas mas para os sócios e frequentadores mais antigos, o tombamento deixa um gosto de frustração.

Há pouco mais de dois anos, o Balcão ficou sob ameaça de fechar as portas. A proprietária do imóvel recebeu uma proposta de dois grupos de investidores, interessados em construir naquela esquina. Em uma cidade onde quarteirões inteiros vão abaixo para dar lugar a novos e imponentes prédios, a possibilidade do estabelecimento ser derrubado sensibilizou os frequentadores, que fizeram o bar uma extensão das próprias casas. “A mobilização foi emocionante”, conta Millan, que viu 15 mil assinaturas serem encaminhadas ao Conpresp para que o estabelecimento fosse tombado. Mesmo sem valor histórico e arquitetônico, ele poderia ser protegido da destruição, por ser um bem afetivo, importante para a memória da sociedade.

O Departamento do Patrimônio Histórico (DPH) reconheceu o pedido, mas foi voto vencido pela maioria dos demais integrantes do Conpresp, que reúne representantes de diversos setores, como a Secretaria Municipal da Habitação e Desenvolvimento Urbano. Para a sorte dos donos do bar, a mobilização em torno do tombamento acabou espantando os grupos de investidores, que desistiram da compra. Recentemente, o contrato de aluguel do ponto do bar foi renovado por mais cinco anos.

O balcão da casa, de fato, é uma peça especial. Foi desenhado pelos arquitetos Nando Millan e Paulo Fecarotto, com pés de ferro e tampo de madeira elaborado pela marcenaria Zeca Cury, para ocupar todo o andar térreo do bar. As obras destacadas são um quadro Com o coração olhando para a lua, pintado pelo Jô Soares, e a serigrafia Wallpaper with Blue Floor, de Roy Lichtenstein. Esse acervo não fazia parte do pedido inicial de tombamento. E não protege de nenhuma forma o bar, nem a memória afetiva de tantas paulistanos, que há 31 anos frequentam o Bar Balcão. Daí a estranheza do proprietário em relação à decisão do Conpresp de dar mais valor as coisas que estão lá do que ao prédio que acolhe a todos.

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