Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Doce recomeço: por que cada vez mais mulheres decidem ter filhos na maturidade

Com os avanços da medicina e os recentes arranjos familiares, elas têm 1 milhão de histórias para contar

Por Duda Monteiro de Barros Atualizado em 8 nov 2024, 10h01 - Publicado em 8 nov 2024, 06h00

A criação de filhos é daquelas tarefas que envolvem muitas camadas de afeto e elevadas doses de cansaço, tamanha a lista dos cuidados com o bebê. Quem é mãe sabe: são fraldas para trocar, noites insones em série e incertezas existenciais, sobretudo na maternidade de primeira viagem. Aí eles crescem e, ops!, o rol de afazeres não cessa, mas muda de tonalidade conforme as questões adolescentes se avizinham. É uma jornada intensa que, normalmente, as mulheres experimentavam em uma única etapa da vida, ao dar os primeiros passos para valer na fase adulta — e pronto. Mas, como tantas coisas que mudaram neste globo que não para de girar, também essa lógica já não é mais a mesma. Com a ciência esticando o período em que podem ter filhos — seja pela segurança conferida no pré-natal, seja por avanços que permitem adiar a gravidez com métodos como o congelamento de óvulos —, um crescente número de mulheres repete a dose mais tarde, já maduras, e tem 1 milhão de histórias para contar.

O assunto, que é alvo de pesquisas entre expoentes da demografia e da sociologia mundo afora, veio à luz no Brasil com a recente notícia de que Giselle Bündchen, 44 anos, está grávida do namorado, o professor de jiu-jítsu Joaquim Valente, 35, há cinco ou seis meses — tema sobre o qual ela preferiu silenciar, limitando-se a confirmar a gestação. Enquanto a barriga desponta, a modelo anda, em paralelo, às voltas com a educação de Benjamin Rein, de 14 anos, e Vivian Lake, de 11, ambos do casamento de mais de uma década com o jogador de futebol americano Tom Brady. Implacáveis, as redes dispararam: “É velha demais! Vai parecer avó do filho!” Não acontece só com ela, não. Essa aura de preconceito ainda ronda mulheres que se aventuram pelo universo das mamadeiras após os 40 — um contingente que, segundo o IBGE, expandiu-se 66% em pouco mais de dez anos. “Elas se sentem mais livres e enxergam hoje possibilidades que eram impensáveis décadas atrás”, afirma a socióloga Daniela Rosa, da Unicamp.

O OLHAR MUDOU - A atriz Carolina Ferraz, 
56, ao lado das filhas, Isabel, 9, e Valentina, 29, diz que hoje é uma mãe muito diferente daquela de duas décadas atrás. “A maturidade me fez ser mais presente”, conta
O OLHAR MUDOU – A atriz Carolina Ferraz, 
56, ao lado das filhas, Isabel, 9, e Valentina, 29, diz que hoje é uma mãe muito diferente daquela de duas décadas atrás. “A maturidade me fez ser mais presente”, conta (@carolinaferraz/Instagram)

Os especialistas no tópico — uma novidade entre várias nos arranjos familiares modernos — enxergam na opção da ala feminina que se embrenha pela maternidade quando os primeiros rebentos já estão mais independentes, e elas próprias se veem alçando seus voos com menos amarras, alguns traços em comum. Além do ânimo para recomeçar anos mais tarde, ter filhos com maior estabilidade financeira e maturidade traz às mulheres mais leveza para enfrentar as alegrias e asperezas da função. A contadora Aline Pinto, 44 anos, ainda estava terminando o ensino médio quando soube estar esperando Lucas, hoje com 25, do então namorado, com quem é até hoje casada. A vida deu uma guinada. “Era inexperiente aos 18, mas fiz o melhor que podia”, lembra. Na beira de chegar aos 40, a carioca decidiu que era a hora de passar por tudo outra vez. “Fiz exames, tomei medicações e a ginecologista disse que estava saudável para engravidar”, conta ela, que se sente mais preparada agora, como mãe de Ana Carolina, de 4 anos.

Diversas mulheres se queixam do tanto de cobranças que recaem sobre seus ombros em relação ao modo como criam a prole. Não é raro para quem é mãe ouvir julgamentos e ver narizes torcidos diante de questões cotidianas — como lidar com a manha, quais alimentos vetar do cardápio, como alojar a criança no carrinho — até problemas de mais alta complexidade, entre eles, que limites impor e como fazê-los vingar. No final, a experiência familiar pode ser de profunda riqueza — e libertadora para a mulher. “Com mais idade, é normal se importar menos com palpites alheios”, pontua a psicóloga Lidia Aratangy.

Continua após a publicidade
A GRANDE FAMÍLIA - Gloria Pires, 61, e sua prole 
de idades variadas: Cleo, 42, Ana, 24, Anttónia, 32, e Bento, 20 (da esq. para a dir.). A primogênita, a única de Fábio Jr., é como uma segunda mãe para os irmãos -
A GRANDE FAMÍLIA – Gloria Pires, 61, e sua prole 
de idades variadas: Cleo, 42, Ana, 24, Anttónia, 32, e Bento, 20 (da esq. para a dir.). A primogênita, a única de Fábio Jr., é como uma segunda mãe para os irmãos – (@gpiresoficial/Instagram)

A escolha pela maternidade em fase mais avançada da vida tem também a ver com uma marca positiva destes tempos — ao contrário do passado, hoje, quando o casamento vai mal, a união se desfaz, em vez de se arrastar a qualquer custo. E aí entram em cena muitos enlaces selados após os 40, que podem vir junto com a vontade de construir novo núcleo familiar. Ocorreu com a advogada Giovana Plantz, 49 anos, que engravidou de Amanda aos 26, depois que subiu ao altar pela primeira vez. Após uma década, já separada, conheceu o atual marido, que também tinha um filho crescido. Bateu então o desejo mútuo de ter um bebê. “Era para ser um, mas acabaram sendo dois em seguida, no susto. Fiquei desesperada”, confessa ela, que é mãe de Gabriel, 8, e Guilherme, 10. “Apesar de ser cansativo, acho agora mais fácil. Tenho uma rede de apoio que não havia antes”, avalia ela, que, honesta, pondera: “Acho que os hormônios da menopausa provocam uma certa impaciência”.

Sempre que uma celebridade como Gisele faz o assunto ser tão comentado, outras mulheres se sentem mais à vontade para falar. Um dos casos sempre lembrados é o da atriz Gloria Pires, 61 anos, que engravidou de Cleo, 42, atriz como ela, aos 19, durante a relação com Fábio Jr. Casada de novo com o cantor Orlando Morais, teve mais três filhos, Anttónia, Ana e Bento — o caçula completou 20, uma diferença de mais de duas décadas para a primogênita, que acaba sendo um pouco mãe. Há um ano, Claudia Raia chocou muita gente ao anunciar, definindo-se “plena e preenchida”, estar grávida aos 56 — o que certamente demandou mais cuidados médicos, conforme estabelece a ciência, do que quando teve Sophia, de 21, e Enzo, 27. “É um avanço feminino ter liberdade para escolher o tempo da maternidade, mas ainda pesam o machismo e o etarismo contra elas, que têm suas decisões frequentemente questionadas”, observa a socióloga Daniela Rosa.

Continua após a publicidade
PROLE DE DUAS UNIÕES - A advogada Giovana Plantz, 
49 anos, teve Amanda (à esq.), 23, assim que se casou pela primeira vez. 
Do segundo matrimônio, vieram Guilherme, 10, e Gabriel, 8. “Hoje tenho mais estabilidade e me cobro menos”, diz
PROLE DE DUAS UNIÕES – A advogada Giovana Plantz, 
49 anos, teve Amanda (à esq.), 23, assim que se casou pela primeira vez. 
Do segundo matrimônio, vieram Guilherme, 10, e Gabriel, 8. “Hoje tenho mais estabilidade e me cobro menos”, diz (./Arquivo pessoal)

Interessante notar que ser mãe em etapas tão distintas da existência não é garantia nenhuma de ter todas as respostas na ponta da língua. A atriz Carolina Ferraz, 56 anos, mãe de Valentina, 29, e Isabel, 9, teve de se redescobrir com a chegada da caçula. “Hoje consigo ser mais presente. Antes, trabalhava demais”, afirmou a VEJA. “As duas são completamente diferentes. Isabel é uma criança com outro temperamento. É como se eu estivesse fazendo tudo de novo pela primeira vez”, resume. Como o mundo passou por tão radicais mudanças, a relação com os filhos também precisou se ajustar. “Não dá para achar que repetir a educação dada ao mais velho vai resolver”, enfatiza a terapeuta Lidia Aratangy.

Outro empurrão à maternidade em dois momentos tem a ver com a chamada síndrome do ninho vazio — uma sensação que às vezes faz o peito latejar quando os filhos vão crescendo e trilhando rumo próprio. A independência é desejável, sem dúvida, mas exige dos pais uma adaptação. E alguns encontram a resposta para a mudança tendo outro bebê. É verdade que há mais riscos envolvidos na gravidez depois dos 40, mas a evolução da medicina está aí para ajudar as mulheres. “Gestar é um grande esforço para o corpo, e a mulher deve estar com a saúde física e mental em dia”, ressalta o médico Isaac Moise, especialista em reprodução humana. Isso posto, que todas que decidirem se aventurar outra vez tenham um ótimo recomeço.

Publicado em VEJA de 8 de novembro de 2024, edição nº 2918

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.