CASACOR 2025 destaca a tendência dos espaços em harmonia com a natureza
Em meio às construções históricas e verde exuberante, foram construídos 72 ambientes de conexão com um lema: “Semear Sonhos”

“A arquitetura é a vontade de uma época traduzida em espaço.” A frase do alemão radicado nos Estados Unidos, Mies van der Rohe (1886-1969), é o mais bem acabado traço em torno de uma atividade sem a qual não haveria vida. Houve um tempo em que erguer casas e prédios era um modo de abrigar-se contra o mau humor da natureza, casulos de proteção das intempéries. Hoje, com o mundo a clamar pela sustentabilidade, o planeta em busca de socorro, trata-se de casar o lar com o ambiente ao redor, em respeito mútuo. Não é a simples possibilidade de ter plantas entre quatro paredes, mas fazer a residência conversar com a paisagem, em zelo permanente.
Eis a nova e duradoura tendência: espaços domésticos que respirem com as florestas, a luz do sol a entrar sem cerimônia e o canto dos pássaros rompendo a proteção das janelas — onde for possível, é claro, dada a expansão de metrópoles cinzentas, de planejamento urbano caótico. Há, contudo, trilhas de saudável renovação.

A 38ª edição da CASACOR, parte do portfólio da Editora Abril, que publica VEJA, é elegante registro desse momento, sediada no Parque da Água Branca, na Zona Oeste de São Paulo. Em meio às construções históricas e verde exuberante — 159 espécies de plantas e árvores, entre elas copas de pau-brasil —, foram construídos 72 ambientes de conexão com um lema: “Semear Sonhos”. É ideia sobejamente alcançada. “As pessoas olham para a flora e a fauna como uma fonte de ensinamentos e resiliência sobre o momento atual de plena transição climática”, diz Lívia Pedreira, curadora da CASACOR. “É resgate que nos ajuda a pavimentar o amanhã.”
Tome-se, como exemplo dessa estrada, uma linda instalação logo na entrada da mostra, o Ninho do designer croata Marko Brajovic, uma enorme estrutura de madeira e blocos retangulares que mimetizam os galhos de uma morada de aves. “Elas são os grandes arquitetos de nosso ecossistema na Terra”, diz Brajovic. Alguns passos adiante e desponta o Jardim Espelho dos Sonhos, da arquiteta Paula Varga. Os espelhos refletem a valsa de um grandioso pau-brasil. A silenciosa harmonia celebra o novo e o antigo, o clássico e o moderno. Outro destaque, como tapete vermelho a apresentar o conjunto de projetos: a Agglomerations, da artista Bruna Mayer, no Jardim Simbiose do escritório Kawai, que reúne cápsulas de vidro embebidas de microrganismos recolhidos no próprio parque, e que mudam de tonalidade ao contato das mãos. É fascinante.

O espaço, contudo, que melhor ilustra a toada da CASACOR, a um só tempo de pés no chão e imensa criatividade, é a Casa Viva, do designer de interiores Henrique Freneda, um cubo de vidro pousado no coração da mata, em jardim projetado pelo paisagista Luciano Zanardo. O lugar é 100% sustentável e funcional, sem desperdício de energia. São apenas 30 metros quadrados, sem fronteiras entre o que há dentro e o que vive lá fora. Freneda diz ter buscado inspiração em uma estrofe da poetisa Lena Gino: “Casa arrumada é assim: um lugar organizado, limpo com espaço livre para circulação e uma boa entrada de luz”. Impressiona a automação do canto, feita pela empresa Ponto On Automação, em jogo de luzes de mãos dadas com o controle ecológico. “Cuidamos para usar apenas as chamadas lâmpadas inteligentes, ideais para a preocupação com a sustentabilidade”, diz Rogério Vasconcelos, da Ponto On. É a tecnologia a favor de um manifesto necessário. As aceleradas novidades de controle doméstico conversam intimamente com as imposições do presente: o que acende precisa apagar quando está vazio, o controle do ar não pode ser em vão, como em uma sinfonia ecológica bem executada.
A CASACOR, viagem dentro da maior cidade do país, como uma ilha de inteligência, transmite nítida e compulsória mensagem: a inovação atenta à natureza é o caminho para viver melhor. Não há, nesse processo, ideias vãs de outro dia mesmo, de maquiagens que sugeriam cuidado com o verde, em truque para “fazer bonito”. A postura agora é outra, a de realmente costurar as pontas, o concreto, a madeira, os caules e as folhas. Como na máxima de Van der Rohe, o correto é montar espaços que combinem com os anseios de nosso tempo. É sempre bom estar atento a eles.
Publicado em VEJA de 30 de maio de 2025, edição nº 2946