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As velhas agências casamenteiras voltam à cena com a promessa de um diferencial

Elas vendem um nível maior de segurança nos encontros que o dos apps de relacionamento

Por Paula Freitas Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Júlia Sofia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 26 out 2025, 08h00

A busca pelo amor romântico acompanha a humanidade e, mesmo que a visão sobre ele vá mudando conforme as sociedades experimentam os ventos da modernidade, segue como uma ideia que já pôs muita gente de pensamento elevado a refletir. Na Grécia Antiga, Aristóteles (384 a.C.–322 a.C.) o definia como força motriz, um vínculo de admiração envolto em virtude, sem o qual a existência seria sem graça: “Quem encontra prazer na solidão é uma fera selvagem ou é Deus”, dizia o sábio grego. Tantas civilizações depois, as pessoas continuam a se lançar na procura do afeto vivido a dois, agora com a vantagem de ele ser menos cercado de tabus e aberto a uma bem-vinda diversidade de arranjos. Só que a caminhada, não raro, é tão árdua quanto a gincana de achar agulha em palheiro, ganhando complexidade nesta era à qual o sociólogo polonês Zygmunt Bauman batizou de a do “amor líquido” — título do livro em que trata da ligeireza dos laços firmados nos dias de hoje.

É nesse contexto que, nos anos 1990, deu-se o advento das agências casamenteiras, cujo serviço era justamente facilitar a caça por um par, negócio que floresceu na Europa e nos Estados Unidos e que desembarcou com tudo no Brasil. Verdade que o aparecimento de aplicativos de namoro como Tinder e Bumble, duas décadas mais tarde, seguido da pandemia, fez com que elas perdessem aquele impulso do início, embora tenham resistido às mudanças, já que a demanda nunca deixou de existir. Após certo marasmo, porém, o nicho casamenteiro deu uma boa sacudida, renovando a clientela que, de acordo com as duas maiores agências em operação no país, avança ao ritmo de 10% ao ano desde 2021 — sinal de vitalidade de um mercado global que deve chegar a 68 milhões de dólares até o fim da década. “Não prometemos casamento a ninguém. O que oferecemos são oportunidades reais dentro de um sistema controlado e seguro”, explica Sheila Rigler, fundadora da Par Ideal, com sede em Curitiba.

NA TELONA - Dakota Johnson e Pedro Pascal, em Amores Materialistas: deu match
NA TELONA - Dakota Johnson e Pedro Pascal, em Amores Materialistas: deu match (A24/Sony Pictures/.)

O crescimento dessas agências é embalado por uma turma que quer abreviar o tempo para encontrar a “cara-metade” (mesmo com o termo meio em desuso, é bastante repetido nesse universo), algo que muita gente ouvida por VEJA diz estar mais difícil agora. Uma parcela já acumulou dissabores em sua busca, dentro e fora dos apps de relacionamento, e prefere fazê-la em um ambiente de maior segurança, com direito a filtros que avaliam a afinidade entre os possíveis pombinhos (valores, estilo de vida, expectativas), além de um monitoramento completo da jornada — do primeiro papo no WhatsApp ao tête-à-tête para valer.

Os casamenteiros, como tais profissionais são conhecidos, só saem de cena quando os dois lados sinalizam positivamente. Do contrário, segue a busca, prevista por contrato para durar um ano, evidentemente renovável, com preços que começam em 1 200 reais, a depender do grau de “personalização”. As agências chegam a enviar funcionários a teatros, restaurantes e até igrejas para garimpar candidatos que podem se encaixar nas exigências de certo cliente e, quem sabe, dar aquele match. “Mandamos inclusive sugestões de local para o programa e observamos os desdobramentos de cada contato para ver se ambos estão satisfeitos”, conta Eliete de Medeiros, à frente da Eclipse Love, de São Paulo, a primeira do gênero aberta no Brasil, em 1991.

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Embora as estimativas de sucesso sejam razoavelmente altas (chances de 70% de engatar namoro em um ano, segundo a Eclipse Love), também é comum acontecer de não dar liga, como relata o advogado curitibano João Francisco Santos, 26 anos, que persiste na luta com o auxílio de uma agência. “Quero companheirismo, alguém para passar da primeira camada e com quem criar planos”, conta ele, que fez uma tentativa que não prosperou e, antes, navegou por apps de relacionamento sem conseguir superar ali a “superficialidade” da qual tenta escapar. No caso do empresário italiano Mauricio Grossi, 52 anos, morando entre Rio de Janeiro e São Paulo, foi a pressa contemporânea que o fez engrossar o grupo dos que colocam o destino nas mãos de casamenteiros. Entre idas e vindas, ele contabiliza oito anos de agência, período em que namorou algumas vezes. “Sei que com a idade fica mais difícil, mas acredito que vou achar alguém que me surpreenda e aceite entrar nessa loucura de viajar o tempo todo”, diz.

“BUSCO CONEXÃO” - O advogado João Francisco Santos, 26 anos, tinha receio de recorrer a uma agência, mas resolveu experimentar e gostou. “Elas unem ali pessoas à procura de compromisso, o que é cada vez mais raro”, diz.
“BUSCO CONEXÃO” – O advogado João Francisco Santos, 26 anos, tinha receio de recorrer a uma agência, mas resolveu experimentar e gostou. “Elas unem ali pessoas à procura de compromisso, o que é cada vez mais raro”, diz. (./Arquivo pessoal)

O tema chegou inclusive ao cinema, com o recente sucesso Amores Materialistas, estrelado por Pedro Pascal e por Dakota Johnson na pele de uma casamenteira que bate recordes de match para os que a contratam e vive, ela própria, uma relação que começa enquanto tenta recrutá-lo como cliente perfeito. Acaba, porém, nos braços do ex-namorado, pinçado sem a ajuda de filtros. O enredo varia, mas a multidão que busca uma mãozinha na tentativa de encurtar a trilha para o amor, seja em uma agência, seja nos apps especializados, é parecida em pelo menos um ponto: “Em geral, são pessoas com um pensamento mais lógico e racional e, por isso, procuram perfis específicos, diminuindo a idealização”, avalia Marta Souza, da Associação Brasileira de Psicologia.

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Elas e outros alertam que o contraditório é também desejável na trama do amor. “Precisamos tomar cuidado para que a procura pelo semelhante não exclua as diferenças que tanto nos desafiam”, pondera o antropólogo Bernardo Conde. Como não há fórmula matemática neste terreno de tantas incertezas e imprecisões, às vezes a receita desanda, em outras dá muito certo. “Todos os nossos encontros aconteceram de forma leve, descontraída. Éramos de fato compatíveis, como apostava a agência”, celebra o diretor-­executivo da área química Edson Linhares, 39 anos, casado há três. O segredo, segundo quem já quebrou muito a cara, é seguir na luta.

Publicado em VEJA de 24 de outubro de 2025, edição nº 2967

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