Aloha tropical: canoagem havaiana vira tendência no verão brasileiro
A prática não se restringe mais ao esporte e agora é explorada na forma de passeios em família nos mais diferentes tipos de roteiros pelo país

Olhe para o horizonte, solte um suspiro de espanto e celebre a beleza das canoas havaianas que pululam no litoral brasileiro no verão de 2025. Elas já singravam aqui e ali, desde o início dos anos 2000, a despontar como ondas, mas agora viraram febre. Lambem o alto-mar de Fernando de Noronha. Beijam o começo da noite em Boipeba, na Bahia. Estão no Ceará e no Paraná. Marcam como pontos coloridos o litoral paulista. São atraentes para famílias, adultos e crianças. O passeio de 1 hora, no Nordeste, vai de 100 a 300 reais por pessoa.
A prática da canoagem havaiana tem apelo estético inegável e é relativamente fácil: com alguns minutos de instrução, a maior parte das pessoas consegue sair remando e pode curtir um passeio de curta ou média duração, desde que em ritmo ameno. Uma regra: respeitar as orientações dos guias, que sabem distribuir os pesos dos corpos e, claro, evitam o estilo “com emoção”. O trabalho em equipe é essencial: cada pessoa embarcada desempenha um papel específico, desde o ritmo das remadas até a manutenção do equilíbrio. A dinâmica reflete um aspecto bonito da tradição polinésia, a cultura da colaboração, sinônimo de recompensa. Um dos hits da temporada são as expedições para ver o nascer do sol no meio do oceano. Na parada, dá para caprichar no registro do cenário instagramável e refrescar-se com um mergulho.

No Brasil, para além do movimento de aprendizes na temporada do calor, o impacto cultural e econômico da modalidade já é interessante. A criação de bases de treinamento e a organização de eventos esportivos estimulam o turismo e fomentam o engajamento com práticas sustentáveis. Em Noronha, por exemplo, há uma preocupação constante em alinhar a atividade aos princípios de conservação ambiental, garantindo que a exploração turística não comprometa os ecossistemas locais. A prática também tem atraído um público diversificado, que vai desde a turminha de férias, que parece estar em pedalinhos de lagos, até praticantes regulares, que veem na atividade uma forma de lazer integrada à natureza.
É gostoso e divertido, simples assim. Celebre-se também a rica e surpreendente história da peça e tem-se um pacote admirável. Conhecida como va’a em sua denominação original, a embarcação típica, com 14 metros de comprimento e equipada com um flutuador lateral chamado ama, foi projetada para enfrentar as adversidades do Oceano Pacífico. A estrutura, que inclui hastes chamadas iakos, conectando o casco ao flutuador, é exemplo da engenhosidade dos povos polinésios, que há mais de 3 000 anos a usa para explorar o vasto território insular. A silhueta alongada alia robustez e elegância. O design, concebido para enfrentar correntes e ventos fortes, é resultado de séculos de aperfeiçoamento.

Se você for passear em uma delas, por diversão ou esporte, é sempre bom beber da história. O bote, chamemos assim, cruza caminhos com grandes eventos históricos. Em 1778, o explorador britânico James Cook desembarcou no Havaí. Ali, a sobrevivência dos autóctones dependia da navegação em canoas, em busca de alimentos. Recebido inicialmente como um deus, devido a coincidências com rituais locais, Cook logo enfrentou a resistência de um povo dado a recusar a autoridade de uma coroa estrangeira, o que culminou na morte do explorador. Graças a esse espírito resiliente, a prática da canoagem havaiana virou ícone e não demorou a avançar para outras paisagens. Nas águas cristalinas de Fernando de Noronha ou na serenidade de Boipeba, é uma ponte entre o passado e o presente, resgatando conhecimentos ancestrais adaptados às exigências modernas. Aloha!
Publicado em VEJA de 24 de janeiro de 2025, edição nº 2928