A vida é uma festa: tendência atrai jovens a usar brilho durante o dia
A regra de usar estética luxuosa só à noite está sendo quebrada por jovens que, desprendidas de preconceitos, não estão preocupadas com julgamentos
Desde sempre, brilhos, plumas e paetês eram única e exclusivamente recomendados para ser usados à noite. Mesmo assim, jamais todos juntos, a não ser que o objetivo fosse atrair os holofotes — e eventuais olhares de desaprovação — para si. Agora, a regra está sendo quebrada por jovens que, desprendidas de preconceitos, não estão preocupadas com julgamentos. Ao contrário, questionam as convenções ou dão de ombros a elas. Desse movimento nasceu uma nova estética, a Night Luxe (noite luxuosa, em inglês), ou Euphoria, em referência à série do canal de streaming HBO Max. Ela é um dos principais assuntos das redes sociais — só no TikTok alcança mais de 48 milhões de visualizações.
A porta de entrada para a onda, é natural, são modelos, como as americanas Hailey Bieber e Charlotte Lawrence, e atrizes, como Marina Ruy Barbosa e Deborah Secco. A moda consiste em misturar brilhos com tecidos opulentos e sexy, como o veludo, o couro, o cetim e a renda, em looks finalizados com saltos altíssimos e maquiagem marcada. Luvas, meia-calça com texturas, espartilhos, sobreposições e peças largas combinadas a lingeries à mostra também fazem parte do visual.
Os tons preferidos são o dourado e o prateado. No entanto, há espaço para o preto e poucas pontuações de rosa ou vermelho. E muito, mas muito brilho. Não sem certa moderação, recomenda-se. “É fundamental ter bom senso”, diz o stylist Dudu Farias. Para usar roupas assim durante o dia o segredo é o que se chama de desconstrução. “O paetê pode ser combinado a um tecido não tão nobre de uma camiseta”, diz ele.
A intenção é clara: ir na contramão da That Girl, tendência que dominou 2021 pregando o politicamente correto extremo com meninas acordando cedo, fazendo ioga e meditação e se alimentando somente de opções saudáveis. A maré de agora vem acompanhada de um espírito irreverente de euforia depois da fase mais dura da pandemia de Covid-19 e de exaltação da vida. Não é a primeira vez que esse tipo de explosão de felicidade ocorre depois de períodos cinzentos da história. Ao final da I Guerra Mundial (1914-1918) e, em seguida, da pandemia de gripe espanhola, que se estendeu até 1920, vieram os anos loucos tão ricamente descritos por Ernest Hemingway em Paris É uma Festa.
Naquele início da década de 20, havia um anseio frenético por mais luz, fantasia e felicidade, captados pela sensibilidade da pena de escritores americanos como Hemingway e F. Scott Fitzgerald, que flanavam pela capital francesa e pela Cote d’Azur sem receio de nada, mergulhados em álcool. É verdade que o mundo não era propriamente uma festa naqueles tempos — basta lembrar que o nazismo e o fascismo começaram a germinar ainda naquela década —, tampouco o é agora. Contudo, acrescentar brilho ao cotidiano não faz mal a ninguém. E trata-se, enfim, de exalar alegria. Nas redes, a ágora de nosso tempo, quem é adepto se mostra em fotos tiradas em terraços de prédios, com champanhe, velas, tudo retratado com flashes e luzes distorcidas. A ideia é dar a impressão de que a felicidade está logo ali. Vai passar, talvez sim. Mas é preciso celebrá-la enquanto há clima.
Publicado em VEJA de 14 de setembro de 2022, edição nº 2806