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“A moda já deveria estar mais avançada”, diz Gloria Coelho

Uma das estilistas mais longevas do Brasil, ela completa 50 anos também (e ainda) como a mais inovadora, sempre com um olhar para o futuro

Por Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 19 set 2024, 13h15 - Publicado em 19 set 2024, 12h36

Além do talento, Gloria Coelho sempre teve vocação para a moda. Não à toa, é uma das estilistas mais longevas do Brasil, com uma carreira sólida e respeitada, que em 2024, completa 50 anos. Seu interesse pela moda, porém, vem de bem antes, quando ganhou uma caixinha de costura da mãe, Yollah Coelho, aos 6 anos de idade. “Minha longevidade vem por conta do meu amor pela moda e, por isso, só faço as coisas quando estou apaixonada por elas”, disse a estilista a VEJA.

Nascida em Pedra Azul, em Minas Gerais, Gloria se mudou para São Paulo na década de 1960 onde ingressou no Colégio Técnico Visual de desenhos de comunicação visual (IADE) para estudar corte, costura e bordado. Ali, já criava seus primeiros vestidos. Chamou a atenção, no entanto, uma camiseta-fralda inspirada no movimento hippie, que fez em conjunto com uma amiga e vendeu na Rua Augusta. Com o dinheiro, conseguiu ir para a Europa, onde comprou diversos tecidos para a confecção de mais peças nesse estilo, mas que se destacavam pelos tecidos, shapes, bordados e acabamentos.

Em 1974, fundou a marca G, com a irmã Graça Amazonas, na Rua Hungria, que se destacou pelas peças com corte e modelagem perfeitos. Nesse período, frequentou os cursos de Marie Rucki, fundadora do Studio Berçot, promovidos pela Rhodia no Brasil. Nos anos seguintes, já estabelecida como estilista, Gloria transformou a G em Gloria Coelho, pautada principalmente pelo minimalismo futurista, que virou marca registrada da marca, além de tecidos exclusivos como o TK, espécie de neoprene antibacteriano muito desejado entre suas clientes. “A moda conhecida é mais compreendida, mas eu sempre mostrei ideias novas e fazia as pessoas entenderem antes que chegasse para todos”, afirmou.

Confira entrevista com Gloria Coelho:

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50 anos de carreira não é pouca coisa e deve ter muitas histórias. Qual a sua lembrança mais memorável?

Minha lembrança mais memorável foi o convite que recebi do governo de Portugal para fazer uma exposição das minhas roupas no Museu da Cidade de Lisboa, em 2004. Foi incrível me senti valorizada, contrataram até um arquiteto para fazer a cenografia e uma passarela vermelha que atravessava o museu. Foi muito emocionante.

A moda passou por inúmeras transformações nesses 50 anos, principalmente, na última década. O que era a moda antes e o que é hoje na sua visão?

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A moda sempre se transforma.  Cada século, cada década tem um retrato, certas características, formas, volumes, matérias e cores. Tem também maquiagens e penteados, a música, o cinema as séries e os hábitos dos períodos. E é natural que continue se moldando a sua época, mas todos os dias as pessoas precisam de uma roupa e é em torno desse movimento que as coisas acontecem, então com as características do seu tempo, a moda é sempre importante, já que precisamos de roupas para tudo. Mas hoje, a moda deveria estar mais avançada, roupas que esfriam quando estamos com calor, estampas com movimento, roupas que vão trocando de cores.

Fala-se muito em longevidade. E você é uma das estilistas mais longevas da moda brasileira. O que significa isso para você?

A moda conhecida é mais compreendida, mas eu sempre mostrei ideias novas e fazia as pessoas entenderem antes que chegasse para todos. Minha longevidade vem por conta do meu amor pela moda e, por isso, só faço as coisas quando estou apaixonada por elas.

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Como consegue se manter tão relevante no mercado de moda, há tanto tempo? 

Estou no mercado da moda há tanto tempo porque eu gosto do que é novo e do que não existe ainda. Mostro bem antes para a elite da moda o que vai acontecer.

 

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Existe algum segredo de sucesso de Gloria Coelho?

Eu necessito viver o novo e meu sucesso vem do fato de que sou feliz. Por exemplo, sempre fui mal na escola, mas me dedicava ao que gostava mais, que me deixava feliz como arte, fotografia, cinema, corte e costura, astrologia – nessas, era a melhor aluna. Hoje, as coisas simples me fazem feliz, do vento bater em meu rosto e entrar no mar a criar meu filho e fazer uma roupa linda. Tudo isso me faz feliz e me faz ter sucesso.

Seu estilo permanece o mesmo, mas claro, como tudo, evoluiu. Se fosse fazer um raio x de Glória Coelho hoje, como definiria? 

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Minha década predileta são aos anos 1960 e por isso, tenho muitas referências de The Beatles, The Who, The Rolling Stones. Mas minha marca é conhecida por fazer roupas tecnológicas como uma calça que tem a mesma função de uma cinta e reduz 3% da celulite do corpo, além de se antibactariana, secar rápido, não esquentar no verão e ser boa para o inverno. A alfaiataria, por exemplo, é reconhecida pela construção utilitária, com designs que desafiam as barreiras do tempo, transformando-se em expressões universais de atitude e comportamento. As roupas de festa são notáveis pela fluidez e conforto, reflexo de inspirações que ultrapassam os limites do convencional.

Hoje se fala mais em moda feita por mulheres, mesmo sendo uma indústria já tendo sido dominada por estilistas homens. Qual a importância de mulheres como você fazer moda para mulheres? 

A história da moda sempre teve mulheres importantes como Coco Chanel, Elsa Schiaparelli, Scapparelli, Madame Vionet, Mary Quant, Rei Kawakubo e Viviane Westwood, para citar algumas. No Brasil, Clô Orosco e Maria Candida Sarmento, mulheres de diferentes períodos, mas que são artistas da moda – umas que sentiram seu tempo, outras revolucionárias. Criadoras atemporais. A mulher existe, simples assim.

Sua moda sempre foi vista como algo que olha para o futuro. Qual será o futuro da moda, na sua opinião? Como imagina a moda daqui a 50 anos?

Daqui a 50 anos, a moda vai continuar sendo importante e necessária, só que os recursos serão mais orgânicos, naturais, científicos e tecnológicos. Imagino coisas do tipo produtos ativos que colocados nas roupas, não deixam sujar; um chip em que se transforme como quiser de forma holográfica; que consiga ficar mais aquecida, mais resfriada, mais leve, de acordo com a temperatura corporal e ambiente; e se expressando com poesia. E assim, a vida vai continuar.

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