30% dos brasileiros acham aceitável espionar o parceiro digitalmente
Pesquisa aponta ainda que um em cada quatro brasileiros já foi ou está sofrendo um monitoramento abusivo por meio da tecnologia
Um estudo divulgado nesta quarta-feira, 25, mostra que, embora 70% dos brasileiros não saibam o que é stalkerware ou spouseware, ou seja, desconhecem a existência de programas espiões, que permitem saber a localização de alguém, ler troca de mensagens e escutar ligações telefônicas, 30% acham aceitável espionar o parceiro, por exemplo. O assunto é tema da pesquisa “Stalking online em relacionamentos”, da Kaspersky, que apontou ainda que um em cada quatro brasileiros já foi ou está sofrendo um monitoramento abusivo por meio da tecnologia.
“É importante dizer que esse tipo de programa para monitorar cônjuges permanece escondido da vítima”, afirma Raquel Marques, presidente da Associação Artemis e doutora em Saúde Coletiva pela Universidade de São Paulo (USP). “Neste contexto, faz sentido que o abusador conheça sua existência. Já a vítima não irá saber do que se trata. Juntando essas características, faz sentido o combate ao stalkerware focar também na proteção das mulheres”, completa.
Esse problema da perseguição como uma obsessão é tão sério no Brasil que ganhou a Lei 14.132/21 em 2021, aprovada em uma sessão do Senado dedicada a questões femininas, incluindo o aumento da violência doméstica durante o isolamento social na pandemia da Covid-19 e que colocou o Brasil como o quinto país com mais feminicídios no mundo.
Na pesquisa, 30% das pessoas que afirmaram conhecer o que é o stalkerware ou spouseware, há mais homens (32%) do que mulheres (29%). Já as respostas globais mostram uma diferença de 5%. Entre quem respondeu não conhecer, a diferença entre os gêneros é de 1% (50% homens – 51% mulheres, em um total de 50%). O restante (20%) não soube dizer ou não tinha certeza da resposta. Outro dado importante é a quantidade de pessoas que confirmaram ter sido ou ser vítimas de perseguição abusiva que utiliza a tecnologia: 25% confirmaram essa situação – entre os homens, 22% foram ou são vítimas, e entre as mulheres, 28% foram ou são.
O estudo indica ainda as formas mais comuns desse crime, com o monitoramento por meio do celular com 54% das respostas de quem foi/é vítima de stalking, o uso de dispositivos criados especificamente para fazer um monitoramento (36%), programas instalados em computadores (24%), espionagem por meio da webcam (14%) e dispositivos para casa inteligente (12%).
“Sobre as formas de perseguição online, é importante destacar que o programa stalkerware é instalado, na maioria das vezes, tendo acesso físico ao equipamento, por esse motivo o abuso é sempre feito por alguém próximo à vítima: cônjuge, familiar ou, em alguns casos, colegas de trabalho”, diz Fabio Assolini, analista sênior de segurança da Kaspersky no Brasil. Essa instalação ocorre de maneira discreta e sem o conhecimento da vítima.
“Os stalkerware disponíveis para baixar na internet tem recursos limitados, esses programas foram adequados para uma instalação simples como um jogo ou um programa para editar um texto. Já os softwares com mais recursos são criados e comercializados por empresas e exigem a instalação via acesso físico do dispositivo, com o desbloqueio do celular para obter total controle e acesso das funções”, explica o especialista, que destaca ainda as falhas de segurança no comportamento das pessoas que facilitam esse crime.
“Casais costumam informar a senha do smartphone uns aos outros e a pesquisa confirma isso (62% dos respondentes sabem a senha do parceiro e também informaram a sua). Outro hábito digital preocupante do ponto de vista da segurança é o compartilhamento de serviços como iCloud e Google Account entre membros da mesma família. 36% dos brasileiros fazem isso e essa é mais uma opção tecnológica para perseguir alguém, já que esses serviços têm recursos de localização geográfica, armazenamento de fotos na nuvem, entre outros recursos que podem ser explorados.”