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Walcyr Carrasco

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Meus fantasmas preferidos

Entre o esotérico e o científico, a vida no além me fascina

Por Walcyr Carrasco Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 8 jun 2025, 08h00

Pois é. Não acredito em fantasmas. Mas morro de medo deles. Impossível imaginar por que motivo alguém que passou desta para melhor (ou pior) ainda se preocupe em nos atormentar. Não entendo por que em vez de desfrutar o som das harpas dos anjos ou tomar banhos frios para acalmar o calor dos caldeirões, alguém que nunca conheci, e até pode ter vivido há séculos, preferiria vir me puxar os pés à noite (correndo o risco, ele próprio, de se assustar com meus roncos). Sendo franco, comecei com um texto mais bem-humorado para aliviar, já que o assunto me arrepia.

De fato, eu menti no início desta nossa conversa. Eu acredito em fantasmas. Possuo relatos familiares sobre a existência deles. Meus avós maternos moravam na roça em uma casa de madeira. Toda noite, ouviam uma entidade arranhando as paredes, sons de tropel de cavalos e tudo mais que um fantasma é capaz de fazer. Bastava acender uma luz e o som desaparecia, nenhum sinal do fantasma. Iam deitar novamente e lá vinha o dito-cujo atormentar a família. Cresci ouvindo o testemunho de meus avós, tios e minha própria mãe. Há outros relatos: quem visita castelos antigos ouve correntes se arrastando pelas escadas, não é? Eu mesmo já botei a culpa em fantasmas depois de comer um bolo inteiro de minha avó. Mas eu era menino e das crianças até os fantasmas perdoam fraudes estratégicas.

“Por que motivo alguém que passou desta para melhor (ou pior) ainda se preocupa em nos atormentar?”

Fala-se de casas mal-assombradas, retratadas em horrendas séries de TV, ou de sombras que passeiam pelas paredes de mansões antigas. Há quem duvide e dê risadas. Sou dos que acreditam, ai de mim! Mas acredito até em amigo que pede empréstimo, por que não vou crer em fantasmas? Já li várias explicações que ficam naquele caminho nebuloso entre o esotérico e o científico. Nas que tentam ser lógicas, fantasmas seriam energias que permanecem nos locais onde o ser humano viveu. Os séculos passaram e ele continua lá, sem se desprender do passado. Nas mais arrepiantes, trata-se de seres dispostos a me empurrar pela escada ou me trancar no banheiro enquanto a família viaja, na semana em que a água foi cortada. Brincadeira ou não, o fato é que algumas pessoas sentem energias estranhas, presenças malignas. Algumas vão parar em psiquiatras, tangidas por parentes incrédulos. Outras, em religiões que oferecem apoio e acolhem o fantasma como mais um membro da longa estrada da vida.

Agora que a ciência tangencia o impossível, não é de se imaginar que essas criaturas são dotadas de passaporte quântico? Capazes de atravessar a dimensão onde vivem para esta aqui? Mas a troco do quê? Os relatos são muitos, mas nem tão fascinantes: cemitérios são repletos de fantasmas. Sinceramente, para que sair do além para passear em cemitério? Tudo isso me levou a uma arrepiante conclusão. Se os fantasmas precisam brincar de assustar num contínuo Halloween, é por falta do que fazer. E, portanto, a Eternidade deve ser um tédio. Que horror! Queira ou não, um dia também vou para lá e, pelos sinais, será difícil me divertir um pouquinho.

Publicado em VEJA de 6 de junho de 2025, edição nº 2947

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