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E a vida continua

Chegou a hora de enfrentar os preconceitos com a velhice

Por Walcyr Carrasco Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 23 jan 2022, 08h00

Tive bons anos, produtivos e confortáveis. Até pouco tempo, eu acreditava quando diziam que não parecia ter mais de 50. Embora minha vaidade estranhasse não me acharem com 40. Fui tomando consciência e não foi uma coisa rápida. Eu achava ótimo ter direito a filas prioritárias. Vaga garantida em shopping. E mais uma série de vantagens que chegam com a idade. Tudo isso eu achava legal, porque também não acreditava ter a aparência dos prioritários. Até que um dia olhei a fila do avião. E lá estavam os idosos. Iguais a mim. Descobri: para o mundo, eu tinha me transformado em um senhor de idade. Os mais velhos são discriminados, e a gente nem percebe imediatamente o tamanho do preconceito. Mas, quando se fala que alguém é “velho”, é como se pertencesse a uma categoria menor na sociedade. E a dimensão da velhice muda com a idade de quem olha. Lembro-me de que, aos 20, uma amiga namorava um homem de 40. Diziam que era “velho”. Eu hoje tenho saudades dos meus 40. Amar alguém de mais idade pode ser inconcebível para quem tem o corpo em cima e a beleza da juventude. Empregos privilegiam os mais novos. Juventude é associada com dinamismo, energia. Há empresas que aposentam obrigatoriamente quem tem 60 ou pouco mais. Quanto mais envelhece, mais a pessoa fica descartável, embora talvez seja seu momento mais pleno de experiência e criatividade. Agora, na pandemia da Covid-19, houve quem perguntasse se valia a pena manter nos aparelhos os mais velhos. O preconceito da idade já recebeu até nomes: ageísmo e etarismo, entre outros.

“Nem levo em consideração piadas com minha idade. A gente não envelhece. Mas se recria”

A rotina da vida se transforma. Outro dia li na internet que depois dos 30 ressaca parece uma dengue. E 30 é tão pouquinho… De repente, quando viajo, há tanto remédio pra levar. Não estou falando de nada grave. Mas do “por via das dúvidas”. Vai que eu tenha não sei o quê… Tudo começou com um nécessaire, mas agora é uma malinha inteira, tentando abarcar todas as situações de emergência. Mas claro, se tenho alguma coisa… Precisa-se justamente do remédio em que ninguém pensou. Tenho muitas obrigações: 3 litros de água por dia, no mínimo; caminhadas… Dizem que para manter o cérebro ativo é bom aprender línguas. Outro dia estava procurando aulas de aramaico!

A paisagem em torno da gente vai sumindo. Perdem-se pessoas, de algumas não se ouve mais falar e um dia vem a notícia: “Você soube do fulano?”. O preconceito não é só dos mais jovens. Os próprios idosos se discriminam. Difícil ver o dono de uma empresa contratar alguém de sua própria idade. Muitos se atiram em procedimentos estéticos como se envelhecer não fosse parte de um processo da vida. Eu, você, todos nós estamos envelhecendo neste momento.

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As pessoas continuam lá com sua genialidade. Seu fascínio. Portanto, se me insinuam “você não tem mais idade para isso”, só sorrio. Nem levo em consideração piadas com minha idade. Não vou enfrentar essa discriminação. A gente não envelhece. Mas se recria. A vida é linda, e continua.

Publicado em VEJA de 26 de janeiro de 2022, edição nº 2773

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