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Walcyr Carrasco

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A vida na mão

O cardápio digital veio para ficar: e tudo o que couber no celular

Por Walcyr Carrasco Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 10h43 - Publicado em 7 Maio 2023, 08h00

Recentemente, houve uma onda de reclamações na internet contra o QR code. O argumento dos internautas foi que os cardápios deveriam voltar ao papel. Eu sempre me atrapalho nos restaurantes para acessar os cardápios digitais. Em um primeiro momento, concordei com as reclamações. Depois, refleti sobre as vantagens do digital. É sustentável, custa menos, não gasta papel. Aí, fui pensando… Nem dinheiro se usa mais em papel. Se tento pagar com dinheiro físico, o caixa nem tem troco. Pede: “Tem cartão?”. Não é preciso ter o cartão físico. Basta registrá-lo no celular, e pagar por aproximação.

Ninguém imaginaria, nos tempos em que o celular era um caixote, que ele se tornaria cada vez menor e que o universo caberia em seu interior. Aliás, em uma “nuvem” além do mundo físico. Hoje é possível pegar avião, se identificar, mostrar a carteira de trabalho, de motorista, planejar uma viagem, comprar uma casa, pedir comida, conhecer alguém, se apaixonar, e depois terminar o relacionamento. Tudo pelo celular. Sem dizer uma palavra. Basta digitar.

Já se fala em implantes de chips hiperinformados em nossos corpos, como um procedimento que será padrão. Nos chips, todos os dados, inclusive médicos. Discute-se que seria uma maneira de controlar a população. Mas já não somos controlados por algoritmos, inteligência artificial? Eu sinto que sou observado até por… Sim, ele mesmo, o celular. Basta falar ou pesquisar sobre, por exemplo, a Tailândia. Em seguida, surgem mensagens de pacotes turísticos, imagens sugestivas, culinária… da Tailândia. O programa identifica o que posso querer comprar.

“Ninguém imaginaria que o telefone se tornaria cada vez menor e que o universo caberia em seu interior”

A vida toda cabe dentro do celular. Chama-se um táxi pelo aplicativo, paga-se por Pix. Envio mensagens, participo de reuniões on-line. Ainda me espanto com escolas fazendo os estudantes decorarem datas. Não precisa. Mais importante que saber tudo sobre a viagem de Colombo é aprender a pesquisar. Sei que isso é assustador para muita gente. Mas quem se apaixonar por uma área de estudo tem o universo na mão. Basta clicar.

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É um mundo lindo, mas inesperado. Em minha infância (confesso que faz tempo), eu jamais imaginaria que existiria um aparelho, com todas as possibilidades dessa caixinha mágica. Quem se recorda dos interurbanos mediados por telefonistas? Muita gente nem sabe que existiu, mas era preciso discar, pedir a ligação para outra cidade e, às vezes, esperar horas para que fosse efetuada. Hoje, fala-se com o outro lado do mundo, em segundos.

Mas, se a vida toda cabe no celular, ela também pode sumir. Outro dia, fui pegar um voo. E… acabou a bateria. Todos os meus dados, meu saldo bancário, tudo se tornou inacessível. Pois é. O mundo foi adiante, evoluiu. Mas ainda dependemos da eletricidade.

Tudo pode desaparecer num problema técnico. Por isso não abdico de nossa velha amiga, a memória. Muitas vezes ela falha. Mas também guarda emoções que nenhum projeto tecnológico pode oferecer. Por enquanto.

Publicado em VEJA de 10 de maio de 2023, edição nº 2840

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