Relâmpago: Digital Completo a partir R$ 5,99
Imagem Blog

Viver com Ousadia

Por Luana Marques Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
A ansiedade pode se tornar sua maior força. A psicóloga Luana Marques, professora de Harvard, ensina como transformar o medo em ação e treinar a mente para vencer as incertezas pelo caminho.

Saí da pobreza e cheguei a Harvard: como agir com ousadia, apesar do medo

Em estreia como colunista de VEJA, psicóloga e professora da universidade americana compartilha trajetória e como é possível superar traumas e limites

Por Luana Marques
Atualizado em 10 abr 2025, 17h35 - Publicado em 10 abr 2025, 11h07

Para você, o que significa viver com ousadia?

Talvez seja finalmente marcar aquela conversa que vem evitando há meses com o chefe ou o parceiro. Ou colocar um ponto final numa relação que já não representa mais nada ou num trabalho que já não se preenche com propósito. Talvez seja parar de usar o cansaço como desculpa para mentir a si mesmo e não viver a vida que você sabe que merece.

Também pode ser mudar de cidade, mudar de carreira, mudar suas crenças… Para mim, viver com ousadia não é viver sem medo. É agir apesar do medo.

É dizer o que você sente, mesmo que sua voz trema. Fazer aquela ligação difícil em vez de empurrar para depois. Abrir mão de agradar todo mundo para honrar quem você realmente é. É encarar uma transição de carreira aos 40 ou começar a terapia aos 60.

Viver com ousadia é ter coragem de sair do piloto automático e escolher, todos os dias, uma vida mais intencional e verdadeira. É viver fora da zona de conforto, sempre alinhando suas ações do dia a dia com o que é mais importante para você.

Foi assim que saí da pobreza e me tornei psicóloga e professora em Harvard.

Então, muito prazer, sou Luana Marques, uma mineira de Governador Valadares que, há mais de 20 anos, atua como psicóloga, palestrante e docente na Harvard Medical School, em Boston, nos Estados Unidos, e autora do livro Viver com Ousadia (Editora Sextante). Quero convidar você a me acompanhar por aqui…

Continua após a publicidade

+ LEIA TAMBÉM: ‘A terapeuta foi a primeira pessoa a quem me atrevia a dizer: sou mulher’

Uma vida de traumas e ousadias

Cresci numa cidade pequena e com grandes traumas. Lembro de acordar e encontrar minha mãe com o olho roxo, tentando disfarçar e fingir que nada havia acontecido. Eu queria protegê-la, mas me sentia muito pequena, impotente, insuficiente.

Vivia em alerta constante, certa de que o mundo era perigoso e que ninguém viria me resgatar. Me despedia da minha mãe com o olho roxo e, quando ia para a escola, sentia tanto medo que tinha dificuldades de respirar.

Fui diagnosticada com asma. Mas os ataques pararam quando meus pais se separaram. Meu pai saiu de casa e nunca mais precisei da bombinha. O que eu tinha não era asma — eram ataques de pânico.

Não chegamos a morar em favela, mas precisamos dormir no sofá de conhecidos algumas vezes e comer por lá também. Se não fosse pelo meu padrasto, teríamos perdido a casa quando meu pai decidiu vendê-la.

Trauma, drogas e brigas foram as lições que eu vi (e vivi) como criança. Por muito tempo, tinha certeza de que minha vida acabaria ali. Mas a minha trajetória foi construída enfrentando cada “não” que a vida colocou no caminho — e fazendo isso com ousadia, como percebi depois.

Continua após a publicidade

Disseram que eu não tinha perfil para morar fora do Brasil. Que uma menina de Governador Valadares jamais daria conta de um intercâmbio. Graças ao meu padrasto e seu apoio financeiro que me abriu as portas, eu fui.

Quando cheguei aos Estados Unidos, chorei de frio — e de medo. Fui acolhida por uma família que também enfrentava o alcoolismo. Era como se meus traumas de infância tivessem atravessado o oceano comigo.

Como tinha uma crença nova, de que eu podia escolher um caminho diferente, tive coragem de pedir para mudar de casa. Escolhi ficar. Escolhi insistir.

Depois disseram que meu inglês nunca seria suficiente. Que entrar em uma universidade americana era impossível. Mas consegui. Fiz amigos. Dominei o idioma. Me integrei.

Disseram que uma mulher imigrante, com sotaque, não teria espaço nas grandes universidades. Eu insisti. Fiz mestrado. Doutorado. Virei pesquisadora, professora, esposa e, finalmente, mãe.

Continua após a publicidade

Cada “não” poderia ter me paralisado. Mas, com assertividade, determinação e trabalho, sem contar o apoio da minha mãe, da minha avó e do meu padrasto, transformei cada um deles em combustível com uma boa dose de ousadia.

Aos poucos, aquele lugar que parecia inalcançável virou solo fértil para crescer — e para ajudar outros a fazerem o mesmo.

+ LEIA TAMBÉM: ‘A vida digital já é um vício em si’

A psicóloga, a pesquisadora, a colunista

Na minha clínica de psicologia, atendi pessoas de todos os perfis: do bilionário ao ex-presidiário, do imigrante ao CEO, do estudante ao doutor acadêmico. Cada sessão, cada história, cada transformação que acompanhei me ensinaram algo novo e me provaram, uma vez após a outra, que é possível viver com ousadia.

Por isso insisto: você também pode viver com ousadia.

A ciência mostra que o nosso cérebro foi moldado para a sobrevivência, não para a realização. Diante do medo, ele grita: lute, fuja, esconda-se.

Continua após a publicidade

Não importa de onde você veio, quantos “nãos” já ouviu ou quantas vezes pensou em desistir. O que importa é o próximo passo. E, às vezes, o passo mais ousado é só aguentar o desconforto sem deixar que ele decida por você.

Só aceitei o convite para esta coluna porque acredito que você também pode treinar seu cérebro para viver com mais ousadia. Sei que é possível, porque minha trajetória, meus 20 anos de Harvard, mais de 140 artigos publicados e todos os pacientes são prova disso.

Podemos juntos treinar seu cérebro para que ele não reaja no impulso, mas escolha com intenção. Para que você pare de evitar o desconforto e comece a agir com propósito — guiado pelos seus valores, não pelo medo.

Não espere uma coluna repleta de termos técnicos e científicos. Espere uma coluna de como aplicar a ciência de forma prática na sua vida.

Antes de me despedir, uma confissão: demorei quase um ano para topar o convite da VEJA e lançar este espaço.

Continua após a publicidade

A crença de que eu não era suficiente tomou conta, a síndrome da impostora apareceu e velhos traumas bateram à porta. Mas viver com ousadia também é entender isso — que essas vozes internas podem até voltar, mas podemos escolher agir mesmo assim.

Mesmo com toda a experiência de vida e na profissão, escrevo este texto com meu cérebro gritando para me convencer de que não sou capaz. Mas escolhi não acreditar. E foi com uma boa dose de ousadia que decidi estar aqui, com você.

E, se você leu até aqui, quero fazer um convite especial: sinta-se à vontade para me escrever e contar… Como você costuma reagir no impulso e acaba se prejudicando? O que vem adiando e procrastinando, mesmo sabendo que deveria ser uma prioridade? O que tem te paralisado? Qual passo ousado você gostaria de dar, mas ainda não conseguiu?

Esta coluna será uma espécie de conversa semanal e eu gostaria que fizesse parte da sua jornada para viver com ousadia.

Essa jornada não exige perfeição. Só exige presença, prática e uma pitada de coragem. Estarei aqui, toda semana, para lembrar que não é preciso estar pronto — é preciso estar comprometido.

Comprometido com você. Com a sua verdade. Com a vida que você quer viver. Porque viver com ousadia não é um destino. É uma prática transformadora.

E ela começa agora. Com você.

Compartilhe essa matéria via:
Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 5,99/mês
DIA DAS MÃES

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai por menos de R$ 9)
A partir de 35,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a R$ 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.