‘Lady Macbeth’: filme inglês tem enredo de temperatura altíssima
Longa que estreia na quinta-feira (17) é uma versão de uma célebre novela russa do século XIX escrita por Nikolai Leskov

(Inglaterra, 2016) Vendida pela família junto com suas terras, trancafiada em casa e tratada de forma aviltante pelo marido e pelo sogro, negociantes ricos porém grosseiros, Katherine (Florence Pugh) é obrigada a todo dia arrumar-se a rigor e permanecer horas sentada à sala, como se fosse apenas um ornamento. Ela sente tanto tédio que adormece onde estiver. E, como não engravida — nem poderia, dado o desinteresse que vigora no leito conjugal desde as núpcias —, sua posição como senhora da propriedade é frágil. Até a empregada negra, amealhada no tráfico de escravos, aproveita-se da hora de escovar os cabelos da patroa, ou de apertar seu espartilho, para praticar mal disfarçadas agressões. Durante uma ausência prolongada de seus algozes domésticos, porém, Katherine impulsivamente se envolve com Sebastian (Cosmo Jarvis), trabalhador da fazenda, e algo desperta dentro dela com violência inaudita: ela não mais admite abrir mão do desejo e da oportunidade de ser dona de si, e chega a extremos impronunciáveis para garantir sua independência. Adaptada de Lady Macbeth do Distrito de Mtsensk, novela célebre publicada em 1865 por Nikolai Leskov (e em 1934 transformada por Dmitri Shostakovich numa ópera que Stalin pouco depois proibiu), a versão do inglês William Oldroyd transpõe a ação da Rússia para a Inglaterra do século XIX com grande efeito: atendo-se ao mínimo nos cenários e figurinos de época, aparando a narrativa até a carne e apoiando-se no desempenho formidável da protagonista, o diretor conduz com firmeza enregelante o enredo de temperatura altíssima.