Em ‘8 presidentes 1 juramento’, Carla Camurati revê democracia brasileira
Estreia da cineasta no gênero documental analisa os caminhos da política, das Diretas Já à posse de Bolsonaro – e o quão fundo é o buraco em que país caiu
Quando Tancredo Neves (1910-1985) agradeceu por ter sido o primeiro civil eleito à Presidência, durante o período de redemocratização do Brasil, ele aproveitou que estava no santuário brasiliense Dom Bosco para fazer uma prece às forças divinas. A mão esquerda foi à testa; a direita, lentamente, à barriga. Era um dos primeiros sinais das fortes e repetidas dores abdominais, que, sete cirurgias e um mês depois, resultariam em sua morte, no 21 de abril de 1985. Ele sequer tomou posse. De pronto, o vice-presidente José Sarney assumiu o cargo, e assim deu-se início ao fim da ditadura militar brasileira. O que aconteceu de lá para cá é tema de 8 Presidentes 1 Juramento – A História de um Tempo Presente, estreia da cineasta Carla Camurati no gênero documental, que chegou aos cinemas na sexta-feira, 19.
Das Diretas Já à posse de Jair Bolsonaro, Camurati percorre, via documentos de arquivo, os 35 anos de vitórias, promessas, decepções e escândalos que marcaram a democracia do país. O apanhadão cronológico de quase 2h30 revê os oito presidentes – Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff, Michel Temer e Bolsonaro – partindo tanto dos juramentos que fizeram diante da Constituição, quanto do espírito popular de cada época. Vê-se, por exemplo, os Caras Pintadas que exigiram o impeachment de Collor, os flash-mobs que exigiram o de Dilma, a heroicização de Sergio Moro e o furor do movimento Ele Não, embebido nas tensões do assassinato da vereadora Marielle Franco, em 2018.
O grande porém é até onde as narrativas vão. Por não incluir os três anos de governo de Bolsonaro, o recorte deixa de lado não só a pandemia, mas os vazamentos de conversas sigilosas de Moro que colocaram em xeque a reputação do então juiz e da Lava-Jato como um todo. Às vésperas de 2022, e numa semana marcada pela formalização da candidatura do paranaense à presidência, 8 Presidentes 1 Juramento escancara como a política brasileira é uma peça em constante (e veloz) mutação.
Sem narração, mas conduzido por uma tela preta com dizeres grafitados em verde-neon, o documentário, de início, é uma análise teoricamente neutra sobre os caminhos que a política brasileira percorreu até aqui. Mas, dado o histórico de Camurati e sua estreia no cinema com o satírico Carlota Joaquina (1995), o saldo é um pessimismo latente quanto ao buraco em que país se enfiou. Soa acadêmico, e, por parar antes do estouro da pandemia, incompleto – mas, não por isso, menos essencial para se entender o Brasil de hoje.
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