‘Benzinho’: filme mostra que o sentido da vida está nas pequenas coisas
Os outros (muitos) encantos da produção nacional advêm da sintonia notável entre a direção, o roteiro e as interpretações
(Brasil/Uruguai, 2018. Já em cartaz no país) Da residência caindo aos pedaços, em que a torneira jorra sem parar e a porta não abre nunca, Irene (Karine Teles) vislumbra a casa nova da família, que está em construção, mas ainda inabitável: falta dinheiro para terminar a obra — e para comprar roupas para a criançada, e para livrar a loja do marido, Klaus (Otávio Müller), da falência iminente, e para qualquer coisa mais. Nos cômodos apertados, palco de uma movimentação incessante, espremem-se os gêmeos pequenos, o filho mais velho, Fernando (Konstantinos Sarris), o do meio, Rodrigo (Luan Teles), que toca tuba na banda da cidade, e Sônia (Adriana Esteves), a irmã de Irene, que veio com seu filho refugiar-se do marido violento. Klaus quer vender a casa de praia da família; Irene recusa-se. Está agarrada a tudo, agora que recebeu a notícia de que o primogênito Fernando vai partir para a Alemanha em três semanas, com uma bolsa de estudo, para jogar handebol. Da locação em Petrópolis (cidade natal da atriz principal), na serra fluminense, onde sobrevivem costumes interioranos como desfile de banda, ao elenco e à equipe criativa, Benzinho é um affair entre família e amigos: Karine Teles assina o roteiro junto com o diretor Gustavo Pizzi, seu ex-marido e pai dos meninos Arthur e Francisco, que fazem os gêmeos irrequietos; Müller e Mateus Solano — este no papel do intempestivo técnico do time de handebol — são velhos amigos; e Adriana Esteves e Karine poderiam ser irmãs de fato, tal a naturalidade da ligação entre elas. Essa sensação das coisas vividas e intimamente conhecidas perpassa por todo o filme e é um dos seus encantos genuínos. Os outros (muitos) encantos de Benzinho advêm da sintonia notável entre a direção, o roteiro e as interpretações, que depuram a simplicidade da história até torná-la algo precioso — uma afirmação de que é no tumulto do dia a dia, nos pequenos gestos, nas mínimas conquistas e nas tristezas banais que reside o sentido verdadeiro da existência.