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Música sem preconceito: de Beethoven a Pablo do arrocha, de Elis Regina a Slayer

Uma “nova” banda chamada Queen

Live at the Bohemia, que será exibido nos cinemas em sessões especiais, mostra o quarteto antes do estouro de Bohemian Rhapsody

Por Sérgio Martins Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 jul 2020, 22h49 - Publicado em 5 Maio 2016, 19h27

Queen 3_(c)Douglas PuddifootUm dos melhores críticos de música de todos os tempos, o inglês Nick Kent dizia que o Queen representava tudo o que ele mais odiava no rock: pouco tinha a ver com a simplicidade a qual o gênero se propõe. Realmente, o grupo formado por Freddie Mercury (vocais), Brian May (guitarra), Roger Taylor (bateria) e John Deacon (baixo) não nasceu para agradar Kent, fã de um rock’n’roll direto – não à toa, saudou de bom grado o surgimento do punk – e de bandas como Led Zeppelin, que tiveram o blues como nascente. O Queen era pomposo e teatral, mais identificado com o teatro vaudeville inglês do início do século passado do que os bluesmen do Delta do Mississippi. But… who cares? Eram músicos fora-de-série e Mercury foi um dos melhores e performers que presenciei em cima de um palco. Capaz de comandar um karaokê humano ao som de Love of My Life (como fez no estádio do Morumbi, em março de 1981, e no Rock in Rio, em janeiro de 1985) e interpretar com sentimento letras que aparentemente não faziam sentido algum – por exemplo, alguém já tentou entender o que significa Bohemian Rhapsody? Eu os vi no Rock in Rio e foi como reencontrar uma velha paixão. Hot Space, de 1982, marcou o início da decadência deles e me fez procurar outras alternativas musicais. Mas antes disso fui um devoto fervoroso: tinha um Greatest Hits de 1981 comprado na Prodisc do Shopping Balneário, em Santos, ganhei o ao vivo Live Killers (1979) de presente de natal e pedi o News of the World (1977) de presente de aniversário. É até hoje o meu predileto, não por causa dos hits (We Will Rock You/We Are the Champions), mas sim por Spread Your Wings, balada linda de John Deacon, e duas das melhores criações de Brian May, o blues Sleeping on the Sidewalk e a tristonha All Dead, All Dead (durante a entrevista que fiz com o guitarrista para a divulgação do musical We Will Rock You, falei de como amava aquelas canções. Ganhei um “you know your stuff”, algo como “você sabe do que está falando!).

O Queen está de volta aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, dia 05, e terça-feira, dia 10, em sessões especiais das redes Cinemark e UCI. Será exibido o show Queen: a Night at the Bohemia, precedido por um pequeno documentário que conta a trajetória da banda do início de carreira até o sucesso do álbum A Night at the Opera, de 1975. Brian May e Roger Taylor, em entrevistas atuais (John Deacon virou um recluso e Mercury não fala com a imprensa desde novembro de 1991 – desculpe a ironia), falam da formação do quarteto e de como foram enganados por empresários e esnobados pela gravadora até o sucesso comercial de Bohemian Rhapsody. Por exemplo, embora fizessem um estrondoso sucesso no Japão, os quatro viviam de salários pagos pelo escritório que os gerenciava. A gravadora, por seu turno, não acreditava no sucesso comercial de A Night at the Opera a ponto de exigir que o single de Bohemian Rhapsody fosse retalhado para ser aceito pelos programadores das emissoras de rádio. Deacon se propôs a fazer o serviço sujo e tirou toda a parte operística da canção (sim, justamente a parte operística!). O grupo, no entanto, bateu o pé e exigiu que ela fosse executada na íntegra. O resto, bem, o resto é história.

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O documentário é complementado por uma apresentação do Queen no Hammersmith Odeon, em Londres, no Natal de 1975. E vale MUITO a pena assistir porque ele traz um grupo muito diferente ao que estávamos acostumados a assistir. Porque existe o Queen soberano dos palcos, cheio de hits e com uma plateia cantando absolutamente tudo. O Queen de Live at Bohemia busca seu lugar ao sol, tem músicas desconhecidas do público das paradas de sucesso – ainda que Keep Yourself Alive, Now I’m Here e Seven Seas of Rhye frequentaram por um bom tempo o set list dos concertos do quarteto – e toca com uma agressividade que seria cada vez mais raras nas apresentações nos períodos de sucesso (embora elas também fossem inesquecíveis). Mercury se esforça para agradar a plateia, Taylor revela que tocou gripado (não fugiu do compromisso porque sabia da importância daquele evento). E se no bis o medley de rock’n’roll composto por Jailhouse Rock/Stupid Cupid/ Be Bop a Lula soa OK, é em canções como Big Spender (tema do musical Irma La Douce) que o vocalista se mostra dono do palco e faz jus à sua teatralidade. E no meio de um repertório desconhecido para quem conhece o Queen somente a partir de 1975, ele pinça uma canção nova, uma certa Bohemian Rhapsody. Nem o próprio Freddie Mercury deveria imaginar que aquela música mudaria tudo na carreira do Queen. Abaixo,  a entrevista com Brian May.

 

 

We Will Rock You recebeu algumas das piores críticas da história dos musicais. Por que é um sucesso?

Minha trajetória no Queen me acostumou a críticas negativas. Tudo o que é novo e quebra barreiras acaba sofrendo algum tipo de contestação. We Will Rock You foi tão criticado quanto Les Misérables, e ambos são um sucesso de bilheteria.

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Foi difícil adaptar as canções do Queen ao enredo do musical?

Não. A trama tem muito a ver com as letras do Queen, que sempre falaram de liberdade de expressão e do exercício da individualidade. Hits como I Want to Break Free ou I Want It All pareciam compostos especialmente para o musical. Fizemos algumas adaptações, com uma ou outra mudança nas letras de canções como Radio Ga Ga e One Vision. O resto é puro Queen.

Vocês nunca pensaram em fazer um musical enquanto Freddie Mercury era vivo?

Em 1986, cheguei a comentar com os outros integrantes do Queen sobre a possibilidade de fazermos um musical. Mas eles foram contra. Depois, Freddie Mercury morreu e senti que precisava fazer algo para manter viva a chama do grupo, para que nossas canções permanecessem no dia a dia das pessoas. Jim Beach, nosso empresário, foi fundamental para que o musical acontecesse.

O senhor fala sobre o Queen como se ninguém mais se lembrasse da banda, que ainda é muito tocada em rádios.

Sim, o Queen está presente na cultura pop ainda hoje. Sabe, acho que o segredo foi tratar de assuntos com os quais as pessoas podiam se identificar. Falamos de paixão, frustração, problemas no dia a dia. Nossas letras raramente eram sobre vidas glamourosas. E não era fácil emplacar uma música em um disco do Queen. Pense em quatro pintores trabalhando na mesma tela. A gente se reunia, cada um mostrava o que tinha de melhor e defendia sua criação com unhas e dentes. O vencedor ganhava o direito de opinar até sobre a mixagem do álbum.?

O senhor e o baterista Roger Taylor retornaram aos palcos com o vocalista Adam Lambert, calouro do programa American Idol. Seria uma tentativa de conquistar um público mais jovem?

Nunca pensei nisso. Em 2009, eu e Roger participamos da final do American Idol, na qual Adam Lambert cantou músicas do Queen. Ele não foi o vencedor, e acho que o lobby antigay que impera nos Estados Unidos colaborou para essa derrota. Mas recebi um monte de e-mails de fãs dizendo que ele tinha de cantar conosco. Marcamos então três shows, para ver o que aconteceria, e estamos juntos até hoje. Depois da morte de Freddie Mercury, pensamos em várias opções para substituí-lo no Queen. Uma delas foi Robbie Williams, porém o empresário dele deve ter se assustado com a nossa proposta, porque nunca mais falou conosco. George Michael foi outra opção. Paul Rodgers, com quem chegamos até a gravar um disco, realçou o lado mais roqueiro da nossa trajetória. Adam Lambert, no entanto, é mais completo. Primeiro, ele canta demais. Depois, é engraçado, afetado, interage muito bem com a plateia, mas sem nunca imitar o estilo de Freddie. Acho que as pessoas estão gostando, pois nossos shows andam lotados. E se não gostarem… Bem, não obrigo ninguém a nos ver.

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Adam Lambert, como Freddie Mercury, é gay. O senhor acha que a mentalidade das pessoas em relação à homossexualidade mudou no tempo entre um e outro cantor?

Se mudou, foi para pior. Adam é muito criticado por ser gay. Nos anos 1970, quando o Queen surgiu, as pessoas não ligavam muito para o fato de o sujeito ser ou não ser homossexual. Vamos combinar que o nome Queen (Rainha) era um bom indicativo de sermos um grupo simpático à causa gay. E Freddie sempre foi muito aberto. Eu me lembro de uma entrevista para o semanário New Musical Express em que a repórter perguntou: “Freddie, você é gay?”. E ele: “Sim, minha querida. Gay como uma florzinha”. E ninguém ficou alarmado com isso.

O senhor é formado em astronomia. Considera-se um nerd?

Bem, pode-se dizer que eu era um adolescente nerd. Estudava astronomia, adorava matemática, dava aulas da matéria, gostava de estereoscopia. Larguei a astronomia para tocar no Queen, mas retomei anos depois. Fiz um doutorado em 2006 e hoje consigo conversar com gente da Nasa. Não me considero um astrônomo fora de série, mas posso dar palpites.

Como anda o projeto de um filme sobre Freddie Mercury? Consta que tem havido problemas de produção.

Olhe, quando pensamos em fazer uma cinebiografia de Freddie Mercury, vimos que só haveria uma chance para realizar um grande filme. Por isso, tivemos diferentes roteiristas e colaboradores, para que o filme seja fiel ao espírito de Freddie e assim se torne um ótimo trabalho. Inicialmente, pensamos em Sacha Baron Cohen para o papel principal. Ele chegou a dar algumas boas ideias, porém assistimos a Os Miseráveis, A Invenção de Hugo Cabret e O Ditador e concluímos que ele não era a pessoa certa para o filme. Não que Freddie não fosse engraçado, mas ele também tinha um lado profundo, e Sacha poderia levar a história para a caricatura. Optamos então por Ben Whishaw. O filme será centrado na vida de Freddie, mas obviamente vai mostrar muitas situações com o Queen. É curioso vivenciar isso, porque numa cinebiografia há cenas em que o personagem passa por situações que não são exatamente iguais às que vivemos. Volta e meia eu pego o roteiro e penso: “Mas eu não falei desse jeito, não foi assim que aconteceu!”. Se tudo der certo, as filmagens começarão no fim do ano.

Há cinebiografias que o senhor considera perfeitas?

Sim, Amadeus é um dos meus filmes favoritos. E Johnny & June, que conta a história de Johnny Cash.

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E quem vai interpretar o senhor?

Eu ainda não sei. Ouvi falar em Leonardo Di Caprio, mas disse a ele: “Desculpe, Leo, não vai rolar. Você não é bonito o suficiente”.

 

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